Praias estão poluídas onde SC vive boom imobiliário, e não é uma coincidência

Praias estão poluídas onde SC vive boom imobiliário, e não é uma coincidência

Da coluna de Dagmara Spautz (NSC Total, 22/01/2023)

Não é coincidência que as praias de Santa Catarina que mais interessam ao mercado imobiliário, e que viveram nos últimos anos um boom de desenvolvimento, sejam também as que registram os piores índices de balneabilidade nesta temporada já marcada pela profusão das placas de “impróprio para banho”.

Santa Catarina se tornou um oásis para os investidores. Das sete cidades com o metro quadrado mais caro do Brasil, segundo o índice FipeZap+, quatro estão no Litoral catarinense – mais da metade. Uma indústria especializada em imóveis de alto padrão, aliada a paisagens de tirar o fôlego e um mercado sedento por investimentos seguros, formam a combinação perfeita para o fenômeno que o Estado experimenta no setor.

De olho na arrecadação, e convencidas pelo convincente lobby da construção civil, as prefeituras aprovam um empreendimento atrás do outro. Mas os imprescindíveis investimentos em saneamento não aumentam na mesma proporção.

A falta de saneamento não é o único problema, evidentemente – mas é o que mais impacta a saúde pública e a impressão que os turistas levarão de Santa Catarina. Verão é sinônimo de falta de luz e água na maioria das nossas cidades. E isso ocorre porque os bairros registram muito mais gente do que a infraestrutura pública é capaz de suportar. Essa equação faz com que o boom do turismo no Litoral de Santa Catarina seja, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição.

Não é errado que os municípios apostem no desenvolvimento da construção civil – desde que isso esteja de acordo com o plano diretor, a lei de zoneamento e a necessária atenção ao meio ambiente. A aposta movimenta a economia, traz empregos e renda. O problema é a emissão desenfreada de alvarás sem investimento público como contrapartida.

O resultado que está aí é um tiro no pé. A falta de atenção com o saneamento, que é básico, afeta nosso atrativo número um – o mar. Por mais investimentos em opções alternativas de lazer que a iniciativa privada possa oferecer, é a praia o que traz os turistas para o verão de Santa Catarina. A ocupação desenfreada, autorizada de forma irresponsável pelas gestões municipais, está matando a galinha dos ovos de ouro.