28 mar Ocupação do solo e mobilidade são desafios ao futuro de Florianópolis, apontam especialistas
O planejamento e os obstáculos para o futuro de Florianópolis foram tema do Talk “Desafios Floripa”, promovido nesta segunda-feira (27) pela NSC TV. O debate sobre o futuro da cidade após completar 350 anos contou com a presença do prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, e de lideranças de outras entidades. Em pauta, planos para o desenvolvimento da Capital em temas como mobilidade, habitação, emprego e renda.
Desafios nestas áreas são constantes quando se analisa o crescimento da cidade nos últimos anos. Desde o Censo de 2010, a Capital teve um crescimento de 36% na população, ou 152,9 mil habitantes a mais. É como se todos os dias chegassem 35 novos moradores para fixar residência em Florianópolis. Pessoas que se instalam em diferentes locais da Ilha, criando a necessidade por mais serviços públicos.
Nestas condições, o desenvolvimento da cidade impõe desafios ao poder público e à sociedade como um todo. Confira os principais tópicos apontados como prioridade para o futuro de Florianópolis.
Reveja o Talk Desafios Floripa
Moradia e ocupação do solo
A ocupação regular do solo foi apontada como o maior desafio para o futuro pelo prefeito de Florianópolis, Topázio Neto. Segundo ele, em algumas regiões a cidade chega a ter apenas 10% das construções devidamente regularizadas.
Na esteira da aprovação do novo Plano Diretor, que alterou regras de parcelamento dos terrenos, ele apontou como necessária a criação de incentivos e zonas de interesse social para tentar direcionar o crescimento da cidade a regiões mais adequadas, onde já há serviços públicos instalados.
— Ou a gente resolve isso como município, encara a questão do adensamento, que muitos são contra, para que possamos viabilizar um transporte coletivo de qualidade, com corredores exclusivos, no horário, ou a gente vai continuar eternamente vendo as pessoas morando em condições não tão legais, ou subindo o morro, ou fazendo invasão, ou degradando área ambiental — avaliou o prefeito.
O procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, Paulo Antônio Locatelli, que também participou do debate, diz que as condições naturais da Ilha dificultam o planejamento urbano, mas que isso não pode ser obstáculo para a regularização da ocupação da cidade.
— Tem que evitar a gentrificação, por exemplo, para que o investimento público não crie mais segregação socioespacial, fazer com que o investimento vá onde a comunidade precisa, e que ao mesmo tempo consiga garantir a permanência das pessoas — afirma.
Transporte coletivo
Outro tema apontado como uma prioridade para a Capital nos próximos anos foi o transporte coletivo. O coordenador do Observatório de Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Bernardo Meyer, considerou fundamental os investimentos em faixas exclusivas para ônibus, capazes de segregar esse meio dos veículos individuais. Algumas medidas já adotadas, como as tarifas flexíveis de acordo com o horário e dia da semana, também são consideradas importantes por ele.
O transporte marítimo, frequentemente citado como possível solução para os deslocamentos na Ilha de Santa Catarina, é visto apenas como uma opção de modalidade alternativa para os trajetos.
— Gostaria muito de ter o transporte aquaviário, mas ele é um transporte muito caro e com pouca capacidade de carregamento. Logo, o investimento que o poder público faria para viabilizar o transporte aquaviário a preços módicos, se aplicado no transporte terrestre, o resultado seria muito maior, carregaríamos muito mais pessoas. Entretanto, parece muito simbólico uma ilha não ter transporte aquaviário — comparou.
O prefeito Topázio Neto citou as operações do Catamarã, que retomaram a relação de Florianópolis com os trajetos feitos pelo mar, e diz que considera o modal aquaviário como uma solução alternativa, com preços “intermediários”.
— Na minha opinião e pelos estudos que vejo, não é o fluxo marítimo que vai tirar os carros da estrada — analisou.
Infraestrutura
Em outros temas de infraestrutura, o prefeito citou um interesse de assumir as rodovias estaduais (SCs) que hoje cortam a cidade e incorporá-las na malha viária do município. A ideia já teria sido discutida com o governador Jorginho Mello. A intenção seria facilitar a construção por parte da prefeitura de marginais que pudessem tirar parte do fluxo local dos bairros, hoje obrigado a circular pelas SCs.
Emprego e renda
A vocação para o setor de tecnologia da informação (TI) é uma das apostas para estimular a geração de emprego e renda nos próximos anos em Florianópolis. O presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Iomani Engelmann Gomes, lembrou que o ramo atraiu mais de R$ 5 bilhões de investimentos à Capital em plena pandemia, nos anos de 2020 e 2021.
O maior desafio para este setor é o mesmo enfrentado mundialmente: a formação de mão de obra. Nesse sentido, iniciativas como o Floripa Mais Tech são vistas como estratégias para dar perspectiva de futuro aos jovens e capacitá-los a ocupar um número estimado de 1,5 mil vagas abertas nas empresas deste segmento na Capital. Um mercado que segundo o dirigente já foi estigmatizado como carreira elitista, mas que na verdade é inclusivo e aberto a diferentes perfis.
— O Brasil tem 30% da população de 16 aos 23 anos que a gente chama de nem-nem — nem trabalha e nem estuda. Acho que esse trabalho da prefeitura é legal para uma conscientização muito precoce, para que esses jovens não se torne uma futura geração nem-nem — pontuou.
Fome
A questão social foi outro problema apontado pelos debatedores no Talk Desafios Floripa. A prefeitura cita que existem atualmente 21 mil famílias abaixo da linha da pobreza, o que equivale a cerca de 50 mil pessoas vivendo com menos de R$ 200 por mês na Capital.
Como estratégia para tentar ajudar esses moradores, a cidade dispõe de um novo restaurante popular, e agora pretende abrir escolas nos bairros aos fins de semana para oferecer almoços aos estudantes e pais.
Debatedores
Topázio Neto, prefeito de Florianópolis
Bernardo Meyer, coordenador do Observatório de Mobilidade da UFSC
Paulo Antônio Locatelli, procurador de Justiça do Ministério Público de SC
Iomani Engelmann, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate)
Série “Desafios Floripa”
O evento desta segunda-feira (27) encerrou a série de reportagens sobre os Desafios de Floripa exibida na semana do aniversário de 350 anos da Capital catarinense.
Com população 36% maior, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município enfrenta o desafio de garantir saúde, moradia, infraestrutura e ainda gerar oportunidades de emprego e renda, driblando a informalidade.
(NSC, 27/03/2023)