Pesquisadores da UFSC alertam para danos ambientais da enxurrada na Lagoa da Conceição

Pesquisadores da UFSC alertam para danos ambientais da enxurrada na Lagoa da Conceição

Uma nota técnica assinada por pesquisadores dos projetos Ecoando Sustentabilidade e Veleiro Eco e dos laboratórios de Ficologia (Lafic), de Oceanografia Química e Biogeoquímica Marinha (Loqui) e do Núcleo de Estudos do Mar (Nemar) alerta para os possíveis prejuízos ambientais e riscos para a saúde humana do despejo de grande volume de esgoto tratado na Lagoa da Conceição, provocado pelo rompimento de uma lagoa de decantação da Casan. O incidente ocorreu na última segunda-feira, 25 de janeiro.

Na nota, os pesquisadores sugerem a realização de análises e o monitoramento “químico, biológico e ecológico” na laguna, para mensurar os impactos do derrame e subsidiar a adoção de medidas de mitigação e restauração ecológica.

O documento destaca que “a retenção de esgotos tratados em lagoas de maturação, decantação, evaporação ou infiltração é uma prática tecnicamente correta, desejável e preferível ao lançamento direto e contínuo dos efluentes em corpos de água naturais”. Alerta porém que é necessário o monitoramento da qualidade dessas águas e da estabilidade dos taludes e barragens associadas.

Apesar da alta eficiência do tratamento do esgoto in natura, o grande volume de esgoto tratado contido no reservatório, “ao ser despejado pontualmente e bruscamente, representa uma entrada altamente impactante de compostos químicos e componentes biológicos estranhos à Lagoa da Conceição”. Esse despejo atípico de nutrientes e matéria orgânica “pode quebrar a resiliência ecológica remanescente e acelerar o processo de eutrofização, com consequente expansão das zonas mortas já observadas nas regiões mais profundas da lagoa”. A eutrofização é o crescimento exagerado de algas, levando à diminuição do oxigênio na água.

Os pesquisadores destacam que a variação de salinidade decorrente da intrusão rápida de grande quantidade de água doce pode ter efeitos sobre organismos como plâncton, nectos e bentos (organismos que vivem no fundo da lagoa). As comunidades bênticas, consideradas de elevada importância para o equilíbrio ecológico do sistema, podem ser afetadas também pelos sedimentos (areia) arrastados pela enxurrada.

Além dos prejuízos ambientais, o derrame também pode apresentar riscos à saúde humana. Conforme a nota técnica, ainda que o líquido extravasado seja de esgoto tratado, não se descarta a possível presença de patógenos residuais. Por isso será necessário analisar a qualidade da água, para monitorar a presença de patógenos já identificados na região, como o vírus da hepatite A. O documento sugere que, por precaução, seja limitado ou proibido o contato de pessoas nas áreas afetadas e entorno “até que seja realizada caracterização detalhada do evento, por meio de análises químicas e biológicas da água e do sedimento”.

Veja a íntegra da Nota Técnica

(UFSC, 27/01/2021)