13 fev Caminhabilidade e a Saúde
Artigo de Camila Zabot
Arquiteta, membro do Grupo de revitalização de Espaços Urbanos – REVIT*
Caminhabilidade é uma qualidade do lugar, é a medida do quanto um ambiente urbano é amigável, seguro e confortável para o deslocamento a pé das pessoas. Cidades que qualificam os espaços urbanos melhoram o índice de caminhabilidade e promovem diversos benefícios aos cidadãos, como saúde, sustentabilidade e bem-estar. Bairros e ruas caminháveis estão associados a melhorias na qualidade de vida dos cidadãos: estes espaços promovem maior convivência e permanência de pessoas, incrementando a segurança e a saúde pública.
O desenho urbano com espaços integrados, onde as quadras são menores, permeadas por ruas formando uma grelha de conexões, propiciam distâncias caminháveis que facilitam o deslocamento não motorizados, incentivando uma vida mais saudável e ativa; estes espaços ganham mais do que atributos urbanísticos, eles se tornam espaços onde as pessoas se apropriam e vivenciam a interação social. A infraestrutura das cidades com ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas facilitam o deslocamento por bicicleta, assim como calçadas e passeios com dimensões adequadas, regularidade de piso, sem obstáculos, favorecem o deslocamento a pé.
Pesquisas mostram que caminhar é fundamental para prevenir obesidade, ataques cardíacos, diabetes e muitas outras doenças. Problemas com obesidade são cada vez mais comuns no Brasil: segundo o ministério da saúde, 1 em cada 5 brasileiros está acima do peso, e a prevalência da doença passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016. Muitos são os motivos que contribuem para esta estatística: segundo o IBGE, menos de 40% da população brasileira pratica algum tipo de atividade física.
Vários países dedicam-se a estudos relacionando o deslocamento pela caminhada e a massa corporal: no Canadá a pesquisa realizada pelo Metro Vancouver em 2010, constatou que a possibilidade de aumento de massa corporal diminui pela metade em moradores de bairros mais caminháveis, com maior conectividade entre as ruas e que ficam próximo a regiões de comércio, comprovando que estes deslocamentos suprem 90% das atividades físicas diárias. A pesquisa realizada em Atlanta nos EUA mostrou que, em bairros com baixos índices de caminhabilidade, 60% das pessoas são obesos, contra 35%, em bairros caminháveis. Outra pesquisa realizada considerando as cidades do estado de Massachussetts constatou que os menores índices de massa corporal estavam relacionados aos moradores da cidade de Boston, onde existe grande deslocamento exclusivo a pé ou com complementação do transporte coletivo. De acordo com o estudo realizado pelo Centro de Desenho Ativo de Nova Iorque, pessoas que residem em bairros com altos índices de caminhabilidade, praticam em média 100 minutos a mais de atividade física semanal do que moradores de regiões com baixos índices de caminhabilidade; o departamento de saúde desta cidade estima que a diferença nos níveis de atividade física gera um gasto de 500 calorias a mais por semana em bairros caminháveis. O estudo comprova que políticas públicas que priorizam o planejamento urbano com enfoque no transporte ativo favorecem, em muitos aspectos, a saúde nas cidades.
Diante destes dados, é inegável a necessidade de investimento na infraestrutura para os modais ativos de transporte, no que diz respeito a caminhabilidade, esta deve ser estruturada para proporcionar maior motivação, induzindo mais pessoas a adotar o caminhar como forma de deslocamento efetivo, restabelecendo a relação dos cidadãos com o ambiente urbano, e assim consequentemente, com a qualidade de vida nas cidades.
(Artigo original encaminhado pela autora à FloripAmanhã)
*O REVIT é uma iniciativa da Associação FloripAmanhã em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis.