06 set Beira-Mar da diversidade
O cálculo é glamouroso. Um público estimado em 110 mil pessoas participou, ontem, da 5a Parada da Diversidade, na Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis. O tema deste ano foi Abraçando a Diversidade. A estimativa é do tenente-coronel Newton Ramlov, comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar. A organização é da Associação dos Empreendedores Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros (GLBTS) de SC.
A principal avenida de Florianópolis transformou-se, ontem, em um palco gigantesco. A Polícia Militar calcula que 110 mil pessoas estiveram no local durante a 5a Parada da Diversidade. Oficialmente, até agora, a visita do papa João Paulo II a Florianópolis, em outubro de 1991, para a beatificação de Madre Paulina, dava conta de um público recorde de 100 mil pessoas. O evento se encerrou com o show da cantora Wanessa.
Para se chegar ao total de público, a PM leva em conta a largura e o comprimento da área. O resultado é multiplicado pelos metros quadrados ocupados. Para cada metro quadrado, estima-se a presença de cinco pessoas. No ano passado, foram 50 mil os presentes.
A temperatura agradável e a tarde ensolarada de ontem foi um convite para assistir à manifestação, que começou às 16h10min. Antes disso, houve a execução do Hino Nacional e discursos de representantes do Movimento GLBTS.
Foi destacado o fato de Florianópolis ter uma lei municipal que proíbe a homofobia. O momento também serviu para reivindicar uma lei no país que garanta a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
– Nossos vizinhos argentinos já têm uma lei que garante este tipo de união. Eu não quero me casar na Argentina, quero ter o direito de me casar aqui em Florianópolis ou em qualquer outra parte do país – discursou, do alto de um trio elétrico, o organizador do evento, Tiago Silva.
A multidão seguiu os oito trios elétricos que partiram das proximidades do Bar Koxixos até o trapiche, onde, por volta das 20h30min, ocorreram shows. A apoteose ficou por conta da cantora Wanessa.
O trânsito foi desviado pela marginal da Beira-Mar Norte em pista no sentido Centro-Norte da Ilha. Os manifestantes andaram pela via ao lado da ciclovia. A Polícia Militar e a Guarda Municipal auxiliaram os motoristas. O volume de veículos ficou mais intenso a partir das 19h, quando o primeiro carro alegórico alcançou o Beiramar Shopping.
O engenheiro Marlon Silveira, morador de Goiânia, está de férias na Ilha. Acompanhado de amigos, saiu de Jurerê Internacional para participar da Parada da Diversidade:
– Achamos interessante este tipo de manifestação. Além de reivindicar direitos de uma população, agrega a união de pessoas que diferem de sua orientação – disse o turista.
Marisa Cristiano Régis, de São José, foi com o namorado:
– Temos amigos homossexuais e muito respeito por eles. No ano passado, ele (o namorado) ficou meio preocupado em vir. Mas ficamos muito à vontade – contou.
A vendedora de bebidas Rosi Martendal fez sua reclamação:
– Não sei de onde eles tiram tanta energia para dançar estas músicas (dance). Vendi pouco até agora.
Enquanto isso, Marta e Jenifer se beijavam. As meninas têm 16 anos e já avisaram os pais que são gays.
– Eu convidei minha mãe para vir. Gostaria que ela visse que isso é normal e que não é crime gostar de alguém do mesmo sexo – contou Martha, moradora na Lagoa da Conceição, na Capital.
Em época de eleições, os políticos não perderam a oportunidade. As bandeiras dos partidos se misturaram às cores do arco-íris, além da presença de alguns em meio ao público.
A Mulher Maravilha conquistou olhares.Vinda de Camboriú, no Litoral Norte, encantou pela forma alegre e simpática com que interagiu com o público que lotou as calçadas.
– Esta parada é sensacional. Já estive em outras, mas o carinho do público é especial – dizia, enquanto posava para fotografias.
Mulher Maravilha não revelou o verdadeiro nome:
– Mulher Maravilha e ponto.
Para ela, o importante é o personagem que encara. Uma mulher forte, heroína, capaz de vencer as dificuldades, como muitas que conhecemos.
Já Natan, Edson, Valter e Antonella desfilaram juntos. Moradores de Itajaí, estiveram também no Navegay de inverno, em Navegantes, no último final de semana de agosto. Para eles, o evento em Florianópolis é melhor pela presença de público e programação diversificada, que inclui shows e atividades esportivas.
Com isso, acreditam, a sociedade tem uma noção mais ampliada da questão homossexual.
(Por ÂNGELA BASTOS, DC, 06/09/2010)