09 jul Representante do SXSW fala da presença de Florianópolis e do Brasil na feira de inovação
Muito mais que um slogan atrativo sobre capital de inovação, Florianópolis de fato é reconhecida como um dos grandes polos de inovação, empreendedorismo e startup no exterior. Prova disso é a presença da desenvolvedora de negócios internacionais do SXSW (South By Southwest), Tracy Mann, que esteve na Capital na última semana para um encontro com o ecossistema criativo da cidade.
A nova-iorquina trabalha há 20 anos com o evento, que ocorre anualmente em Austin (Texas) e é um dos mais importantes do mundo quando o assunto é tecnologia. Sua vinda para Florianópolis na última terça-feira (3), onde palestrou no cinema do CIC (Centro Integrado de Cultura), é devido a sua participação em uma feira de startups em Brasília, em 2012, cujo nome da capital catarinense foi citado como destaque ao lado de Curitiba (PR), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG).
Todos os anos, Tracy faz viagens pelo Brasil para falar com as pessoas interessadas em conhecer e participar do SXSW. Segundo ela, muitos têm dúvidas de como se organizar, se programar e até mesmo se inserir na programação do evento, que inclui até duas mil atividades ao longo de dez dias, entre oficinas, workshops, exibição de filmes, shows musicais, etc. “Tem tantos pontos de entrada para o SXSW que é bom eu vir para cá e explicar tudo. Para mim vale muito também conhecer as indústrias criativas daqui, qual é o trabalho que as pessoas estão fazendo, como elas estão tendo impacto no mercado internacional. O nosso evento é uma grande reunião das pessoas mais criativas do mundo com o objetivo de fazer relacionamentos e gerar negócios”, coloca ela, que conheceu a Acate, na SC-401, e o projeto de reforma do centro histórico da cidade como polo de criatividade.
O formato da feira americana faz com que um executivo do Google, por exemplo, tome um café ao lado de um microempreendedor. “A coisa mais impressionante que falam é que o evento tem um formato de igualdade. Essas duas pessoas estão ali para conhecer ideias novas, abrir a mente, porque na vida normal, mesmo em conferências de negócios, não se faz essas coisas. Os contatos que as pessoas fazem em encontros inesperados são os que duram mais”, conta Tracy, que participou do segundo SXSW há mais de 30 anos como assessora de música, e hoje faz parte da marca.
Como tendência para o evento que ocorre em março do ano que vem, os caminhos de programação previstas, segundo Tracy, são: criptomoeda, inteligência artificial, cidades inteligentes, futuro do entretenimento, do varejo, da moda, da comida, da indústria musical e até a maconha enquanto business. “Inovação é a palavra-chave”, diz.
Confira a entrevista com Tracy Mann
ND – Como foi a participação do Brasil nos últimos anos? Parece que ganhamos uma certa relevância nos últimos cinco anos.
Tracy – Vai fazer seis anos que eu consegui fazer um bom relacionamento com a feira de startups de Brasília, que tem feito coisas importantes para o crescimento do Brasil no evento. Hoje o Brasil é uma das maiores presenças internacionais no South by Southwest. O Reino Unido e a Alemanha já frequentam o evento há décadas, então todos reparam na presença dos brasileiros. A gente realmente percebe essa energia brasileira na cidade.
ND – Existe a possibilidade de trazer o festival para o Brasil ou um modelo reduzido?
Tracy – Há alguns anos o Brasil pergunta sobre isso, mas nunca tive a liberdade de conversar sobre o assunto aqui. Ano passado fizemos um evento em Frankfurt (Alemanha), e o foco era o futuro da mobilidade, em parceria com a Mercedes-Benz, e esse ano acontece outro em Estocolmo (Suécia). Esse modelo é mais curto, com grandes palestrantes e menos bate-papo sobre indústria criativa. Convidei as pessoas daqui [de Florianópolis] para ver o evento de lá, para ver se esse modelo interessa. Tive a impressão que eles querem fazer algo muito mais amplo sobre as indústrias criativas, mas nesse momento não temos interesse nisso. A magia do nosso evento acontece em Austin, por motivos inexplicáveis. E o trabalho de montar um evento não é pequeno. Tivemos dois mil voluntários este ano e mais de 200 funcionários. A ideia é que tenha uma marca que traga o evento para cá, mas vi muita boa vontade em Floripa, boas ideias, e não quero fechar o assunto antes de desenvolvê-lo melhor.
ND – Como o SXSW enxerga o brasileiro?
Tracy – Acho que o americano continua sendo ignorante sobre como as coisas andam aqui no Brasil. A imagem parece ser de um estereótipo de que o Brasil tem músicas fantásticas, que tem uma alegria do povo. Sabem também que o Brasil é grande, parecido até um pouco com o nosso país, com diversidade de paisagens, de pessoas e de indústrias, mas ainda é um enigma, que não sabem como se entra nesse mercado. Na área de negócios, há muitos desafios da própria estrutura de negócios e impostos no Brasil. Acho que isso gera uma dificuldade dos americanos entenderem como se relacionar. Vejo que tem mais sucesso os empreendedores brasileiros que já tem algum pé nos EUA, como por exemplo, uma presença em São Francisco, Austin ou em uma produtora em Los Angeles. Essas forças melhoram a possibilidade de gerar negócios lá.
(ND, 08/07/2018)