24 jan Jurerê: Preferência internacional
Sol, mar, festas, bebidas caríssimas, aluguel de lanchas, mansões e helicópteros: Jurerê Internacional é um mundo à parte
Uma faixa de praia de dois quilômetros na América do Sul consome mais champanha do que qualquer praia no mundo, inclusive da França. A praia em questão é Jurerê Internacional, em Santa Catarina. Fenômeno do verão brasileiro – já não vem de hoje, mas de alguns verões –, nesta temporada os fatos comprovam: se consolidou como um dos roteiros dos bem nascidos internacionais.
– Jurerê entrou no destino dos jet-setters. As pessoas que vão à Ibiza, Saint Tropez, Cannes, vêm para cá no verão – diz André Sada, um dos sócios do Cafe de La Musique, misto de paradouro, restaurante e balada – lugar dos mais concorridos.
Como o próprio nome diz, os jet-setters chegam em seus jatos, ou “jets”, o que neste início do verão 2011 provocou congestionamento no aeroporto de Florianópolis. Alguns internacionais, muitos milionários locais, especialmente de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Brasília, desembarcam na praia que o jornal The New York Times listou entre os roteiros das melhores festas do mundo e como um dos destinos de férias a serem visitados.
– Não sei o que aconteceu, isso vem aumentando já faz uns três anos – comenta o suíço Eric Lovey, consultor da Fifa para a Copa do Mundo de 2014, empresário que participou da negociação de Ronaldinho Gaúcho para o Paris Saint Germain e morador de Jurerê.
– Encontrei muita gente famosa, que é famosa na Europa, e que aqui ninguém conhece – entrega Lovey.
A lista de poderosos de diversos naipes é extensa. Estão neste mix o irmão do rei do Marrocos, o filho de Sarkozy (o presidente da França), um dos acionistas do grupo LVMH (conglomerado de marcas de luxo), Pierre Casiraghi (filho de Caroline de Mônaco) e muitos outros. De Felipe Massa, Rodrigo Santoro, Jesus Luz e o senador eleito Aécio Neves, a Gisele Bündchen, Alessandra Ambrósio e Fernanda Motta – se no campo das meninas nos limitarmos às top models.
Jurerê também é responsável por inverter uma ordem que o empresário nacional do entretenimento tornou tradicional: percorrer as melhores casas noturnas pelo mundo para “inspirar” seus empreendimentos no Brasil.
O que se viu neste primeiro mês de temporada foram empresários estrangeiros buscando inspiração no Norte da Ilha – tentando entender o que é feito nesta praia.
– Fiquei oito anos viajando e vendo o que acontecia lá fora e trouxe um pouco de cada lugar, mas com uma pitada brasileira – relata Aroldo Carvalho Cruz Lima, dono do P12, um impressionante clube à beira-mar da famosa praia.
– Agora são eles que fazem isso. Jurerê é um novo destino de anônimos, gente rica que não quer se identificar – conta.
Com capacidade para mais de 3 mil pessoas, restaurante, piscina, jacuzzis, serviço de praia e palco para shows, e investimento de R$ 2,5 milhões, o P12 é um dos points desta temporada.
Aroldo conta que colegas de profissão, conhecidos e donos de casas noturnas na Sardenha, Ibiza e Saint Tropez, estiveram de férias em Jurerê Internacional.
O reflexo desta explosão é a carência de alguns serviços. Nada que um prosaico veranista sinta falta, mas, para o pessoal que não teme a chegada da fatura do cartão de crédito, há falta de fornecedores. Em altíssima temporada, leia-se Réveillon e Carnaval, a frota de carros de aluguel não é suficiente. Por isso, eles mandam seus importados pelo caminhão cegonheira – juntam a turma de São Paulo, por exemplo, e despacham Ferraris, Porsches e BMWs.
Também faltam barcos de luxo na região. Neco Barretta, da fabricante Intermarine, tem 20 barcos de alto padrão para serem locados, mas, nesta época, não basta.
– Jurerê é o reflexo da realidade econômica do país. Neste verão, o resto do Brasil descobriu o Sul. Tem gente que vem de Angra passar o verão aqui e não consegue lugar nas marinas – justifica.
Uma diária em uma lancha para 15 pessoas pode chegar a R$ 6,5 mil e um dos modismos é promover festas em alto-mar.
(FERNANDA ZAFFARI, DC, 23/01/2011)