“Energia solar é própria para o Brasil”

“Energia solar é própria para o Brasil”

Estela Benetti entrevista Helmut Gauges, secretário-geral do banco alemão KfW

O Brasil pode liderar a geração de energia solar. Esta opinião é do secretário-geral de cooperação financeira do banco de fomento alemão KfW, Helmut Gauges, que esteve na Eletrosul para assinar termo de compromisso de financiamento ao projeto Megawatt Solar, uma cobertura de placas fotovoltaicas no prédio da estatal, em Florianópolis, com parceria do Instituto Ideal, GTZ e UFSC. O sistema vai gerar 1 GWh por ano, o suficiente para atender 400 residências. O investimento será de R$ 13 milhões e R$ 7 milhões virão do KfW. O projeto pode ser o primeiro passo para o Brasil avançar na energia solar.

DC – Qual é a importância do projeto Megawatt Solar?

Helmut Gauges – Esse é o primeiro projeto que temos de energia solar em cooperação com o Brasil. É pioneiro nessa tecnologia. O país tem apenas 0,2 MW instalado de energia solar. Na Alemanha, temos quase 6 mil MW, isso que somos um país com pouco sol. Imagina qual é o potencial do Brasil. O mercado ainda não descobriu o que a Eletrosul e o Instituto Ideal vão identificar primeiro. Nós estamos apoiando essa tecnologia. Os alemães são entusiasmados com o setor de energias renováveis e, principalmente, com energia solar. Temos muita experiência na Alemanha e o nosso banco esta financiando muitos programas no nosso país. Por isso podemos oferecer esse know-how para os países com os quais temos cooperação.

DC – Quanto o banco está investindo em energias renováveis?

Gauges – Na Alemanha, ano passado, financiamos 300 milhões de euros. Em outros países, esse é o primeiro projeto solar que estamos financiando. Temos muitos planos em outros países. Temos projetos grandes de usinas solares para o Norte da África, que vão demorar muito tempo para serem executados.

DC – Quais são as energias renováveis que a Alemanha prioriza?

Gauges – A eólica e a solar. A eólica tem uma presença maior até agora porque a viabilidade econômica é maior na Alemanha. Temos mais ventos que sol no nosso país. No ano passado, a geração eólica já respondia por quase 7% da matriz energética do país, e a solar, 1%.

DC – Qual a importância do Instituto Ideal para incentivar as energias renováveis?

Gauges – Esse instituto tem um papel-chave para a difusão do conhecimento desse tipo de energia. É um instituto pequeno, mas com pessoas idealistas. Isso é importante para convencer outros cooperantes a entrar nesse setor. Para nós, o instituto é importante na cooperação. Sem o instituto essa parceria seria bem mais limitada.

DC – Como o senhor avalia o projeto Estádios Solares, elaborado pelo Instituto Ideal para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014?

Gauges – A copa tem uma grande publicidade no Brasil e também em todo o mundo. Com esse tipo de projeto de estádio solar, o país pode mostrar ao mundo que é pioneiro nessa tecnologia, é o país do futuro da energia solar. Esse poderia ser o símbolo de um futuro papel do Brasil. A energia solar é uma tecnologia apropriada para o Brasil, um país que tem muito sol. Achamos que essa também é uma oportunidade para o mundo conhecer um outro lado do Brasil, um país que cuida bem do meio ambiente, de tecnologia, que não é somente produtor de soja.

DC – Como a Alemanha evoluiu nessa tecnologia?

Gauges – Nós já temos muita experiência com energia solar. No começo é sempre mais complicado, quando falta experiência é difícil convencer as empresas e institutos a aderir. Mas estamos muito felizes com o ingresso do Instituto Ideal e da Eletrosul. A Cemig de Minas Gerais, vai também entrar. Com a participação dessas três instituições, acho que poderemos ver alguns estádios, talvez muitos, com geração de energia solar. Com isso, esperamos que o Brasil ganhe a Copa e a Alemanha fique em segundo lugar (risos).

(Por Estela Benetti, (DC, 28/03/2010)