Mudanças passam no primeiro teste

Mudanças passam no primeiro teste

Bloqueio de trecho de avenida, na Capital, causa poucos transtornos
Um fluxo de veículos de uma tarde de domingo. A afirmação é do engenheiro do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), Carlos Eduardo Medeiros, sobre o comportamento do trânsito no final do primeiro dia das mudanças na Avenida Paulo Fontes, região Central da Capital.
Ontem, a primeira etapa da transformação de um trecho da avenida em calçadão, com o fechamento parcial para tráfego, demostrou que a ideia pode dar certo. Com exceção dos corriqueiros congestionamentos no Centro da cidade, como no acesso à Ponte Colombo Salles, o trânsito no cruzamento da Avenida Paulo Fontes com a Rua Arcipreste Paiva (Praça XV), surpreendeu os técnicos e os policiais militares que acompanhavam a operação no horário de pico, por volta das 18h.
– Sinceramente, estou surpreso. Com a mudança, esperava um pequeno caos até a adaptação dos motoristas. Acredito que as pessoas se anteciparam e procuraram rotas alternativas – afirmou o engenheiro.
Após o fechamento da avenida, às 14h10min, apenas um congestionamento foi registrado na área central. O motivo foi a dificuldade de acesso ao estacionamento da Companhia de Melhoramento da Capital (Comcap), localizado entre o Camelódromo Centrosul e a feira Direto do Campo, na Avenida Hercílio Luz, que estava com as 480 vagas lotadas.
Alterações na região continuam até dia 31
Depois do fechamento do estacionamento, e de 40 minutos de trânsito lento, o problema foi resolvido. Para evitar uma nova formação de filas, que ontem chegou até a Rua Álvaro de Carvalho, o número de acessos ao local será ampliado hoje.
Hoje, a partir das 8h, começam as obras no primeiro retorno da Avenida Paulo Fontes, em frente ao Mercado Público. Até terça-feira, dois retornos devem estar concluídos na via e os semáforos desligados.
Na semana que vem está programado o fechamento das duas vias da avenida e a mudança no sentido da Rua Álvaro de Carvalho. Mais um trecho da Rua Felipe Schmidt será transformado em calçadão. No dia 31, o trânsito da Rua Pedro Bittencourt, no contorno do Terminal Rita Maria, será fechado para os veículos, tornando-se exclusivo para ônibus.
Urbanização não tem data para começar
A conclusão do projeto que prevê a transformação da Avenida Paulo Fontes em calçadão não deve acontecer antes de 2011. As obras ainda não têm data para começar e nem mesmo o plano de urbanismo está definido.
Para o prefeito em exercício e secretário de Transportes, Mobilidade e Terminais de Florianópolis, João Batista Nunes, o projeto deve ser definido com a participação popular.
– Nossa ideia é realizar um concurso público e trazer a sociedade para dentro desta discussão. Só depois que o projeto estiver definido é que poderemos afirmar, com certeza, quanto tempo será necessário para a construção deste grande calçadão – explica.
De acordo com Nunes, caso o fechamento provoque mais congestionamentos e o projeto se torne inviável, a prefeitura pretende reativar a ideia de fazer uma passagem subterrânea no local.
– Nossa prioridade é o transporte público e os 230 mil pedestres que transitam entre o Mercado Público e o Ticen diariamente. Cerca de 80% dos 1,5 mil carros que passam por aqui no horário de pico tem apenas uma pessoa dentro – justifica.
Pedestre apoia o fechamento
Ontem, enquanto as mudanças no Centro da Capital eram colocadas em prática, a dúvida dominava as rodas de conversa. De um lado, quem arriscava aplaudir o fechamento da Avenida Paulo Fontes, e, do outro, motoristas com suas reclamações, principalmente contra os bloqueios no trânsito. Mas, entre os maiores beneficiados pelo projeto, os pedestres, a expectativa era positiva.
Quem viu o mar ser aterrado para dar lugar para novas ruas aprova as mudanças, como o aposentado Nilton Anselmo da Rosa, 83 anos. Ele não sente segurança ao atravessar as pistas quando vai ao Centro, por isso torce para que o projeto dê certo.
– A cidade não suportou o aumento dos carros e, agora, andar a pé é complicado. Se der certo, vai ajudar os pedestres, que vão ficar mais tranquilos – analisou, depois de cruzar a via em direção ao Ticen.
A mesma opinião tem Silvia Dias, 31 anos, que não vai ao Centro de carro, por achar estressante a falta de vagas e os congestionamentos. Segundo ela, atravessar a pista entre o Ticen e o Mercado é um sinal de perigo, já que os carros não respeitam o sinal nem os pedestres.
Mas nem todo mundo estava contente. Muita gente temia pela complicação que as alterações poderiam trazer para quem dirige.
– Como é que vai ficar? Não consigo imaginar. O que já é complicado, vai piorar – reclamou Carla Pinheiro, 35 anos, enquanto tentava estacionar o carro em frente ao Mercado Público, antes do fechamento da avenida.
Ela não aprova a mudança por acreditar que o novo sentido dificulta a vida do motorista.
Comerciantes do Mercado têm hora para descarregar
Os donos das peixarias do Mercado Público também estão apreensivos. O horário de carga e descargam, que antes não tinha limitações, desde ontem deve seguir um acordo feito com a prefeitura. Das 6h às 9h, os caminhões poderão estacionar no mesmo lugar e fazer a descarga. Depois, só entra por 30 minutos quem estiver com um adesivo identificando. A partir das 17h, nenhum veículo pode fazer o trabalho.
Homenagem a político atuante
O nome da Avenida Paulo Fontes é uma homenagem a Paulo de Tarso da Luz Fontes, médico e político que fez história como um dos fundadores em Santa Catarina da União Democrática Nacional (UDN), e como deputado estadual e prefeito de Florianópolis.
Nascida do aterro sobre o mar, concluído em 1974, a avenida que passa em frente à antiga alfândega e ao lado do Mercado Público é uma das principais vias da região central. Chegou a ser vista como um exagero para a época, quando a Capital tinha uma população de cerca de 150 mil habitantes.
Também é lembrada até hoje como a “avenida do Carnaval”, por ter sido o palco para os desfiles das escolas de samba e blocos até 1989, quando a festa passou a ser realizada na Passarela do Samba Nego Quirido, inaugurada naquele ano.
Filho de Henrique da Silva Fontes e de Clotilde da Luz Fontes, casal formado em tradicionais famílias de Florianópolis, Paulo Fontes nasceu em 10 de junho de 1914.
Embora tenha se formado em Medicina, em 1937, e ter exercido a profissão, foi como político que registrou seu nome na história. Foi deputado entre 1947 a 1951, e prefeito, cargo que exerceu de 1951 a 1954. Morreu de infarto no dia 10 de junho de 1970.
(DC, 16/10/2009)