29 nov O Vale do Silício de Santa Catarina
Florianópolis investe em parque de inovação tecnológica para 400 empresas
No norte da ilha de Florianópolis, perto da agitada praia de Canasvieiras, uma área de 4,3 milhões de metros quadrados – o equivalente a cerca de 450 campos de futebol – começa a se transformar em um dos maiores parques de inovação da América Latina, unindo desenvolvimento tecnológico, socioambiental, esportivo e serviços especializados.
Batizado de Sapiens Parque, o projeto deve receber investimentos de R$ 2,4 bilhões até 2020. “A meta é termos 400 empresas instaladas”, conta o diretor executivo do projeto, José Eduardo Fiates. Em reportagem da BBC, o Sapiens foi apelidado de “Vale do Silício da América do Sul”.
O governo de Santa Catarina já aplicou R$ 9 milhões no projeto e o federal, R$ 2 milhões. O terreno, avaliado em R$ 230 milhões, pertencia à Companhia de Desenvolvimento de Santa Catarina (Codesc) e à estatal SC Parceria.
O Sapiens é fruto de um processo que começou em Florianópolis com a chegada da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1960. Ganhou projeção em 1984, com a criação da Fundação Certi (Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras), organização de pesquisa e desenvolvimento tecnológico sem fins lucrativos. Para superar as restrições para a instalação de grandes empreendimentos industriais na ilha, jovens talentos desenvolveram projetos em incubadoras. Delas, floresceram empresas e o primeiro parque tecnológico, o TecAlfa.
Em 2000, a Certi promoveu a análise de 300 projetos de complexos culturais, ambientais, industriais, tecnológicos e turísticos, desenvolvidos por 22 países, com forte impacto social. Entre as ideias avaliadas estavam o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), e o Parque Daedock, em Seul (Coreia do Sul). “Queríamos algo relevante, com conceito multidisciplinar e sustentabilidade ambiental, econômica e social”, explica Fiates.
A revitalização em um antigo casarão às margens Avenida Luiz Boiteux Piazza, em 2007, deu início ao projeto. Uma das primeiras empresas a se instalar no local foi a Animaking Produções Cinematográficas, que saiu de São Paulo para produzir o primeiro longa-metragem em stop motion do País (mais informações abaixo).
Âncora. Uma das principais âncoras será o Centro de Referência em Farmacologia Pré-Clínica, que receberá R$ 8 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina. “Apenas neste centro serão de 60 a 80 pesquisadores”, disse José Batista Calixto, superintendente do centro que deve ser inaugurado em 2012.
“O Brasil vem perdendo competitividade e não participa de inovações”, afirma. Em 2009, a indústria de fármacos faturou US$ 16,8 bilhões no Brasil – mas menos de 25% coube às companhias nacionais. Na tentativa de reverter o quadro, o Sapiens investirá também em empresas incubadoras – serão 13 só no centro.
Outro destaque será o Instituto de Petróleo, Energia e Gás (Inpetro), parceria entre UFSC e Petrobras para pesquisas que promovam o desenvolvimento tecnológico brasileiro. Estão previstos laboratórios sustentáveis, além de poços secos para teste de técnicas de bombeamento e criação de sistemas de visão submarina para monitorar estruturas e reparar cascos de navios. O instituto, que deve entrar em funcionamento em 2011, empregará 300 pesquisadores. O Inpetro terá investimentos de R$ 32 milhões, feitos pela Petrobras.
Com o Sapiens, Florianópolis quer se fortalecer como uma capital de inovação, diz o secretário municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável, Carlos Roberto de Rolt. “O trabalho de mais de 20 anos começa a aparecer para o mundo.” O entusiasmo não contagia só autoridades locais. A revista americana Newsweek seguiu o tom da BBC, ressaltando que Florianópolis tem ao menos um atrativo a mais: as praias.
(Evandro Fadel, O Estado de São Paulo, 28/11/2010)
Tecnologia atraiu empresa paulista de animação
Animaking buscou inovações tecnológicas necessárias para a produção do primeiro longa-metragem brasileiro em stop motion
Especializada em animação para cinema, a Animaking se instalou no Sapiens Parque em 2007. Deixou São Paulo atraída pelas inovações tecnológicas necessárias para realizar o primeiro longa-metragem brasileiro em stop motion (uma técnica de animação), com previsão de lançamento mundial em 2011 pela Fox. “Fomos convidados e o chamariz foi a tecnologia”, disse o sócio da empresa e diretor do filme Minhocas, Paolo Conti.
A aposta foi acertada. O primeiro problema, de solução cara em São Paulo, foi facilmente resolvido em Florianópolis: a criação de um software agregado a uma espécie de grua que pudesse fazer movimentos precisos e milimétricos da câmera para 24 fotos por segundo. “Dentro do ambiente de inovação encontrado aqui, a solução se tornou simples”, diz Conti. Se fosse importar a máquina, gastaria cerca de US$ 1 milhão, valor elevado para um orçamento de R$ 10 milhões.
O trabalho coube a Daniel Schreiner. “A simulação é feita no computador e deixamos tudo programado para o estúdio.” Agora, Schreiner trabalha em um projeto do Instituto Sapiência, também no parque, para criar um sistema computacional acionado por gestos e toques, a ser apresentado em dezembro.
Criar mil rostos para os 45 personagens a partir de uma matriz feita a mão foi possível pela convivência entre arte e indústria tecnológica no Sapiens. “Em São Paulo tentamos articular, mas não fomos bem recebidos. Lá, querem vender a máquina para outros fins. ”
A Sábia Experience Tecnologia também trabalha com arte e tecnologia aplicada a marketing, educação e entretenimento. “O ambiente daqui favorece a interação entre as empresas”, diz o diretor de gestão corporativa, Carlos Assuiti. “Não vemos o outro como concorrente, mas como parceiro.”
Importância. O setor de tecnologia é um dos que mais contribuem com impostos em Florianópolis. São 550 empresas de software e hardware na cidade, com faturamento anual de R$ 1,2 bilhão e geração de 5 mil empregos diretos. Responde por cerca de um terço do PIB estadual. Em 2009, contribuiu com R$ 9,7 milhões em Imposto Sobre Serviços, enquanto a atividade mais badalada, o turismo, rendeu R$ 3,3 milhões.
(O Estado de São Paulo, 28/11/2010)