19 jun Segurança urbana: uma cidade boa para crianças é boa para todos
O administrador Murilo Cavalcanti, passou sua infância em Cabrobó, no sertão do São Francisco, em Pernambuco. “Meu brinquedo era a rua, nasci numa família de classe média, mas dividia a rua com todo mundo. Isso me ajudou muito a entender minha relação com as pessoas e os espaços”, afirmou durante IV Seminário Criança e Natureza, no Rio de Janeiro, no dia 11 de junho, realizado pelo instituto Alana em parceria com o Sesc.
Murilo era um empresário morador do Recife até 2003 quando sua irmã foi baleada em um assalto e ficou paraplégica. Decidiu ressignificar o trauma e passou a dedicar sua vida ao estudo e ativismo em torno dos temas violência e segurança urbana. De 2003 para cá, já foram mais de trinta viagens à Colômbia para estudar sua maior inspiração em gestão pública: as cidades de Medellín e Bogotá, na Colômbia.
A Prefeitura de Medellín conseguiu mudar drasticamente seus índices de violência por meio de melhorias no espaço público nos bairros periféricos da cidade. Criou espaços de convivência, investiu na primeira infância, acesso à justiça, transporte de qualidade e na mudança de cultura no que se refere à cidadania.
Já em Bogotá, as ações também foram neste caminho e com um trabalho em rede de todas as instâncias envolvidas como o Governo Federal, Ministério Público, Polícias, organizações da sociedade civil e todos os moradores. Para os gestores públicos colombianos, a prevenção da violência está diretamente ligada com o cuidado do espaço público, mas também da apropriação do morador da Justiça e da polícia.
Depois de lançar o livro “As Lições de Bogotá & Medellín – do Caos à Referência Mundial”, em 2013, Murilo assumiu a Secretaria de Segurança Urbana do Recife. “Aprendi com essas cidades que é preciso romper com a lógica perversa de ‘fazer coisa pobre para quem é pobre’”. Além disso, elas passaram a ter planejamento de curto, médio e longo prazo. “A gente precisa precisa pensar as cidades a longo prazo. Os prefeitos não devem mudar aquilo que está dando certo”, afirmou.
Outro ponto de inspiração que Murilo enfatizou é visão da primeira infância como prioridade. “Se queremos salvar esse país, precisamos ter como prioridade as crianças. Todas as secretarias do Recife tem como prioridade a primeira infância.
“Países que não investem em primeira infância são países condenados à pobreza” concluiu.
“A escola pública é o elemento mais importante de formação, mas ela sozinha não dá conta. É possível outras políticas públicas”, reiterou o secretário durante sua fala.
Inspirados nessa premissa e nos exemplos da Colômbia, Murilo foi o responsável pela concepção e modelo de gestão do Compaz – Centro Comunitário da Paz. Funcionando em Recife há pouco mais de três anos, o projeto tem mostrado resultados positivos na promoção da cidadania e na redução da violência no entorno.
O Compaz foi concebido sob a ideia de oferecer “o melhor para os mais pobres”, com o objetivo de garantir inclusão social e fortalecimento comunitário. “É um clube de bairro, um lugar que acolhe as pessoas, pois, se a cidade é boa para as crianças ela é boa para todo mundo”, afirmou.
Entre os dados, crianças que fazem atividades lá melhoraram o comportamento e o desempenho em matemática e português. Em uma delegacia a 500 metros de uma das unidades, todos os índices de violência foram reduzidos.
(Lunetas, 13/06/2019)