19 maio Florianópolis: Entre a tradição e a inovação
Artigo de Gustavo Zinder
Documentarista
Foi-se o tempo em que Florianópolis era uma cidade resumida a sol e mar. Hoje, a Ilha da Magia vai muito além das belezas naturais. Somos referência em inovação e economia criativa. Temos instituições que fomentam a pesquisa, incubadoras que viabilizam projetos e uma cadeia de produção artística sedenta por espaço. Aliado a tudo isso, ainda temos nossa riqueza gastronômica, cultural, nosso patrimônio material e imaterial, que serve de estímulo e referência para impulsionar esse movimento criativo.
É claro que temos problemas, estamos longe de um cenário ideal. Há muito que fazer em termos de políticas públicas para permitir o crescimento do setor. Vale lembrar que a economia criativa é considerada um dos grandes vetores de crescimento da economia mundial pós-pandemia. Hoje ela representa quase 3% do PIB brasileiro, gerando mais de 6,6 milhões de empregos. Portanto, falta a compreensão do quanto áreas como, pesquisa, patrimônio, cultura e audiovisual geram em termos de emprego, renda, visibilidade e projeção da nossa cidade.
E para quem acredita que nossa cultura se resume a boi de mamão e pesca da tainha, vamos lembrar que hoje, Florianópolis possui verdadeiras galerias a céu aberto com os diversos murais que colorem a cidade, possui também o título de Cidade Criativa da Unesco por conta doss saberes e fazeres da nossa gastronomia, temos festivais que dão vida a espaços públicos, como a Maratona Cultural, uma produção audiovisual que conta e relembra histórias incríveis e personagens que inspiram novas possibilidade. Temos uma produção local riquíssima que busca e merece o profissionalismo adequado para se firmar como pólo nacional, assim como na tecnologia. Aliás, é preciso entender que inovação vai muito além da tecnologia, inovação é arte, é criação.
O que falta é um calendário de atividades para promover a capilaridade dessas ações de forma consistente, dando visibilidade e fidelizando o público. Precisamos pensar no legado da cidade equilibrando tradição e inovação. As histórias replicadas na oralidade como fez Franklin Cascaes, hoje tem o auxílio da tecnologia para facilitar essa difusão, através do audiovisual. Qual a melhor forma de perpetuar fragmentos diários de um capítulo da história, se não documentá-los?
A cidade criativa é resultado desse caldo, entre o velho e o novo, o calmo e a agitação, entre o risco e a cautela. A nostalgia pelo passado e a tradição não são mais amarras, mas ponto de partida para novas possibilidades.
Gustavo Zinder
Jornalista formado em Comunicação Social, dirigiu sua primeira obra audiovisual ainda na Faculdade ao produzir um documentário para o Trabalho de Conclusão de Curso. O filme ‘Natureza de não ser Igual’ aborda a música autoral em Santa Catarina, utilizando como fio condutor a banda Dazaranha, principal grupo musical do Estado.
Após a formação atuou como assessor de imprensa em agências atendendo clientes dos mais diversos setores junto aos principais veículos de comunicação do estado.
Em 2020 deu início a sua própria produtora audiovisual, Contexto Filmes. Apesar do pouco tempo, possui um portfólio relevante no que diz respeito à produção cultural local de Florianópolis.
Coautor do livro Entre a Escrita e a Imagem, um marco na difusão da literatura e da escrita audiovisual de Santa Catarina. São trinta autores/as, trinta contos e trinta roteiros de curta-metragem (inspirados nesses mesmos contos) em mais de quinhentas páginas de pura criação.
Diretor, produtor e roteirista do documentário ‘Em Obras’, filme que contextualiza o período de restauração da Ponte Hercílio Luz. Principal símbolo de Santa Catarina, a Ponte Hercílio Luz permaneceu interditada por quase três décadas. As obras de restauração iniciaram em 2006 e após diversos atrasos, a Ponte foi reinaugurada em dezembro de 2019. O documentário ‘Em Obras’ contextualiza o período de revitalização da Ponte Hercílio Luz, trazendo respostas sobre esse momento histórico e apontando as melhorias que a conclusão da obra traz para a sociedade.
Diretor e editor do curta-metragem ‘Negros em Desterro – Histórias de Resistência’, documentário que apresenta a história não contada da colonização de Florianópolis. O filme fala sobre a chegada dos negros junto com os açorianos e mais do que isso, conduz o espectador até o período atual, apresentando a relação entre personagens do passado e presente na luta pela conquista de espaço e reconhecimento. O documentário faz parte do projeto Vivências, uma série do Departamento Nacional do Sesc com 13 produções em todo país sobre histórias relacionadas à memória e ao patrimônio histórico.
Criador da websérie ‘Paradigmas’, projeto que apresenta cinco personagens de Florianópolis que romperam o conceito de trabalho formal em busca da realização pessoal e profissional, e hoje se tornaram referência em suas áreas de atuação. Um engenheiro recordista mundial de slackline, um jornalista com prêmio nacional de turismo, uma skatista olímpica de apenas 14 anos, um artista visual que repaginou a cidade e uma professora que leva inovação e tecnologia para a rede pública de ensino são os protagonistas dessa série.
Editor e montador da série ‘Destinos Brasileiros’, projeto desenvolvido pelo Sesc com o objetivo de fomentar o turismo através de roteiros guiados em vídeo, apresentando as belezas, características e conteúdo histórico de diferentes regiões de Santa Catarina. A série conta com produções nas cidades de Florianópolis, Laguna, Coxilha Rica (Lages) e Vila Itoupava (Blumenau).
(DeOlhoNaIlha, 18/05/2022)