30 maio Temporais na História da Ilha
Mensagem encaminhada por Esperidião Amin*, publicada no blog do jornalista Celso Martins (Sambaqui na Rede, 30/05/2010)
Tenho acompanhado as aflições e o drama. Contudo, ele não é inédito. Apesar dos aspectos agudos do drama, vale considerar o anexo (texto abaixo).
Para leitura e reflexão:
Os recentes incidentes climáticos dão idéia de que estão ocorrendo coisas que “nunca tinham acontecido”.
Não é bem assim. As páginas anexas (320 a 322, extraídas da Obra Completa do nosso primeiro historiador, publicada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina) referem-se a temporais ocorridos na nossa Ilha de Santa Catarina e no nosso litoral, narrados por Manoel Joaquim de Almeida Coelho, em sua obra “Memória Histórica da Província de Santa Catarina” (parte da citada Obra Completa), impressa pela Typographia Desterrense, de José Joaquim Lopes, em 1856.
Os temporais descritos aconteceram em 1811, 1830 e 1838. Dois deles (1811 e 1838) foram “lestadas”, o que reforça e explica o temor que o vento de leste infunde na “Manezada” que tem memória. O de 1830 foi um “furacão” de vento da parte do sul, tendo durado poucos minutos (o primeiro “Catarina”???). Quanto à ajuda federal (imperial, na época), também há alguma coisa “contemporânea” ou “atual”.
Grande abraço Esperidião Amin
PS1: Se lerem com atenção, perceberão, ao final, que dos 40 contos anunciados pelo governo “central”, a pedido de Jerônimo Coelho (ah! a imprensa…), só foram enviados 20 contos, os quais tiveram…”outra destinação” (certamente mais proveitosa!).
*Esperidião Amin Helou Filho foi prefeito de Florianópolis e governador de Santa Catarina. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
3° – Temporais
Além das enfermidades que acabamos de referir, tem a Província passado por alguns outros transes bem sensíveis, dos quais sabemos de uns por havermos presenciado, e de outros por notícias que nos transmitiram pessoas de todo crédito. No ano de 1811, em quarta-feira de cinzas, foi a Ilha de Santa Catarina, e quase toda costa da Província acometida de um tão forte temporal de chuva e vento da parte de leste, que arrasou a lavoura, destruiu e conduziu ao mar todas quantas pontes haviam, além de muitos outros estragos.
No ano de 1830, pela madrugada do dia 15 de abril, foi a cidade do Desterro e toda a Ilha e continente fronteiro acometida de um furacão de vento da parte do sul, tão rijo, que trouxe à praia quantos navios se achavam ancorados no seu porto; o mar cresceu de maneira que, impelido do vento, fez chover ainda nos lugares mais elevados água salgada, houve quem atribuísse a um terremoto; durou porém poucos minutos, o que, certamente foi uma fortuna; porque, a continuar por mais algum tempo, ficaria a cidade rasa; a lavoura da Ilha e seus subúrbios da terra firme ressentiu-se tanto, que desde então (assim o crêem muitos habitantes) aparecem diversas enfermidades nas árvores e outras plantas. É este temporal pois que se atribui à escassez de frutas e outros males da lavoura.
No ano de 1838, nos dias 9, 10 e 11 de março foi a Ilha, e toda a costa da Província acometida de um temporal de chuva e vento .da parte de leste tão rijo, que abriu enormes rasgões pelos morros, quase toda a lavoura ficou rasa; todas quantas pontes haviam desaparecido; na capital rebentaram olhos d’água mesmo em terrenos muito elevados, algumas casas foram arrasadas e conduzidas ao mar pela força das águas; na Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades, mais conhecida por Santo Antõnio, desapareceu a casa, aliás bem construída, do tenente Joaquim José da Silva, e conjuntamente com ele ficou sepultada toda sua família composta de onze pessoas; na Várzea do Ratones outra casa com a família de João Homem teve a mesma sorte; em outros lugares da província consta que houveram outras vítimas. O mar tornou-se, em grande distáncia da terra, vermelho de muito barro que recebeu; e mal se viu boiar em algumas partes animais, ou a fortuna de muitos lavradores. Muitas famílias ficaram reduzidas a penúria e miséria. Embarcação houve no porto da cidade, que virou a quilha por cima. No último dia, porém, permitiu a Suprema Providência que começasse a acalmar o temporal, e só assim porque a continuar por mais 48 horas, de certo apareceriam depois sobre a costa, especialmente da capital, só montões ou ruínas, e tal qual edificio. Mal se pode calcular o prejuízo da Província, e menos julgar do valor das terras que se tornaram inúteis. Por Decreto da Assembléia Legislativa da Província n° 89 de 7 de abril desse ano foi a Càmara Municipal favorecida com um suprimento para reparar os estragos mais sensíveis; e o digno deputado à Assembléia Geral Jerônimo Francisco Coelho pode ali obter que o Governo Imperial mandasse repartir pelos habitantes, a quem o temporal reduzira a penúria, 40 contos de réis; infelizmente, porém, é sabido que só vieram 20 contos, e que estes mesmos tiveram outra aplicação, mui distinta daquela que foram destinados.
* Texto de Manoel Joaquim de Almeida Coelho encaminhado por Esperidião Amin.