08 mar Ana Laura, Bruna, Luiza, Cláudia, Maria e a Alessandra da Ilha…
Artigo de Lélia Pereira Nunes
professora e pesquisadora
Quantas mulheres mais vão perder suas vidas porque seus companheiros se acham com “direito de posse” do sentir, do pensar e do viver? Neste Dia Internacional da Mulher, criado pela ONU, em 1975, como resposta ao clamor feminino, ao longo dos séculos, em diferentes épocas e culturas. Mulheres que foram vozes na defesa de seus lídimos direitos e de viverem sem o estereótipo social e cultural que as reduziam a cidadãs de segunda classe.
Este foi o tema da minha dissertação de mestrado em março de 1985 quando abordei o trabalho da mulher na administração pública. Quanto avançamos desde que Alice Guilhon Gonzaga Petrelli desafiou a família e não só e, em 1920, assumiu o cargo de chefe de Expediente da Secretaria da Fazenda do Estado, tornando-se a primeira mulher funcionária pública de Santa Catarina. Quanta água do mar passou por baixo da ponte e hoje, século 21, assistimos conquistas femininas relevantes em todos os campos de conhecimento.
Entretanto, muitas mulheres ainda enfrentam, por todas as geografias, a falta de liberdade e a garantia dos seus direitos. Sim, continuamos a viver sob o julgo de normas estruturais, de amarras, de cercos a serem rompidos no
próprio cotidiano. Há um outro tipo de violência que vai além do físico porque atinge o emocional, a alma, mina o psíquico e é cruel.
A palavra da moda gaslighting traduz essa forma abusiva e manipuladora, anula a vítima a tal ponto que ela passa a duvidar da sua capacidade e até da sanidade mental. O trágico é que (não raro) algumas mulheres, no exercício profissional, também praticam violência emocional contra a mulher ao negar a fala, ignorar ou podar iniciativas, atingir a autoestima e até puxar o tapete da sua colega. Isso também é ao meu ver um jeito sutil de discriminar.
Mais do que nunca, não podemos varrer da memória e nem enterrar na cova do esquecimento os milhares de feminicídios e nem calar a nossa voz em defesa da mulher e suas lutas. No ano de 2022, em cada 1.000 mulheres, entre 20 e 40 anos, 68% sofreram de violência física por parte de “seus homens”. No Estado, cerca de 60 sofreram feminicídio. O ano de 2023 mal começou e seis foram assassinadas e 2.617 requereram medidas protetivas, segundo dados do TJSC.
Este é um momento de reflexão sobre a contínua luta e as conquistas e, sobretudo, pelo respeito e maior reconhecimento do papel da mulher na sociedade. Afinal, reverencio a Ilha Mulher que traz no nome a figura mítica de Santa Catarina, que representa gnosis. “Meu corpo é teu imenso corpo de ilha/ e minha alma invade as tuas
entranhas,/ participando da tua febre criadora.” (Maura de Senna Pereira, Ilha Mulher)
(ND, 08/03/2023)