Estudos da UFSC apontam estreitamento da faixa de areia das praias de Florianópolis

Estudos da UFSC apontam estreitamento da faixa de areia das praias de Florianópolis

Erosões ocorrem em pontos isolados, principalmente em Canasvieiras, Daniela, Barra da Lagoa, Campeche e Armação, mas pode avançar

A ação da natureza aliada à interferência do homem tem acentuado o processo de erosão das praias resultando no estreitamento das faixas de areia dos balneários da Ilha nos últimos 50 anos. Estudos realizados desde o início da década de 90 pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) comprovam que algumas praias da Capital têm perdido tamanho de faixa de areia e soluções para conter o avanço do processo erosivo são essenciais. Visto do alto, por meio dos sobrevoos durante as reportagens produzidas com o auxílio do helicóptero da RIC Record, o Águia Prateada, o estreitamento de algumas praias de Florianópolis fica ainda mais evidente.

De acordo com o professor do departamento de Geociências da UFSC e coordenador do curso de Oceanografia, Norberto Horn, a erosão ocorre em pontos isolados – especialmente em Canasvieiras, Daniela, Barra da Lagoa, Campeche e Armação – mas, sem contenção, pode avançar para as praias vizinhas. “Ainda é cedo para afirmar que a Ilha está perdendo tamanho, mas é evidente que algumas praias estão perdendo faixa de areia. A solução não pode ser emergencial. Precisamos pensar 50, 100, 150 anos à frente e atacar os pontos erosivos com estruturas bem pensadas”, afirma Horn.

Para ele, a solução passa por obras que implantem estruturas rígidas – como enrocamentos, mas diferentes do realizado na Armação, “uma simples contenção do mar com rochas”, segundo Horn – conjugadas com engordamento artificial da praia. “Com sedimentos realmente semelhantes aos que já existiam”, ressalta o geocientista. Horn explica que os estudos realizados pela universidade têm o objetivo de conhecer o comportamento das praias, através de monitoramento mensal ou quinzenal, baseados em três fases, o relevo (que mostra a erosão e deposição de sedimento), o tamanho do grão de areia e a hidrodinâmica, levando em consideração as correntes marítimas, ondas, marés e condições do vento.

Parceria pode por em prática o conhecimento produzido

Os estudos da UFSC têm mostrado nas últimas duas décadas o quanto a ação do homem e da natureza pode interferir na erosão ou deposição de sedimento nas praias da Capital. No entanto, a produção do conhecimento sem aplicação na prática não mudará o quadro atual. Neste ponto entra o poder público que tem autonomia e orçamento para executar as obras necessárias. Uma parceria entre a UFSC e a Prefeitura da Capital especificamente sobre este tema ainda não foi formalizada.

“A prefeitura não tem conhecimento oficial dos estudos que estão sendo feitos pela universidade, mas estamos abertos para parcerias. A presença da universidade sempre foi importante para o município”, avalia o secretário de Obras da Capital, Luiz Américo Medeiros. O pesquisador Horn também reconhece a necessidade de se “estreitar as parcerias” entre as duas instituições para ampliar o debate sobre o estreitamento das faixas de areia.

Conforme Medeiros, o município já contratou uma empresa para fazer um estudo de engordamento do trecho de 1.600 metros da praia da Canasvieiras e um pedaço da Cachoeira do Bom Jesus, mas a Fatma (Fundação do Meio Ambiente) solicitou estudos complementares. Na Armação, será finalizado em janeiro um termo de referência que dará ao município as diretrizes técnicas e financeiras sobre o projeto de urbanização do molhe e recuperação da praia, com previsão de licitação ainda em 2011.

Investimento em estudos é primordial

Segundo o presidente da Agesc (Associação dos Geólogos de Santa Catarina), Rodrigo Sato, investir em estudos que identifiquem as causas da erosão é primordial. “Apenas o engordamento da praia é uma solução paliativa. Se você repor a areia e não atacar a causa, vai continuar erodindo”, declara.

Conforme Sato, após a análise individual dos balneários, os dados devem ser lançados em uma planilha global para mensurar o grau de interferência da ação natural e da ação humana. A partir da identificação da origem do problema tanto os pesquisadores quanto o poder público poderão apontar as soluções mais adequadas.

(Maiara Gonçalves, ND, 04/02/2011)