25 nov Tradição da ‘farinha de guerra’ é preservada por agricultores de Santa Catarina
Tem quem chame a mandioca de macaxeira ou aipim. Embora o nome não seja uma unanimidade, a produção da raiz passou dos índios para gerações e gerações de agricultores por todo o país e não hoje existe um brasileiro que não a conheça.
No litoral de Santa Catarina, a produção artesanal de farinha de mandioca é uma tradição que tem quase três séculos. A atividade envolve mais de 60 engenhos, que fazem uma farinha bem fininha, típica da região, também conhecida como “farinha de guerra”.
A maior parte vai para consumo próprio, mas alguns produzem o suficiente para complementar a renda.
Só com a farinha, cada família ganha de R$ 4 mil a R$ 10 mil por ano, mas eles também conseguem outras formas de lucro, como a pesca e a produção da palmeira butiá.
“Como como ela (mandioca) é pouco exigente em fertilidade, em tratos culturais, isso faz com que você tenha tempo para se dedicar a outras atividades”, explica a engenheira agrônoma Marlene Borges.
Tradição que é preservada pela Associação Comunitária Rural de Imbituba (Acordi), a 100 km de Florianópolis. Presidida por Marlene, ela conta com mais de 50 famílias, que plantam em uma terra de uso comum e cuidam da rama até a farinha.
Em mais ou menos 50 hectares, as famílias produzem mais de 40 variedades de mandioca e aipim. Mesmo com essa história, os agricultores de Imbituba dizem que estão perdendo espaço para indústria e para o turismo local.
Agora, a comunidade luta pra regularizar sua terra e criar de uma unidade de conservação de uso sustentável. Nessa batalha, eles têm o apoio de uma rede que promove encontros entre produtores de todo o estado.
“Muitas vezes uma família está sozinha, fazendo farinha em uma comunidade que está sendo muito afetada pelo crescimento urbano. Quando ela se encontra com outras, esse ânimo pra continuar fazendo farinha, para continuar movendo essa roda do engenho volta”, afirma Ana Carolina Dionísio, articuladora da rede.
Agora, a rede catarinense de engenhos trabalha para que o modo artesanal de fazer essa farinha seja reconhecido como patrimônio cultural do Brasil.
E, para divulgar a cultura de engenho, as mulheres da comunidade de Imbituba criaram o “café na roça”, um banquete servido que custa cerca de R$ 20 por turista.
E a comida de engenho não é só farinha: a massa quente vira beiju. E o café coado vai bem com a bijajica, um casório da farinha com o amendoim. Tudo feito com a brasileiríssima raiz.
E essa turma movida a tradição ainda acha tempo pra preservar mais uma: na pausa da farinha, eles dançam o “boi de mamão”: um folclore catarinense sobre a o animal que, lá no início, fez a roda do engenho girar.
(Confira matéria completa em G1SC, 24/11/2019)