Depois de 35 dias, Santa Catarina tem retomada sob discursos conflitantes do governo

Depois de 35 dias, Santa Catarina tem retomada sob discursos conflitantes do governo

Da Coluna de Ânderson Silva (NSC, 22/04/2020)

Este 22 de abril de 2020 marca a retomada de atividades econômicas em Santa Catarina depois de uma paralisação de 35 dias ocasionada pelo coronavírus. Ao decidir pela restrição de circulação em 17 de março, o governo catarinense tomou uma medida drástica, mas necessária diante do avanço da doença. Agora, em uma série de idas e vindas no planejamento, o Estado anunciou a volta de shoppings, academias, bares, restaurantes e atividades religiosas sob argumentos dos números, mas com afirmações conflitantes.

Há dias o governador Carlos Moisés da Silva destaca em suas coletivas de imprensa a força do coronavírus. Ele chegou a comparar o momento como a preparação para “uma guerra”. Nesta terça-feira, novamente Moisés seguiu na mesma linha: “Temos ciência que os números vão aumentar, que a saída (da quarentena) vai aumentar o número de infectados”.

A frase acima deixa duas interpretações. A primeira é de contradição. Mesmo com a perspectiva do aumento dos casos e um cenário ainda pior pela frente, o governo decide responder à pressão de setores pela volta das atividades ainda que já houvesse um plano de retomada com datas definidas e coloca no catarinense a missão de fazer acontecer. Nesta lógica entra a segunda interpretação: Moisés se utiliza desse tom como forma de alerta. O tamanho do impacto dependerá da ação das pessoas.

No saldo geral, o clima é de insegurança. O governo precisa orientar e chamar a atenção, mas a população deve estar segura de que temos estrutura para enfrentar o novo momento, de que as decisões são realmente baseadas em números e não sob pressão. Até o momento, esta é a sensação. Os exemplos estão nas próprias atitudes do Estado: a primeira retomada anunciada lá em 26 de março previa a abertura de academias e shoppings, por exemplo.

Depois, houve um recuo e o funcionamento destes estabelecimentos ficou para o final dos meses de abril e maio, quando também estava prevista a retomada das igrejas. Além disso, se o cenário ainda indica um quadro preocupante, seria mais prudente respeitar o calendário inicial ou, no máximo, adaptá-lo como vimos nas liberações pontuais ocorridas nas últimas semanas em SC.

Como disse em texto já publicado aqui, esta ideia não durou nove dias e os calendários foram novamente alterados. Aparentemente não há uma linha condutora das decisões. Elas vão e voltam conforme o momento. Mesmo sob um discurso de preocupação, os cenários se alteram sem que isso, aparentemente, seja levado em contato.

Idas e vindas do transporte coletivo
Um dos exemplos de que o planejamento do governo de SC não segue uma linha de orientação é o transporte coletivo. Inicialmente a previsão era de retorno no dia 30 de abril. Mas, atividades que deveriam voltar em 31 de maio passaram na frente e estão liberadas a partir desta quarta-feira. Na coletiva de segunda-feira, quando surpreendentemente anunciou a retomada, o governador disse que não há prazo para a volta do transporte coletivo. Ou seja, nem mesmo a programação de 30 de abril parece estar mais nos planos.

Do ponto de vista econômico, não há discussão de que vai chegando o momento de flexibilizações. Os números de demissões e empresas fechadas representam bastante neste cenário. Agora, mais uma vez, o que chama a atenção é justamente que o planejamento do governo do Estado de 11 de abril tenha uma grande modificações justamente quando o governador reconhece que o cenário ainda será complicado.

E não falo aqui de uma mudança de planos baseada em números. É importante, inclusive, que haja análises constantes. Mas ao trazer para agora algumas atividades antes previstas para o final de maio deixa um sinal de que o governo está cedendo a pressões. O caso das igrejas, por exemplo, que não tem um viés econômico dá uma demonstração disso.