Floripa paga o seu preço

Floripa paga o seu preço

Da Coluna de Sérgio da Costa Ramos (ND, 06/01/2022)

Como será a Floripa do amanhã? Será a do “Já teve” ou do “Nunca terá”? Será a Cidade-Ilha que mora no coração do manezinho, no imaginário do Brasil civilizado e no rol dos melhores índices de desenvolvimento humano da ONU?

Ou será esta cidade permanentemente engarrafada, irritada e engessada num indecifrável “Labirinto”?

Tão confuso e tão enredado que não haveria novelo de Ariadne, nem Teseu – o herói ateniense – capazes de encontrar o caminho salvador.

Mais da metade, 51,70%, dos seus habitantes já são formados por pessoas não-naturais do município e que hoje aqui constroem suas vidas.

Nos últimos dez anos a cidade cresceu em média quase 3% ao ano, recebendo 50 mil novos habitantes. Segundo o Plano Diretor de Floripa, a estimativa para 2035 é chegar a um patamar limítrofe do milhão – mais de 800 mil só na cidade.

Conseguiremos ser esse “Shangri-La” para os sonhadores jovens adventícios?

Cidade insular e portuária – paradoxalmente sem portos ou transporte marítimo – sobre a Ilha se abateram todas as pragas do progresso
predatório, associadas ao carrapato de uma ecoteologia caolha, que acaba provocando exatamente o que deveria evitar: a degradação ambiental.

Predomina a anti-lógica do baronato rodoviário: em dez anos, a frota brasileira pulou de 30,5 milhões para 70 milhões de veículos, com algumas cidades – inclusive esta que a Ilha hospeda – matriculando quase um carro para cada ser vivente.

Floripa atrai brasileiros e estrangeiros – muitos confundem a cidade com a Ilha, chamando-a “Ilha de Florianópolis”. A que existe é a “Ilha de Santa Catarina”, onde todo mundo espera morar um dia.

Quais serão os caminhos para que a nossa bela Ilha consiga construir um futuro abençoado?

Há bons indícios de que o labirinto será decifrado pelas vias do bom comércio e do turismo qualitativo, pela prodigiosa performance das indústrias de tecnologias limpas e sensíveis, dos parques do silício e das startups – isso num mundo em que ainda será possível preservar alguma “penugem” no peito de nossa Mata Atlântica e a prodigiosa beleza de nossas praias e enseadas, descortinadas do alto das nossas verdejantes montanhas.

Morar em Floripa é ser vizinho da ante-sala do Éden e pagar o aluguel em engarrafamentos no trânsito. Afinal viver na Ilha mais bela do
mundo tem a sua penitência.