Para navegar, dragar

Para navegar, dragar

Artigo escrito por Ernesto São Thiago, empresário do setor náutico (DC, 30/10/2010)

A dragagem que a OSX quer realizar no Saco das Tijuquinhas em favor do seu estaleiro seria, apenas, a recuperação do local, livrando-o do bota-fora das enormes dragagens de manutenção do Canal Norte, que servia ao extinto porto de Florianópolis. Em 1900, a Repartição da Carta Marítima avisava que, para dar acesso ao porto de Florianópolis, fora aberto à navegação um canal dragado através da Baía Norte, com nove quilômetros de extensão, 40 metros de largura e profundidade de quatro metros, noticiando que seria iniciada nova dragagem para cinco metros de fundo.

Em 1915, o ministro da Viação determinava realizar projeto no sentido de dar acesso a embarcações calando oito metros. Polydoro Olavo de São Thiago, que fora vice-governador de Hercílio Luz, integrava os trabalhos como engenheiro. Em 1929, maior dragagem foi realizada, agora na extensão de 12 quilômetros, com 80 metros de largura, deixando o canal outra vez com cinco metros de profundidade. Em 1930, o ministro da Viação desculpa-se com a Marinha por ter descartado pequena parte do material dragado em outro local que não o “Saco das Tijuquinhas”, designado para tanto.

As dragagens foram retomadas na década de 1950, e consta que, o mesmo local, como nas oportunidades anteriores, serviu de “bota-fora” de tudo o que se retirou da Baía Norte.

Em 1965, o Porto de Florianópolis, mesmo ainda exportador de madeira, foi excluído do Plano Nacional da Viação. Daí em diante, talvez por isto, cessaram as dragagens do respectivo canal de acesso.

Em Pompeu, surge a lição de que é necessário vencer as intempéries e navegar: navigare necesse. Com Fernando Pessoa, o glorioso lema vem com um outro sentido: a navegação é uma ciência exata, que exige absoluta precisão. O único obstáculo intransponível ao navegador é, porém, a falta de calado.

Então, parafraseando Pompeu, impõe-se lembrar que, para navegar, dragar é preciso!