Sem identidade

Sem identidade

Artigo escrito por AFFONSO GHIZZO NETO, IDEALIZADOR DO PROJETO “O QUE VOCÊ TEM A VER COM A CORRUPÇÃO?” (DC, 16/11/2010)

Apreservação dos exemplares da arquitetura moderna presentes em Florianópolis é de fundamental importância para o reconhecimento de um importante momento histórico e cultural da cidade. Contudo, se as iniciativas de preservação, em geral, já possuem grandes dificuldades, a arquitetura moderna possui especificidades que dificultam ainda mais a sua preservação, tendo em vista que, pela ausência de ornamentação e do artesanato, nem sempre tais obras são reconhecidas como bens passíveis de tombamento. Dito isso, causa preocupação o aparente descaso no que respeita à recomendação do Ministério Público Federal no sentido de que não fosse realizada nenhuma intervenção antes da necessária avaliação técnica no Edifício Mussi, localizado no Centro de Florianópolis.

A edificação, além de representar a presença da corrente modernista em Florianópolis, caracterizava um período importante de expansão da Capital, e início do processo de verticalização do Centro da cidade. Além disso, tratava-se de um importante exemplar das obras do projetista suíço Wolfgang Ludwig Rau, um dos principais construtores da modernidade em Santa Catarina e, portanto, um dos responsáveis pela construção de uma nova linguagem na cidade. Em hipóteses como esta, parece que tudo pode ser resolvido através da “compensação dos danos”. Ou seja, basta pagar pela demolição.

O descaso é flagrante. A sociedade florianopolitana teve parte de seu passado e de sua memória apagados sem qualquer poder de reação. Impotentes diante da perda gradual e sucessiva dos valores ambientais, naturais e construídos, vamos perdendo, aos poucos, nossa identidade.