28 out Ilha em Santa Catarina abriga um dos animais mais raros do planeta
Por mais de 8 mil anos, o arquipélago Moleques do Sul guardou seu segredo. Localizadas a pouco mais de 8 quilômetros de Florianópolis, estas pequeninas ilhas fazem parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, e não são muito conhecidas para além dos círculos de pescadores locais. Tratam-se de três formações rochosas salpicadas de grama e arbustos, um pequeno paraíso para várias espécies de aves marinhas que utilizam o lugar como sítio de nidificação, mas um lugar desimportante para a economia humana. No entanto, a maior dessas ilhas abriga, em seus meros 0,1 km2, a única população de um dos animais mais raros da Terra.
À primeira vista, o preá de Moleques do Sul, Cavia intermedia, não parece muito diferente dos demais preás brasileiros. Os primeiros grupos de pesquisadores a colocar os olhos sobre ele chegaram inclusive a confundi-lo com mais de um de seus parentes continentais, identificando-lhe como Cavia aperea em 1989 e Cavia magna em 1991. Apenas em 1999, o biólogo Jorge Cherem mostrou que os habitantes de Moleques eram, sem dúvida, uma espécie própria, com tamanho, coloração, crânios e genética bem diferentes das demais espécies de Cavia. E isso levantava uma questão um tanto interessante. Apenas encontrado numa pacata ilhota do tamanho aproximado de dez campos de futebol, o preá de Moleques era possivelmente o mamífero com a menor distribuição geográfica do planeta, o que prontamente aguçou a curiosidade de mais cientistas.
“A minha dúvida inicial era sobre como funcionava essa população de preás, como era sua ecologia”, relembra Carlos Salvador, biólogo responsável pelo primeiro estudo ecológico da espécie. “Nós já sabíamos que ela estava confinada lá há muito tempo. Não eram 10 ou 100 anos, mas cerca de 8 mil anos!” Essa foi a época em que o arquipélago se separou do continente devido à elevação do nível do mar, isolando os poucos preás de Moleques do resto do mundo. E poucos eles de fato eram. Uma das perguntas que Carlos buscava responder, juntamente com o professor Fernando Fernandez da Universidade Federal do Rio de Janeiro, era quantos preás havia em média na ilha ao longo do tempo. A resposta, publicada na revista científica Journal of Mammalogy em 2008, era 42.
(Confira matéria completa em O Eco, 15/09/2019)