18 nov Repercussões da saída do estaleiro
Vilmo Alberto Trindade, 55 anos, terceiro em uma geração de pescadores da Praia do Forte, na Ilha de Santa Catarina, estava feliz e aliviado ontem à tarde. Preocupado com os prejuízos que o estaleiro da OSX poderia trazer para a pesca e o turismo, ele disse que foi uma boa notícia a desistência de Eike Batista:
– Foi melhor assim. Um projeto como esse sempre atrapalha.
Habituado a tirar o sustento do mar desde os seis anos de idade, seguindo a tradição do avô e do pai, Vilmo notou, com o tempo, como a oferta de peixes diminuiu gradativamente. Há 15 anos ele trocou a pesca pelo cultivo de ostras. Como a maioria das famílias da região, segundo o pescador.
Fabricante de redes, ele só continua a procurar peixes para o consumo próprio. Vilmo estava preocupado com a vinda do estaleiro também pelo destino final dos resíduos pesados da construção de navios.
– Apoio eles alargarem o canal para a vinda de transatlânticos. Mas não concordava com este estaleiro porque eu não acho que eles iriam colocar no lugar certo o lixo que seria produzido com a construção.
Ao lado do filho, que está seguindo os passos de Vilmo, o pescador lembra do final da década de 1960. Naqueles anos, comenta, nesta época era possível pescar até 2 mil pescadinhas brancas em um lance de pesca. Hoje, em um dia bom, consegue-se no máximo seis.
(DC, 18/11/2010)
Pela vaga, vale até mudar para o RJ
Do outro lado da baía, na parte do continente, Anderson Rodrigues de Faria, 30 anos, se dizia decepcionado com a desistência do estaleiro. Ele foi um dos alunos formados pelo curso de eletricista instalador residencial promovido pelo Senai com patrocínio da OSX. Pretendia garantir uma das vagas na empresa de Eike.
O pai de Anderson foi chamado para fazer outro curso patrocinado pela empresa do bilionário, o de carpintaria. Mas nem se deu ao trabalho porque disse que tinha certeza que o estaleiro não viria para Biguaçu.
De família tradicional na cidade, Anderson não deu ouvidos ao pai. Lembrou do fascínio que sentiu ao ver os enormes navios do Porto de Itajaí, quando viajava pelo Estado atuando na manutenção como eletricista. Decidiu fazer o curso patrocinado pela OSX e, ao enviar currículos para três empresas navais da região, foi chamado para entrevista em todas. Começou a trabalhar em uma, mas depois de um mês teve que desistir porque sofreu com uma alergia por causa da fibra com a qual as embarcações eram construídas.
Além de atuar na manutenção elétrica de empresas, Anderson tem um negócio próprio de venda de cachorro-quente. Mas ele não desistiu de entrar na OSX.
– Vou tentar uma vaga no RJ. Como eu acho que 80% das pessoas que fizeram o curso vão fazer.
Repercussão
Veja algumas opiniões dos internautas do diario.com.br sobre a desistência da OSX de construir o estaleiro em Biguaçu. Ontem, foram publicados mais de 600 comentários no site:
O governo federal trata com descaso o nosso Estado, recebemos migalhas do governo federal e quando existe a possibilidade de um empreendimento privado no Estado, os ambientalistas não permitem. Isso ocorreu com a construção de marinas, resorts, etc.
Os ecochatos tomaram conta do nosso Estado e não querem progresso de jeito nenhum.
ANTONIO BORGES
Tubarão
É por isso que SC não vai para a frente, o estaleiro melhoraria a vida de todos na região, mas esses ambientalistas não precisam de dinheiro e esquecem de quem realmente precisa.
MICHEL WILLIAM
Itajaí
Florianópolis ganhou, Santa Catarina ganhou. Não posso acreditar que todos os ambientalistas e pesquisadores estejam errados nas suas análises sobre o impacto ambiental que este estaleiro poderia provocar em nossa região. Ganhou a vida, perdeu o interesse político e econômico! Parabéns a toda população que protestou!
ALESSANDRO DOS SANTOS
Rio do Sul
Biguaçu perdeu. Devemos é cobrar da prefeitura saneamento e tratamento de água para não poluir cada vez mais.
EDILZA L. BARBOSA
São José
Acredito que SC poderia ter oferecido outras regiões para a implantação do estaleiro. O local escolhido não foi feliz, pois ali encontra-se uma grande concentração das belezas de Santa Catarina. Em primeiro lugar a vida.
