Workshop mostrou como SC e Açores podem fazer negócios 275 anos depois da imigração

Workshop mostrou como SC e Açores podem fazer negócios 275 anos depois da imigração

Visando aproximar os catarinenses dos açorianos, por meio do turismo, o Grupo ND realizou, na quinta-feira (20), o workshop internacional Turismo & Negócios no auditório do Square SC, na SC-401, em Florianópolis, e com transmissão ao vivo do Portal ND+.

O evento, mais um feito do projeto “Viva Açores: Conhecer é Viver”, que resgata a história do povoamento açoriano em Santa Catarina, também mostrou como o Estado pode estabelecer um ambiente de negócios com Açores.

Para tanto, foram convidados 12 painelistas que apresentaram os potenciais do Estado, em especial de Florianópolis, e dos Açores, que abordaram as características das Ilhas do arquipélago.

Na abertura, o presidente do Grupo ND, Marcello Corrêa Petrelli lembrou que o evento ocorria na véspera dos 275 anos das primeiras migrações açorianas para o Sul do Brasil, em 21 de outubro de 1747.

Petrelli agradeceu aos presentes e disse que uma empresa de comunicação, além de formar opinião, apontar problemas, fazer críticas construtivas e trazer informações diferenciadas tem o propósito de causar transformações e mudanças significativas.

“Quando fomos para Açores enxergamos a oportunidade e a necessidade de mostrar aos catarinenses quem é Açores. Onde está localizado, quantas e quais ilhas são essas, que população é essa, que migração foi essa. A comunicação tem essa oportunidade de ir na ponta e levar conhecimento. É o que pretendemos a partir do projeto Viva Açores: Conhecer é viver”, enfatizou Petrelli.

O presidente da Casa dos Açores, Sérgio Ferreira, também se manifestou antes dos painelistas. Ele lembrou que muitos imigrantes não resistiram à viagem, concluída em janeiro de 1748, três meses após a partida.

“Dos primeiros 473 açorianos que vieram, 12 morreram na travessia. É importante lembrar que eles vieram em busca de uma vida melhor para si e seus filhos. Isso é algo muito significativo nos açorianos até hoje, o amor à sua terra, mas a necessidade de migrar também, porém, sempre mantendo a saudade. Quem chega a Santa Catarina sabe o quanto se ama os Açores nesta terra e o quanto a gente não esquece dos Açores”, comentou.

“Essa iniciativa do Grupo ND é muito importante para que passemos da saudade ao conhecimento. Os Açores têm muito a conhecer em Santa Catarina e Santa Catarina tem muito a aprender com os Açores em todos os níveis: cultural, nos negócios e no cuidado com o meio ambiente”, completou Ferreira.

As quatro ondas do turismo de Florianópolis
O superintendente de Turismo de Florianópolis, Vinícius de Luca Filho, foi o primeiro painelista a falar. Ele apresentou as quatro ondas de turismo da história de Florianópolis. A primeira onda foi no final da década de 1960 até 1980, quando a cidade começou a receber especialmente turistas gaúchos e argentinos buscando as praias.

A segunda onda, no final da década de 1980 e 1990, é impulsionada por eventos, após a criação do CentroSul e do Costão do Santinho, resort que internacionalizou o nome de Florianópolis. O período tornou o Estado de São Paulo o principal emissor de turistas para a Capital.

A terceira onda, no início dos anos 2000, é com base no entretenimento, com a chegada dos beach clubs, trazendo europeus para Florianópolis. Segundo de Luca, a quarta onda começou em 2017, ampliando as motivações dos turistas para vir à Capital.

“Hoje, somos o terceiro destino do país que mais atrai os travel offices e nômades digitais, isto é, profissionais liberais, ou não, mas que podem trabalhar de qualquer lugar do mundo”, contextualizou de Luca.

Para ele, a economia criativa, especialmente gastronômica, e eventos como Iron Man, Volta a Ilha, RD Summit e Folianópolis incrementaram o turismo da Capital. Ele também citou transformações recentes da cidade, como Floripa Airport, a futura marina da Beiramar, as restaurações da Ponte Hercílio Luz e Largo da Alfândega, além do engordamento da praia de Canasvieiras.

