Em busca da polícia

Em busca da polícia

O DC percorreu as principais ruas da Capital e de São José de madrugada e encontrou só 12 PMs

Em algumas famílias, o filho acha que é chatice da mãe a lista de conselhos antes de sair à noite. Mas, se depender do número de policiais a serviço pelas ruas, a preocupação tem muitos e justificados motivos.

Na madrugada de terça-feira, 31 de outubro, havia 12 policiais patrulhando os principais endereços de São José e Florianópolis. Este é o balanço da reportagem do DC, que percorreu 123 quilômetros por ruas, avenidas, praças e calçadões dessas duas cidades, entre as 23h e as 5h da manhã.

As luzes do posto de combustível no Bairro Estreito, em Florianópolis, estão apagadas antes mesmo da meia-noite. No local, ficam apenas o vigilante e sua televisão de 14 polegadas. Nem o posto da Polícia Militar (PM) na Praça de Fátima em frente garante a segurança. O prédio é ocupado por um único homem, o sargento Valmir Alflen, que trabalha no local onde ficam os telões do sistema de monitoramento por câmeras. Se o policial precisar sair às pressas, terá de ir a pé. Não havia nenhuma viatura na vaga privativa para a corporação.

No Centro de São José, a dupla de policiais que está num posto sentencia: não existem homens a pé.

– Nas melhores noites, contamos com sete viaturas para a cidade toda.

Eles revelam que bairros como Forquilhinhas e Loteamento Lisboa nunca recebem patrulhas. Contam que também pela falta de policiais os postos de polícia ficam vazios. Reconhecem que os locais servem de referência e serão procurados pelos moradores em caso de emergência, mas alegam que não há efetivo suficiente.

A falta de pessoal também compromete o tempo de resposta da PM. Alexandre Rodrigues, 15 anos, é atendente de uma locadora na Avenida Central do Kobrasol, em São José, até a 1h da madrugada. Ele diz que, quando precisa, espera 20 minutos pela chegada dos soldados.

No Centro de Florianópolis, o calçadão da Felipe Schmidt nem parece o mesmo às 5h, quando nenhuma alma está nas ruas. Lá no fundo, o carro da PM passa na altura das Lojas Americanas. Logo, eles dobram para perto do Terminal Rita Maria e revistam alguns homens.

Já no Norte da Ilha, o policial que está no posto da PM da entrada de Canasvieiras revela que naquele momento, 2h47min, há apenas três carros para toda a região Norte da Ilha. Enquanto o policial fala, três carros da corporação rasgam a Avenida das Nações. Para o horário, pode-se dizer que a rua está movimentada. Há aglomerações ao redor de barracas de cachorro-quente. Os carros de polícia param na rua paralela e abordam um grupo de jovens. Logo surge um cigarro de maconha e o garoto não sabe dizer quanto de dinheiro tinha no bolso. Naquele momento, todos os outros bairros do Norte da Ilha estão desprotegidos.

Na Lagoa da Conceição, o Centrinho nem de longe lembra aquele burburinho que se forma nos dias de janeiro. Com os bares fechados, apenas os mais guerreiros estão na calçada bebendo a finaleira.

A PM foi procurada para se manifestar. A Comunicação Social faria um levantamento e repassaria o resultado por e-mail, o que não ocorreu.

(FELIPE PEREIRA, DC, 05/12/2010)