MARIA DE JESUS CONTE
Florianópolis
Não só o Estado ganhou, mas a vida ganhou essa guerra. Respeito a opinião dos outros, mas é incrível como temos pessoas atrasadas opinando. Vamos pensar sobre nosso futuro e no futuro de nossos filhos com a cabeça e não com o bolso.
ODIRLEI MAGRI
Balneário Camboriú
É certo que SC perdeu. Esses políticos incompetentes, que a cada quatro anos passam um verdadeiro cheque sem fundos ao povo, não estão nem aí para o emprego e renda do povo. Desenvolvimento sustentável é possível. Faltou vontade política.
ELIAS GONÇALVES
Braço do Norte
SC saiu ganhando. Este imediatismo da possibilidade de geração de empregos esconde a face cruel do impacto ambiental e da extinção de trabalho de quem vive da pesca. Não se pode confundir progresso com destruição. Essa obra faraônica traria problemas ambientais e sociais.
MARIANA OURIQUES
Florianópolis
Acho que todos perdemos. E o pior, o Estado está na mão do ICMBio, que tem hoje mais poderes do que os três poderes constitucionais. É brincadeira. Simplesmente essas ONGs mandam e desmandam e ninguém faz nada. É só interesse próprio e ninguém enxerga isso.
ROBERTO CÓRDOVA
São José
Toda SC perde, e muito. São investimentos, empregos, desenvolvimento no geral. Ambientalistas só sabem protestar nos seus escritórios com ar-condicionado, sentados em suas poltronas, e o povo só se dana.
ELISABETE MULLER
Biguaçu
Santa Catarina perdeu muito com a saída da OSX. Principalmente a oportunidade de nos especializar ainda mais na área náutica, e ter mais um produto para liderar na área industrial e comercial. Com o radicalismo na área ambiental, só temos a perder.
JULIANE ALMEIDA
Florianópolis
O meio ambiente agradece. As pessoas são muito gananciosas, pensam muito no dinheiro e poder e esquecem do que é mais rico. A preservação do meio ambiente não tem preço. Com certeza, perdeu no crescimento referente à economia, mas pensando no que tudo isso iria afetar foi melhor essa decisão.
DANIELA SANTOS
Florianópolis
Óbvio que os catarinenses perderam! E perderam também os míopes ambientalistas, que não enxergam mais nada além do seu nariz! Seria tão fácil exigir da empresa de Eike compensações, como despoluição da baía, que o governo não tem condições de realizar! Fiquem agora com o esgoto a céu aberto.
FABIANO REBELLO
São João Batista
Santa Catarina, população, natureza e os turistas ganharão muito com a não instalação do estaleiro OSX. Teremos nossas praias limpas, os golfinhos vivendo em paz e a OSX longe daqui.
JULIO CESAR ROTH
Palhoça
Santa Catarina perdeu. Biguaçu perdeu! Servimos para colocar lixo de 22 cidades, mas não servimos para instalar uma empresa que daria emprego, renda e qualidade de vida para a nossa comunidade!
DAIANA PAULI WOLLINGER
Biguaçu
Sou soldador. Estou desempregado. Estava com esperança de que esse empreendimento se instalasse para melhorar as condições de vida da minha família. Infelizmente, não foi possível. Agora, o que me resta é trabalhar como pescador. Ou pedirei emprego aos ambientalistas.
ANTÔNIO SILVA
Biguaçu
Não somente o Estado perdeu, mas principalmente Biguaçu e as cidades ao redor, isto traria mais qualificação para trabalhadores e qualidade de vida. Outra questão é que não existe nenhum empreendimento sem gerar impactos, todos geram impactos, mas as pessoas não se atentam a isto. Futuramente, estas pessoas e seus descendentes verão que saíram perdendo e que outras pessoas vão instalar coisas piores e ninguém fará nada, infelizmente.
JÉSSICA PAMELA
Balneário Camboriú
A xenofobia do povo catarinense falou mais alto. Novamente se dá as costas para o mar e para o desenvolvimento. Olhem que o cavalo não passa encilhado duas vezes. Escorreram, pelo ralo, 6 mil empregos em uma região fadada ao tráfico e ao êxodo rural. Tristeza e lamento para nossas periferias.
CLECIO PARREIRAS GOMES
Porto Belo
(DC, 18/11/2010)