18 maio Pensar a cidade
Da coluna de Cesar Valente (De olho na Capital, 18/05/2007).
Na terça à noite, na Fiesc, um grande evento reuniu empresários e políticos para discutir rumos para Florianópolis. Por causa dos últimos eventos policiais, acabou virando uma espécie de desagravo corporativo aos colegas que estiveram presos na Polícia Federal. Na foto acima dá pra ver que Fernando Marcondes de Matos e o Péricles Druck foram chamados para a mesa de honra.
E, como parece estar se tornando um hábito sempre que grupos se reúnem para discutir a cidade, o prefeito Dário não apareceu, mas mandou o Bita fazer uma figuração básica. O governador, naturalmente, aproveitou a audiência cativa e expôs mais uma vez suas idéias a respeito do mundo ideal.
Para o LHS, a União não tem nada que se meter no gerenciamento ambiental, no controle da ocupação. Isto deve ser feito localmente ou, no máximo, regionalmente. A tese ganha enorme força diante de uma platéia assustada com a possibilidade de que forças fora de seu controle local (PF, Ministério Público, juízes federais) resolvam achar defeito na forma como eles ocupam a cidade.
Não matem a galinha
Para o cidadão comum, preocupado com o ambiente e com a degradação da Ilha de Santa Catarina, deixar a coisa apenas por conta da Floram, da Fatma e do Conselho Regional de Desenvolvimento (formado majoritariamente pelos prefeitos da região), neste momento, parece uma má idéia.
Acredito que muitos empreendedores tenham perfeito conhecimento da fábula da galinha dos ovos de ouro e tenham verdadeira preocupação em manter viva essa ave maravilhosa. Mas há aqueles que acham que uns metros pra lá, um aterrinho aqui, umas pilastras ali, não farão muita diferença. Afinal, estamos gerando empregos e no final ninguém nem vai lembrar como a coisa era mesmo.
Seria a situação ideal, que todos tivessem a adequada responsabilidade e levassem a sério a ocupação do solo, do ar, do mar, da água e até do espectro eletromagnético. Mas, como o próprio governador advertiu em seu discurso, “há uma bagunça generalizada neste País!” e um dos sintomas dessa bagunça é justamente o desrespeito generalizado às leis.
Prefeitura capenga
Ao que tudo indica a prefeitura de Florianópolis continua paralisada, de medo ou por falta de quem tenha apetite para administrar a cidade. O prefeito Dário já disse, na TV, que não quer mais brincar de ser prefeito. E aí, a Secretaria de Ubanismo e Serviços Públicos continua acéfala, na Floram também não tem chefia (substitutos estão tentando tocar o barco, mas sem ter uma definição sobre o futuro próximo).
No Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano), o diretor continua lá, mas dois dos três servidores (computadores que gerenciam redes) estão presos na PF, sendo periciados. E sem esses computadores, o serviço fica lento e sobrecarrega o que sobrou.
E tudo isso porque a operação Moeda Verde passou longe do prefeito. Imagina o que não estaria acontecendo se tivesse passado perto…
Entranhas à mostra
Os diálogos captados pelas escutas telefônicas feitas durante as investigações da Polícia Federal (que continuam vazando abundantemente para o generoso regaço da RBS), mostram, por dentro, como é que o poder se move.
Quando a gente fica horas na fila do Pró-Cidadão e depois é atendido com olímpica má vontade, nunca consegue resolver numa visita só, precisa voltar dali a alguns dias para novamente ficar na fila e assim durante meses, sente vontade de conversar com algum vereador conhecido para pedir uma ajuda.
Têm razão os empresários quando queixam-se que a prefeitura cria dificuldades para vender facilidade. Isto acontece em todos os níveis de atendimento.
Ao contribuinte que não freqüenta as mesmas rodas dos poderosos do município, não resta outra opção além de se conformar. Bom, se tiver sorte, poderá encontrar um fiscal que “quebre o galho” e solucione o caso por um preço módico.
Sem surpresas
Mas o empreendedor, que tem a responsabilidade de tocar uma obra que envolve muito dinheiro, seu ou de investidores, deve se sentir compelido a fazer a coisa andar de qualquer maneira. E agora ainda tem que fazer isso sem usar o celular, porque todo cuidado é pouco.
Nada do que tem sido dito nas gravações se constitui em surpresa completa. A gente imaginava como as coisas se davam. Aqui mesmo, nesta coluna, vez por outra, comentei sobre essas negociações. Ver, entretanto, as entranhas do monstro, com a tripas reviradas, é sempre muito interessante. E seria mesmo muito didático.
Digo “seria”, porque a publicação dessas provas têm um pecado original: alguém cometeu um crime (ao surrupiar o cd dos autos) para que a gente pudesse se deliciar com o tititi.
Agiu com grande sabedoria o Juiz Bodnar, ao recusar o pedido de censura, feito pelos advogados dos suspeitos que estão sendo expostos.
Nós também, aqui no DIARINHO, se tivessemos acesso a um material desses, tratariamos de dar toda a divulgação possível. A “culpa”, como deixou claro o juiz, é daquele fofoqueiro que, tendo sob sua guarda ou exame um material sigiloso não resistiu, jogou para o alto a lei, desprezou suas obrigações e agora deve estar se achando o grande herói da cidade. Mas não passa de um ladrãozinho de galinhas.
Piriquito e o padre
Quando eu fui coroinha, na década de 60, todo mundo morria de medo de desacatar o padre. Com o tempo, porém, esse respeito pelos ministros religiosos parece que foi desaparecendo. Um viajante do tempo que tivesse chegado ontem à Assembléia Legislativa, vindo de algum lugar do passado onde ainda se tratavam os padres com certa reverência, certamente ficaria assustado e imaginando o castigo que os céus estariam reservando para o deputado Piriquito, que, alterado, desceu o cacete no deputado Padre Pedro Baldissera.
Hoje em dia até essa história de céu e inferno está mudada. Para um deputado encarregado de defender o governo, xingar o Padre do PT deve render pontos no céu do Centro Administrativo. E talvez a entrada no paraíso da penca, com direito a sentar-se à direita do LHS, seja facilitada para aqueles que se disponham a bater no Padre.
Baldissera acusou o golpe, chegou a emitir uma nota onde mostra que ficou ofendido mas, como bom cristão, nem vai pedir ao Papa que depene o colega. E, com educação e sutileza, só chamou o Piriquito de palhaço.
As férias do juiz
Tem gente ligando para a Justiça Federal para se certificar se o Juiz Bodnar vai mesmo sair de férias. Desde o começo da semana ligam para perguntar “xcuta, ele ainda não saiu? já não devia ter saído?”
Na terça, antes de fazer as malas, o juiz deu mais um canetaço e mandou parar outra ocupação irregular de mangues na grande Florianópolis. Na decisão a gente fica sabendo que a obra irregular da empresa Lajes Vitorino já tinha sido embargada pelo Ibama, mas que os “empresários” nem ligaram.
Decerto sentem-se respaldados pela indignação do governador e têm certeza que serão recebidos com aplausos na Fiesc. Depois, na visão progressista desssa gente, mangue é área lodosa, sem valor comercial, aterrar mangue é “urbanizar” terra inservível.
Mas, para tranqüilidade da turma, o juiz já saiu de férias e só volta dia 4 de junho. O problema é que pode ser que volte descansado e louco para por o serviço em dia.