05 abr Brasil lidera produção de lixo eletrônico entre emergentes; saiba reciclar
Os aparelhos tecnológicos, assim como outros utensílios, possuem vida útil. Depois de determinado tempo, eles se tornam lixo eletrônico e precisam encontrar outras funções. No entanto, um relatório recém-divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que o aumento desse material pode chegar a 500% em diversos países, incluindo o Brasil, até 2020. Anualmente, são descartados 40 milhões de toneladas de e-lixo no mundo. Entre os emergentes, o Brasil ocupa a preocupante posição de primeiro lugar, segundo o documento.
Para a coordenadora da unidade de negócios sustentáveis do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), Andrea Peçanha Travassos, há falta de conscientização e informação das pessoas, que não sabem o mal que os eletrônicos causam ao meio ambiente. “Os aparelhos têm substâncias tóxicas como chumbo e mercúrio, o que pode, em contato com o solo, gerar reações químicas e afetar os lençóis freáticos”, explica a diretora.
Segundo a diretora do Centro de Computação Eletrônica da USP, Tereza Cristina Carvalho, o principal motivo para a crescente produção dos aparelhos descartados se deve à moda entorno das novidades tecnológicas. “Hoje as pessoas trocam muito de equipamentos eletrônicos, há um exagero de consumo, principalmente com celulares. Antes o brasileiro demorava cerca de um ano e meio para trocar de aparelho. Agora, o tempo diminuiu para sete meses”, afirmou.
No entanto, o consumo excessivo não é o único problema. Uma pesquisa realizada pela fabricante de celulares Nokia revelou que apenas 3% dos brasileiros leva os telefones para pontos de reciclagem. De acordo com o levantamento, cerca de 50% dos entrevistados não sabem que podem reutilizar o material.
Reciclagem – O site e-lixo (http://www.e-lixo.org) é um mapa na internet que reúne postos de coleta dos aparelhos pela cidade de São Paulo. Basta o internauta colocar o CEP de sua residência e o tipo de produto para aparecer os pontos mais próximos de reciclagem. “Em apenas cinco dias do lançamento da página, em janeiro deste ano, mais de mil acessos únicos foram computados. Isso mostra que com informação, o usuário se interessa”, conclui Renata Motta, diretora do Instituto Sérgio Motta e responsável pela criação do site.
No entanto, segundo a especialista Tereza, nem sempre procurar empresas que reciclam é a melhor forma de acabar com o e-lixo. “Temos muitas companhias do setor no país, mas os processos são muito caros e elas são muito especializadas”, afirma. De acordo com a diretora da USP, as companhias selecionam apenas algumas partes do material e o que não é usado pode acabar voltando para a natureza.
Segundo ela, enquanto não há leis eficientes, outra solução foi encontrada: a remanufatura de computadores antigos. Um grupo de colaboradores da USP, por exemplo, recolhe PCs velhos para modificá-los e, depois, encaminhar para entidades carentes. O mesmo faz a Fundação para o Desenvolvimento da Tecnologia, Educação e Comunicação (Fundetec), com um projeto em parceria com a prefeitura de São Paulo e a empresa Microsoft para reaproveitar o lixo eletrônico e criar além novos computadores, inclusão de pessoas carentes no mercado de trabalho.
Mesmo assim, outras empresas acreditam na eficiência do processo e investem no setor. A Nokia, primeiro lugar entre as empresas que possuem controle de substâncias tóxicas e ações relacionadas ao consumo de energia, de acordo com o Greenpeace, é uma delas. Segundo a diretora responsável pela área de sustentabilidade da companhia, Jô Elias, a reciclagem é feita desde 1997. No Brasil começou um pouco mais tarde, depois de 2001, e hoje 85 países fazem parte do programa.
Contudo, a diretora da Nokia também explica que existem custos. “Sabemos que não é barato separar os aparelhos, as peças e, posteriormente, encaminhar para fora do país, onde o material é reciclado. Mas esta é uma forma de contribuir com o meio ambiente e fazer a nossa parte”, defende.
Apego material – Mais uma dificuldade encontrada entre as instituições que têm projetos relacionados ao lixo eletrônico é o apego que os consumidores possuem ao produto. “Muitas vezes as pessoas enxergam o computador e o celular como bens de consumo caros, que, como foram difíceis de comprar, não vale a pena se desfazer”, conta Tereza Carvalho.
De acordo com Jô Elias, no entanto, para que as campanhas alcancem seu público de forma efetiva, é importante conscientizar a população. “Nossas campanhas são educativas, priorizamos mostrar a utilidade da reciclagem para atingir a todos”.
Políticas públicas – Em 2009, um regulamento de lixo eletrônico foi aceito pelo governador de São Paulo José Serra. A Lei 13.576/09, criada pelo deputado estadual Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), estabelece que os produtores tenham a responsabilidade de reciclar, gerenciar e encaminhar o lixo tecnológico para sua destinação final, a chamada logística reversa.
No entanto, a especialista da USP explica que o processo de implantação da norma pode ser lento. “A legislação no país ainda está engatinhando e pode demorar muito tempo até que haja ações eficazes”. Tereza alerta, ainda, que, enquanto isso, o usuário precisa pressionar os poderes públicos em busca de mudanças.
A diretora do Instituto Sérgio Motta, Renata Motta, acredita que os problemas com a falta de legislação não são os únicos encontrados. “As parcerias com o Estado são decorrentes de iniciativas das próprias instituições e não das autoridades”, disse.
Já o coordenador técnico do projeto de remanufatura da Fundetec, Artur Roberto da Silva Junior, acredita que o poder público possui participação importante no processo, com a doação de espaço e com auxílio financeiro aos participantes.
Procurada pela reportagem, a Secretaria do Meio Ambiente não se pronunciou sobre a questão de iniciativas em projetos contra o descarte incorreto do lixo tecnológico.
*Esta reportagem foi produzida por Bárbara Forte, Fernanda Colmenero e Marina Dias, alunas do curso de jornalismo da Universidade Metodista de SP para o portal RROnline.
(RROnline / BOL, 01/04/2010)