Floripa Sustentável, hoje e no futuro

Floripa Sustentável, hoje e no futuro

Roberto Costa, publicitário, do grupo fundador do Floripa Sustentável

Recentemente tive a oportunidade de fazer uma palestra no III Congresso de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina, em que ao contar a história da criação do Movimento Floripa Sustentável, aproveitei para falar sobre o presente e o futuro da nossa cidade. Fazendo uma rápida memória, lembrei do pequeno grupo que deu início ao movimento, primeiro Zena Becker, Vinícius Lummertz e eu, depois vieram Fernando Marcondes de Mattos, Anita Pires (então presidindo a FloripAmanhã), Carlos Leite e José Eduardo Fiates.

A ideia era audaciosa e ambiciosa: unir a cidade nos seus diversos segmentos para dar voz a uma maioria silenciosa por falta de motivação ou mesmo falta de coragem. Estruturamos o Movimento em 4 pilares: o crescimento econômico, o desenvolvimento social, a preservação ambiental e o planejamento urbano.

No manifesto de lançamento descrevemos o que o Movimento pretendia: uma cidade que trilha caminhos criativos para gerar recursos que permitam cuidar melhor das pessoas num espaço urbano planejado; criar um ambiente de diálogo que leve a soluções colaborativas e inteligentes para a construção de um futuro generoso que a cidade e a nossa gente merecem; estimular um ecossistema de inovação que inspire os jovens e provoque a força produtiva a pensar ‘fora da caixa’ em busca de uma cidade boa para todos.

Hoje com 45 entidades integrantes, somos um grupo apartidário, que reúne profissionais autônomos, ONGs, entidades de classe e representativas da comunidade, empreendedores, professores, estudantes e apaixonados em geral por Florianópolis. Nossa história tem marcos importantes.

Tivemos uma participação ativa para destravar a judicialização do Plano Diretor que acontecia desde a sua aprovação, em 2014. Em setembro de 2017 lideramos uma comitiva para conversar com membros do STJ, em Brasília, que definiu pelo afastamento do Ministério Público e da Justiça Federal, decisão mais do que necessária naquele momento.

A partir daí se se começou a discutir no Conselho da Cidade e junto aos órgãos técnicos da Prefeitura a realização de ajustes e a revisão do Plano Diretor de 2014, que foi finalmente encaminhado à Câmara de Vereadores no final de setembro deste ano.

Nos mantivemos vigilantes e ativos durante a pandemia, e tivemos decisiva participação em episódios como nas greves de servidores públicos municipais e da Comcap, em que a população foi abandonada e até atos de violência foram registrados. Da mesma forma, abrimos o diálogo, tentamos a conciliação e a solução, mas protestamos veementemente conta a paralisação de praticamente dois anos da nossa UFSC por conta da pandemia.

Também fomos ver o mundo lá fora para trazer ideias para a nossa cidade. Promovemos e estimulamos missões como a que foi a Copenhague, Dinamarca, em agosto de 2018, para conhecer a famosa “Cidade para as Pessoas” do consagrado urbanista Jan Gehl. E, agora, em outubro deste ano, uma missão a Medelín, Colômbia, cidade que até a década de 90 era dominada pelo narcotráfico – e hoje é uma cidade inclusiva, inovadora e educadora, talvez “a melhor esquina” da América do Sul.

Apesar de mirarmos em outros exemplos, temos que olhar para os indicadores da nossa cidade. Temos ótimos índices em diversos setores, mas o nosso Índice de Desenvolvimento Sustentável ainda não está num nível alto. Atualmente este índice é de 60,37/100 e estamos em 90º lugar entre as 5.570 cidades brasileiras

Quais os principais desafios políticos e territoriais da nossa cidade? Somos um município 70/30. Temos 70% de áreas protegidas (unidades de conservação e áreas verdes). Como atingir os demais preceitos de sustentabilidade social e econômica nesses 30% restantes? Este é o grande desafio para os ajustes e a revisão do Plano Diretor.

Temos um péssimo índice que atrapalha muito o nosso crescimento sustentável. Somos uma cidade que tem apenas 57% de esgoto tratado. A nossa capital aparece em 60º lugar na 14ª edição do ranking de saneamento divulgado pelo Instituto Trata Brasil, com base no relatório do Ministério de Desenvolvimento Regional. Entre as capitais estamos em 15º lugar. Melhorar esse índice é um grande desafio para os nossos órgãos públicos.

Nessa memória cabe destacar também três entre as diversas ações que tiveram o Floripa Sustentável como protagonista nos últimos anos: o encaminhamento do processo do Parque Marina Beira Mar junto às instâncias estaduais e municipais competentes; a obtenção de apoios para o novo Parque do Remo na região da Rita Maria; e a adoção pela iniciativa privada da Praça Forte São Luís, na esquina das avenidas Mauro Ramos e Beira Mar Norte, em parceria com a FloripAmanhã, um antigo sonho dos florianopolitanos.

Nossa mais recente iniciativa também é um presente para a cidade: uma pesquisa que promovemos em maio e junho, feita pelo Instituto Mapa e apoiada pela Fiesc e Fecomércio, para saber como a população vê a cidade agora e no futuro. A nota que a população deu para Floripa foi 8,4.

A população revela que deseja viver numa cidade moderna, mas que também saiba preservar sua história e privilegiada natureza, com soluções de centralidade de serviços, moradia e trabalho nos bairros, evitando uma maior pressão sobre a já impactada mobilidade e infraestrutura urbana e com um modelo econômico de prosperidade baseado nos setores ligados ao turismo e a inovação, trazendo ainda mais qualidade de vida para os cidadãos.
Agora com três novos gestores, Daniel Leipnitz, Gerson Schmitt e Luiz Gonzaga Coelho, é um orgulho para todos nós fazer parte de um movimento que mudou a vida de Florianópolis e que já é modelo para outras cidades brasileiras. Há muitos desafios, ainda há muito o que fazer. As 45 entidades que compõem o Floripa Sustentável têm plena consciência disso – por isso estão permanentemente ativas e vigilantes na luta para fazer uma Florianópolis cada vez melhor.

(ND, 03/12/2022)