“Toda governança do turismo está muito mais preparada do que há 10, 20, 30 anos. Temos uma oportunidade, nesta quarta onda do turismo, de transformar Florianópolis numa cidade turisticamente reconhecida de forma internacional. O momento é ímpar com o novo aeroporto, com a marina que vem aí, com o novo Plano Diretor para transformar a cidade numa referência mundial”, finalizou de Luca.

O coordenador estadual dos projetos de turismo e de indicação geográfica do Sebrae Santa Catarina, Alan Claumann, destacou que Santa Catarina tem 13 regiões turísticas bem distintas umas das outras.

Ele apresentou alguns destinos que, com a contribuição do Sebrae e de parceiros, se transformaram na qualidade do receptivo turístico. Ele apresentou o case do projeto “Ratones Rural”, no bairro Ratones, descrito por ele como um lugar maravilhoso, onde 20 produtores rurais trabalham com agroecologia.

“É um ponto antigo de Floripa, único, rural, onde encontramos uma série de experiências únicas na Ilha voltadas à alimentação orgânica, passeios de cavalo para crianças, famílias e pontos de cultura e um pôr do sol maravilhoso”, descreveu Claumann, que também mostrou iniciativas que o Sebrae apoia em cidades de outras regiões, a exemplo de Laguna, Pomerode, Anchieta e Navegantes.

Vogal do conselho de administração da AMRAA (Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores) e presidente da Câmara Municipal de Velas de Açores, Luís Virgílio de Souza da Silveira apresentou as potencialidades turísticas do Arquipélago dos Açores. Para ele, falar dos Açores e do turismo da região é falar um pouco de Santa Catarina.

“Há muitos aspectos onde somos semelhantes, para não dizer iguais. Somos e nos promovemos como um destino de natureza. Um destino onde se desfruta do azul do mar, repleto das rochas negras basálticas e do verde das pastagens. Uma região de nove ilhas, com uma boa rede de transporte aéreos e marítimos e onde se pode, rapidamente, a custo muito baixo, visitar várias ilhas e ter uma noção do que é o arquipélago”, disse Silveira.

Conforme Silveira, Açores está sendo premiada como destino de natureza. “Este ano [Açores foi escolhido] como o melhor destino de aventura da Europa, mas também um dos melhores destinos em termos de sustentabilidade ambiental do mundo. Isso é algo que preservamos todos os dias. Queremos receber o turismo, mas preservar o que é a nossa natureza”, enfatizou.

Ainda conforme Silveira, o projeto Viva Açores vai, de fato, aproximar Florianópolis do arquipélago. “Nós os Açores e nós, de Santa Catarina, estamos determinados e vamos levar muitos daqueles que estão em Santa Catarina aos Açores, mas também virão muitos açorianos a Santa Catarina”, afirmou.

Diretor regional do Grupo ND em Florianópolis, Roberto Bertolin abriu o seminário no período da tarde. “Não há dúvida, nem para nós em Santa Catarina, nem para quem é dos Açores, sobre os laços afetivos que temos. Mais que isso, temos um desejo de transformar esses vínculos que nos unem em algo real e efetivo no sentido econômico e turístico”, frisou Bertolin.

Segundo ele, na época do planejamento do projeto Viva Açores, o presidente do Grupo ND disse que a empresa não poderia se limitar apenas a cumprir seu papel de produzir conteúdo, mas também criar uma oportunidade para que Santa Catarina e Açores construíssem relações.

“Temos um forte desejo no Grupo ND de que isso possa ser uma semente com resultados práticos, para que possamos construir caminhos naquilo que for viável. Falta-nos implementar as ideias que surgirão”, enfatizou o diretor.

No período da tarde, as contribuições dos painelistas focaram em negócios e empreendedorismo. O primeiro a falar foi o vice-presidente do conselho da Acif (Associação Empresarial de Florianópolis), Sander de Mira, que elogiou a iniciativa do workshop. “O trabalho do Grupo ND tem sido exemplar, de muita qualidade e incrível em prol da promoção de todo esse ambiente de negócios promissor.”

Ele lembrou que, em outros momentos, a Acif tentou iniciar um trabalho de aproximação em 2016. “O que difere essa tentativa daquela é que em nenhum outro momento tivemos tantas pessoas e entidades imbuídas neste propósito. Hoje, temos muita gente e gente competente envolvida. Essa força será o alicerce para conseguirmos criar resultados positivos desse nosso momento”, enfatizou Mira.

