Óleo de cozinha deve ser reciclado

Óleo de cozinha deve ser reciclado

Os problemas com o afloramento do esgoto na avenida das Rendeiras, na região da Lagoa da Conceição, em junho de 1998, resultaram num projeto ambiental em toda Grande Florianópolis, conhecido como ReÓleo, que consiste no reaproveitamento do óleo de cozinha transformando-o em outros produtos, como sabão, massa de vidro e biodiesel. O programa foi criado pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e hoje atinge 200 restaurantes da região.

A engenheira ambiental da Acif, Maria Ballão, explica que, antes do projeto, os restaurantes da Lagoa despejavam o óleo saturado na rede de esgoto sem nenhum trabalho de reciclagem. Com isso, o óleo se acumulava no esgoto e provocava entupimentos nas estações de tratamento (ETEs), gerando o estouro dos reservatórios em diferentes pontos. “Essa ação atingia o lençol freático quando o óleo era despejado no solo e na água ou despejado nas pias e vasos sanitários”, diz.

Para resolver esse problema, uma ex-diretora da Acif desenvolveu, em 1998, um projeto que reaproveitava o óleo utilizado nos restaurantes da Lagoa, dando a eles uma destinação ecologicamente correta.

Atualmente, a reciclagem é feita por uma empresa paranaense, a Ambiental Santos, que contratou uma outra empresa de transporte: a Janeiro Transportes para buscar os bombonas (galões de óleo) nos restaurantes da cidade.

Todo material recolhido é levado para a Companhia de Melhoramento da Capital (Comcap) e armazenado no local. A cada 15 dias, a Ambiental vem buscar os óleos armazenados e os leva para o Paraná, onde são transformados em outros produtos.

Marina diz que os benefícios dessa conscientização são inúmeros e trazem conseqüências positivas não só pela questão ambiental, mas também para a melhoria da saúde da população que tende a consumir produtos com menos gordura.

Comerciante se cadastra em projeto

A proprietária do “O Gourmet Hamburgueria”, no Centro de Florianópolis, Marjorie Hauffe, diz que utiliza cerca de três litros de óleo por semana para fritar batatas e já tem cerca de 20 litros de óleo armazenados para ser entregue para a reciclagem.

Ela conta que antes de fazer o cadastramento no programa da Acif, o seu marido levava as sobras do óleo para um restaurante na Lagoa, onde o processo de reciclagem já é fei-to há nove anos.

Para o coordenador de relações exteriores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), do Continente, Luiz Antônio da Rocha Andrade, o projeto de reciclagem através do ReÓleo é muito importante para a questão ambiental. Isso fez com que a escola aderisse ao programa com as aulas do curso técnico de gastronomia.

Como o curso começou neste ano, a produção de alimentos será iniciada a partir deste mês, quando começam as aulas práticas nas cozinhas experimentais. Andrade diz que os resíduos de óleo já estão sendo separados.

“Será uma experiência muito gratificante, pois os alunos vão ver na prática o que precisa ser feito com o óleo para não agredir o meio ambiente, sem contar que aprenderão os benefícios à saúde da sua correta utilização”, disse.

Para participar do programa basta entrar em contato com a Acif Central ou uma de suas regionais: Acif Centro (3224-3627), Acif Lagoa (3232-0185), Acif Ingleses (3269-4111), Acif Continental (3244-5578), Acif Canasvieiras (3266-2910).

Saiba mais

Benefícios
• Preservar os recursos hídricos
• Preservar os ecossistemas
• Reduzir a quantidade de gordura no sistema de coleta e tratamento de esgoto, melhorando sua eficiência
• Promover a educação ambiental nas comunidades

O que fazer
• Jamais despeje o óleo de cozinha usado no ralo da pia, no mar ou na rede de esgoto
• Acondicione o óleo já frio em garrafas PET
• Leve o óleo recolhido aos pontos de coleta para reciclagem ou coloque-o no lixo. É melhor do que despejá-lo diretamente na pia

Acif recolhe 200 mil litros no primeiro semestre

Dados da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) apontam que somente neste primeiro semestre do ano foram recolhidos mais de 200 mil litros de óleo na cidade. Se o material fosse jogado diretamente no meio ambiente, haveria a contaminação direta de 200 milhões de litros de água. Entre os efeitos danosos do óleo ao meio ambiente estão a formação de uma película superficial, que dificulta a troca gasosa entre o ar e a água, provocando a morte de plantas e animais aquáticos, além da impermeabilização das raízes das plantas, impedindo a absorção de nutrientes. Os derrames de óleos diminuem também o oxigênio dissolvido e a incidência de luz solar.

Além da toxidade, a temperatura do óleo sob o sol pode atingir 60º C, matando os animais e vegetais microscópicos. Quando ocorre a decomposição desses óleos e graxas por microorganismos aquáticos, há uma redução do oxigênio dissolvido da água, elevando a demanda biológica e bioquímica do oxigênio.

Outro problema é o aumento excessivo na quantidade de nutrientes, que provocam a proliferação de alguns tipos de algas.


Comunidade pode participar

Não são somente as empresas que podem aderir ao projeto de reutilização do óleo. Para as pessoas que fazem muitas frituras no dia-a-dia e não sabem o que fazer com a sobra do óleo, a dica é separá-lo em garrafas pets e entregá-las para os caminhões que recolhem os lixos recicláveis.

Caberá aos coletores o encaminhamento do material para o armazenamento na sede da Companhia de Melhoramento da Capital (Comcap). Outra opção pode ser a entrega direta na unidade da Associação Comercial Industrial de Florianópolis (Acif), em Ingleses.

Os nutricionistas alertam que o óleo de fritura nunca deve ser reutilizado, pois após o primeiro uso ele perde as características originais e fica com um aspecto escurecido, o que já é um dos sinais de que ele não deve ser utilizado novamente.

Quando a gordura é reutilizada formam-se compostos químicos capazes de irritar a parede do intestino e levar a um desarranjo intestinal.

“Se o óleo estiver escurecido, avermelhado ou marrom e com excesso de resíduos no fundo do tacho, ele está velho”, explica a nutricionista Gláucia de Andrade Rolim de Souza.
A formação de espuma ou de fumaça no óleo denunciam uma temperatura alta demais, o que favorece a formação de radicais livres.

Estudante implanta programa piloto de educação ambiental

Em julho de 2002, o projeto ganhou contornos educacionais ao contar com o auxílio de uma estudante de engenharia sanitária e ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que implantou um programa piloto de educação ambiental na região da bacia hidrográfica da Lagoa da Conceição, envolvendo crianças da 1º a 8 º séries do ensino fundamental.

Neste mesmo ano, foi lançado um concurso regional para a criação de um símbolo para a campanha do ReÓleo. que se repetiu até 2005.

Os resultados positivos do projeto da Acif renderam um convite para a participação da associação, entre os dias 5 e 6 de junho deste ano, na 1º Feira de Inovações em Materiais Ecologicamente Corretos, em Erechim, no Rio Grande do Sul, já que a cidade gaúcha pretende implantar um programa semelhante ao catarinense.

Para o presidente da Acif, Dilvo Vicente Tirloni, o trabalho deve ser expandido nos próximos anos para os condomínios.

Ele explicou que por falta de opção é comum as donas de casa jogarem o óleo após o uso no vaso sanitário. “Um litro de óleo polui um milhão de litros de água, por isso devemos nos conscientizar sobre a importância de separar esse material para a reciclagem”, defendeu.

(André Luís Cia, A Notícia, 08/09/2007)