26 out Recreio não, teatro
Grupo de Florianópolis leva peça farsesca a um público que tem pouco acesso às casas de espetáculos da cidade
Não tem jeito: quando o pastor da encenação Farsa do Advogado Pathelin, interpretado por Valdir Silva, começa a balir como uma ovelha, as risadas tomam conta de qualquer ambiente. Seja num teatro, auditório, sede de clube, associação, ou mesmo no pátio de uma escola.
É, no pátio de uma escola. Desde o dia 16 desse mês até o dia 15 de novembro, o grupo Teatro Sim… Por Que Não?!!! percorre 12 comunidades da Capital. Até lá, terá apresentado a Farsa do Advogado Pathelin em cinco estabelecimentos públicos de ensino.
Na noite da última quarta-feira, o grupo esteve escola estadual Presidente Roosevelt, em Coqueiros. Levou a peça para 40 pessoas. Havia alunos, professores, curiosos, todos atados pela exagerada alegria que um rolo de tecido comprado mas não quitado – tema da peça – proporcionou.
Professora de Língua e Literatura Portuguesa da escola, Olires Machado do Espírito Santo orientou os alunos explicando o que era a farsa, o teatro da idade média. Mercadores, camponeses, artesãos estavam entre os personagens comuns, metidos em enrascadas dos mais variados tipos: traições conjugais e confusões em geral. Lembrou que trabalhos contemporâneos, como a peça/filme O Auto da Compadecida, é descendente das antigas farsas europeias.
– É uma chance que eles têm para conhecer o teatro. É uma coisa muito distante para a maioria dos alunos – destacou.
Diego da Silva Oliveira, 20 anos, aluno do 1º ano do Ensino Médio, acompanhava tudo concentrado nos atores – mas deixava-se levar pelo tom descontraído.
– Não conhecia esse tipo de peça, e estava curioso. É legal, inesperado – disse após 55 minutos de encenação.
Ajuda o fato da trupe farsesca parecer à vontade no chão do pátio da Presidente Roosevelt – o pequeno palco foi dispensado porque não comportaria a movimentação dos atores. Mas há um segredo, segundo o diretor do grupo, Júlio Maurício.
– Nossas duas últimas peças foram ensaiadas aqui no auditório do colégio, em 2005 e 2007. Por isso, encaramos isso tudo como uma forma de retribuição ao apoio e ao carinho dos alunos e funcionários – revelou.
Montagem mantém conexão com a sociedade atual
Sexta-feira, a farsa lotou a sede do Barrense, na Barra da Lagoa. Anteontem, fez a comunidade sorrir na escola Intendente José Fernandes, nos Ingleses. Parece improvável, mas o fato é que a peça foi escrita há mais de cinco séculos, e sempre mantém conexão com o público. Mesmo aquele que pela primeira vez tem contato com o teatro. Peterson Carvalho Cruz de Souza, 10 anos, foi um dos que surpreendeu-se com o que viu na escola dos Ingleses.
– Eu gostei de todos os personagens, mas o mais divertido foi o alto (Pathelin) – revelou.
A turnê têm patrocínio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, e apoio da Caixa Econômica Federal.
(DC, 26/10/2009)