Apresentando Florianópolis à comitiva de Açores e também aos mais de cem portugueses que prestigiaram o workshop pela transmissão online, Mira apresentou indicadores de Florianópolis, como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,847, o título de 2ª cidade que mais empreende, o 1º lugar como mão de obra qualificada e o PIB (Produto Interno Bruto) da Capital, de R$ 7 bi, que posiciona a cidade como a 2ª maior economia catarinense.

“A ideia que a gente pode, enquanto ACIF, é induzir ou facilitar esse processo de aproximação e estreitamento dos nossos laços políticos, culturais, afetivos e no caso da nossa conversa de empreendimentos e de negócios”, declarou Mira.

O Secretário de Assuntos Internacionais do Governo de Santa Catarina, Fernando Raupp falou como o Estado atua para que os negócios entre Santa Catarina e Açores fluam.

Ele apresentou números do Estado, por exemplo, o crescimento de 9,3% em 2021, a taxa de desemprego de 3,9% e lembrou que, mesmo comportando apenas 1% do território nacional, Santa Catarina tem o 6º maior PIB do Brasil.

Também lembrou que o Estado tem três municípios entre as 20 maiores cidades empreendedoras do Brasil: Florianópolis (2º), Joinville (16º), Blumenau (17º).

Entre as iniciativas, Raupp falou da restituição do programa Investe SC, que serve para atrair investimentos nacionais e internacionais. O intuito é fazer com que empresas e países entendam as oportunidades presentes em Santa Catarina e tenham um contato mais próximo para que entendam as dificuldades e benesses de vir a Santa Catarina.

“Santa Catarina é um Estado muito diferenciado. No caso da indústria, não temos uma vocação. Não somos só agrícola, tecnologia, cerâmica, ou carvão. O nosso Estado abrange praticamente todas as áreas, tanto que é o 4º maior em número de indústrias”, pontuou Raupp.

O presidente da CCIPD (Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada) Mário Fortuna, iniciou a sua contribuição parabenizando o ND pela “ousadia” de organizar um workshop a fim de estreitar as relações econômicas dos catarinenses e dos açorianos.

“Estou encantado com o que ouvi hoje e com o potencial que existe, de vontade e de matéria concreta, para darmos mais passos no sentido de termos negócios associados a essas iniciativas”, disse Fortuna.

Em seguida, ele apresentou as principais características da economia dos Açores. Segundo Fortuna, agricultura e pesca, indústria, comércio e turismo são os principais setores da economia dos Açores atualmente.

Lideram as exportações os laticínios, peixe fresco e em conserva, turismo, apoio à navegação marítima e apoio à navegação aérea. No futuro, Açores quer exportar investigações dos oceanos e lançamentos de satélites.

O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, encerrou as falas do workshop apresentando algumas evidências da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina, por exemplo, as construções de arquitetura açoriana em Santo Antônio de Lisboa. Ele também parabenizou o ND pelo workshop.

“Ninguém faz negócio com quem não conhece. A oportunidade que esse evento nos traz é conhecer a cultura, as opções de negócio, turismo, lazer e assim por diante. E vocês açorianos puderam conhecer mais de Florianópolis e as oportunidades que temos nesse intercâmbio”, enfatizou o prefeito.

Curadora do projeto Viva Açores, a professora Lélia Nunes Pereira destacou que a primeira aproximação entre Açores e Santa Catarina foi em 1948, por meio do IHGSC (Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina); o segundo encontro foi na década de 1980, com o presidente dos Açores e o então reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Ernani Bayer.

“Esses encontros, porém, limitaram-se a trocas relacionadas a história e cultura. “O projeto Viva Açores e provamos aqui no workshop veio pela necessidade de dar um passo a mais: contar uma história pensando no amanhã em relação ao que pode ser feito no sentido de conjugar esforços entre Santa Catarina e os Açores”, disse Lélia, que também parabenizou o ND pela realização do evento.

Também participaram do workshop Jane Balbinotti da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagens); a presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Juliana Mota; o conselheiro da Diáspora Açoriana por Santa Catarina, Willian Agostinho Marques; o presidente da Câmara Brasil-Portugal de Comércio, Jatyr Ranzolin, o presidente da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), Iomani Engelmann Gomes e o presidente do Sapiens Park, Daniel dos Santos Leipnitz.

(ND, 21/10/2022)