Planejamento ousado: Os 10 eixos para destravar a mobilidade de Florianópolis

Planejamento ousado: Os 10 eixos para destravar a mobilidade de Florianópolis

A Prefeitura de Florianópolis deu início a tratativas com as empresas que operam sistemas de mobilidade na cidade por aplicativo, como Uber e as bicicletas compartilhadas, em um estudo pioneiro para entender como as pessoas se deslocam pela cidade. Mas ter acesso a esse grande banco de dados de nada adianta se não houver planejamento e objetivos a perseguir.

No início de abril, ao anunciar o arquiteto e urbanista Michel Mittmann na supersecretaria que congrega planejamento urbano e mobilidade, o prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (MDB) disse que vislumbra uma nova forma de encarar o tema, que deve marcar esses dois últimos anos da atual gestão.

Mittmann então apresentou os 10 eixos temáticos que vão tratar de mobilidade e urbanismo em ações de curto, médio e longo prazo. Segundo ele, o BRT (Bus Rapid Transit) é o ideário para o sistema do transporte coletivo, mas que não precisa aguardar todas as obras para que o conceito comece a ganhar forma. “Já temos um estudo para utilizar um corredor exclusivo da ponte [Colombo Salles] para dar mais velocidade ao ônibus no trajeto de entrada da Ilha”, exemplifica, apontando outras iniciativas como melhoria de calçadas, ampliações de ciclovias e gestão do espaço urbano central.

Um dos grandes gargalos está nas pontes de acesso à Ilha de Santa Catarina. “É como se tivéssemos muitas tomadas para ligar em um fio muito fino. É claro que vai estourar”. E não faltam ideias, de ferry boat ao teleférico, mas que nunca sairão do papel se não tiverem um ponto de partida. O Notícias do Dia detalha aqui os principais pontos de cada eixo com as respectivas expectativas de implantação.

1 – Pedestres: Curto e médio prazo

O primeiro item dos dez eixos trata diretamente das pessoas no espaço urbano. O objetivo do município é fazer intervenções rápidas, como a ampliação do projeto + Pedestre, que amplia os espaços de pedestres na cidade, reforçando a cultura da caminhada, e o Calçada Certa. Nesse caso, o município vai começar reformulando os passeios de prédios públicos e ligando estruturas, por exemplo, ao ponto de ônibus mais perto ou a uma centralidade. A proposta prevê ainda melhorias em escadas, rampas e corrimões.

2 – Ciclos: curto e médio prazo

A principal ação será a ampliação de ciclofaixas e ciclovias. A longo prazo a construção de ciclorotas mais estruturadas. Com a inserção de novos equipamentos de aluguéis na cidade, o município quer ampliar as bikes para além dos espaços de lazer e instalar bicicletários e pontos de paradas em mais regiões. A proposta prevê uma ampliação de rotas da rede atual, que é de 96,200 km, para 158,531 km, conectando localidades e diferentes modais.

3 – Transporte público baseado no ônibus: curto, médio e longo prazo

Este é o principal eixo que vai tratar do transporte de massa. A municipalidade ainda aposta no ônibus como principal modal para longas distâncias e os planos são integrar a cidade através de BRTs. Mas iniciativas imediatas já serão tomadas, com o estudo de utilização de faixa reversível e exclusiva na ponte Colombo Salles para horários de entrada na ilha; pequenas alterações de rotas para priorizar a velocidade do ônibus na cidade.

4 – Outros modais: médio e longo prazo

Explorar o potencial das baías Norte e Sul é quase que uma emergência para desafogar o gargalo das pontes. O município poderá entrar de vez no transporte marítimo através da rota turística e aos poucos ampliar rotas e linhas. Outras soluções passam por elevadores em planos inclinados e até mesmo o teleférico. No horizonte o município também alimenta a possibilidade de um ferry boat.

5 – Transporte individual (carro ): curto e médio prazo

Regular as vagas de estacionamento, principalmente na região central, e buscar soluções que promovam fluidez do trânsito, sempre facilitarão também a vida de quem opta pelo carro. Para este tipo de transporte, o município prevê políticas de estímulo ao compartilhamento de caronas e a longo prazo sistema para comportar os carros elétricos. Como exemplo, Mittmann diz que os carros compartilhados poderão utilizar corredores exclusivos para ônibus. O controle será feito de forma eletrônica.

6 – Logística de cargas: curto e médio prazo

Apesar de já ter legislação para os horários de circulação dos veículos de carga, o município ainda sofre com falta de fiscalização e conscientização dos próprios motoristas e empresários. Para diminuir os impactos desses veículos no trânsito da cidade, em curto prazo se prevê a identificação e criação de pontos de carga e descarga nos bairros e no centro, fazendo com que o comércio estimule esse uso. Em médio prazo se prevê a implantação de um sistema de fiscalização de horários mais eficientes.

7 – Gestão e operação: curto e médio prazo

Esse eixo é mais conceitual e envolve mudanças internas e de atribuições dos órgãos da Prefeitura com demais agentes que atuam na área de mobilidade, Estadual e Federal. Entre os planos está a possibilidade de firmar parcerias de integração entre as polícias que atuam no trânsito. Nesse projeto está previsto maior integração também entre os setores de operação do trânsito e fiscalização.

8 – Planejamento e projetos integrados: curto e médio prazo

Prevê que projetos efetivamente cumpram a agenda da mobilidade e que tenham conceitos bem definidos para perseguir planos de longo prazo. Nas SCs, por exemplo, o município quer provocar a criação de uma câmara técnica entre prefeitura e governo do Estado para que os projetos para as rodovias que cortam a cidade sejam trabalhados de forma integrada. Outro exemplo é o projeto Ponte Viva, que prevê uma utilidade para a ponte Hercílio Luz a partir de planejamentos desenvolvidos pelo município.

9 – Planos: médio e longo prazo

É um conjunto de situações que trazem a questão urbanística para dentro da mobilidade. Há uma série de planos a serem mantidos e evoluídos, entre eles o próprio Plano de Mobilidade, o Plano Diretor e o projeto de regularização urbanística. São esses planos que vão prever a criação das centralidades, levando em consideração questões próprias de cada localidade, com áreas de desenvolvimento incentivadas para mesclar comércio, habitação e outros equipamentos em uma única região, poupando deslocamentos desnecessários.

10 – Governança e participação social

Formação da rede de mobilidade que vai atuar em diferentes frentes da mobilidade, sempre de forma integrada e buscando ouvir a sociedade. Caberá à rede organizar e debater as políticas de mobilidade da cidade e da própria região metropolitana, promovendo políticas junto às demais esferas de poderes.

(Confira matéria completa em ND, 27/04/2019)