30 ago Hora de reconciliar os catarinenses e a Ponte Hercílio Luz
Da Coluna de Upiara Boschi (NSC, 30/08/2019)
Desde as primeiras horas de quarta-feira, a Ponte Hercílio Luz voltou a suportar sozinha seu próprio peso. A complexa obra de engenharia que devolverá este símbolo de Santa Catarina ao uso dos catarinenses chegou sem maior alarde a sua etapa mais importante. Era para ser um momento de festa, depois de 37 anos de percalços, promessas e muito dinheiro público investido.
Infelizmente, estes mesmos 37 anos de percalços, promessas e muito dinheiro público investido fazem com que terminar a restauração da Hercílio Luz seja apenas parte de uma desafio maior. Será preciso reconciliar a ponte e os catarinenses.
Durante quase quatro décadas, ela se tornou um monumento ao desperdício recursos e indícios de irregularidades – investigados pelo MMP-SC e por uma CPI em andamento na Assembleia desde o início do ano. Dizem a Hercílio Luz que elegeu muitos, embora não tenha votado em ninguém.
Essa reconciliação se dará conforme todos possam aproveitar a ponte – a previsão de entrega ainda é o final do ano. Mas também com a apuração das suspeitas que cercam a obra. Proponente e relator da CPI, o deputado estadual Bruno Souza aponta editais estranhamente frágeis, empresas habilitadas de forma irregular e falta de capacidade técnica. Nada disso pode ser ignorado.
Iniciada em 1922 em uma ousadia do governador Hercílio Luz – que queria dar-lhe o nome de Ponte Independência –, a travessia Ilha-Continente sempre foi controversa. Com a atual Lei de Responsabilidade Fiscal, nunca existiria. Ela manteve a capital catarinense em Florianópolis e impressionou o então presidente Washington Luiz. Semanas depois de conhecer a obra pronta, ele surpreendeu o país ao indicar o catarinense Victor Konder para o Ministério de Viação e Obras Públicas. Konder ocupara cargo semelhante em nível estadual e só não a inaugurou em 1926 porque deixou o posto para concorrer a deputado.
Passados 93 anos, caberá ao governador Carlos Moisés (PSL) a honra de proceder essa segunda inauguração. É dele um gesto importante na reconciliação entre a Hercílio Luz e os catarinenses: usar o aço da sustentação provisória para construir e reformar pontes em outras cidades. Mas é importante ressaltar aqui o papel do ex-governador Raimundo Colombo (PSD), em 2015, ao romper o contrato anterior e trazer o grupo português Teixeira Duarte para realizar a obra. Sem isso, dificilmente a Hercílio Luz estaria hoje prestes a ser devolvida aos catarinenses.