SC-401 chega a 274 acidentes nos primeiros seis meses de 2018

SC-401 chega a 274 acidentes nos primeiros seis meses de 2018

Quantos acidentes já aconteceram na rodovia SC-401, em Florianópolis, somente neste ano? “Acho que foram 30”, apostou o autônomo Eduardo Furtado. “Deve ter sido uns 70”, rebateu o frentista Charles Rodrigues Ramos. Esses números, por si só, já seriam assustadores. Entretanto, o problema é pior do que parece: de acordo com a Polícia Militar Rodoviária de Santa Catarina (PMRV) entre 1º de janeiro e 5 de junho de 2018, foram 274 acidentes (sete a cada quatro dias) na rodovia que liga o Centro ao Norte da Ilha.

No ano passado, a reportagem da Hora mostrou as circunstâncias que fazem da SC-401 a via mais perigosa de Santa Catarina para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres, e abordamos as possíveis medidas que poderiam aumentar a segurança no trânsito por ali. De lá para cá, pouco mudou. O índice de acidentes é quase o mesmo, assim como o número de feridos. A única redução ocorreu no número de mortos, mas, ainda assim, três pessoas deixaram a vida no asfalto.

— A gente precisa dar uma conotação diferente para o trânsito, o pessoal tem que despertar, ninguém se choca mais com o número de mortes. Aí a gente vê quando um maluco entra numa escola nos EUA, atira e mata 10 estudantes. Nós estamos perdendo isso, ano passado foram 10 só na SC-401. Esse ano já foram três. É um “Columbine” da vida. O trânsito está matando muita gente, deixando uma série de pessoas inválidas… Nós estamos numa guerra — afirma o tenente-coronel Fábio Martins.

Instalação de radares e recapeamento do asfalto

O alerta do comandante da PMRV em Santa Catarina vem acompanhado de uma proposta: controladores de velocidade, principalmente próximo à curvas perigosas. Até o ano passado, o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), responsável pela gestão das rodovias estaduais — incluindo a SC-401 — era contra a medida. Com a saída de Raimundo Colombo e a chegada de Eduardo Pinho Moreira ao governo de Santa Catarina, Paula França assumiu a presidência do Deinfra e se mostrou favorável à instalação de radares fixos na rodovia.

— Sou a favor de controladores de velocidade. Normalmente, essa conversa cai no argumento de “indústria da mula”, mas a multa só ocorre se o motorista cometer uma infração. Mas não tem outra alternativa para garantir a segurança de motoristas, pedestres e ciclistas que não seja com o controle de velocidade. Os acidentes acontecem em pontos localizados, temos que trabalhar a sinalização e a questão da velocidade — comenta Paulo França.

Apesar da posição, dificilmente os controladores de velocidade serão instalados em 2018. Além de todo o processo licitatório necessário para implementar a medida, as eleições de outubro deixam em aberto o futuro do governo do Estado e, consequentemente, do Deinfra.

O debate sobre a instalação de controladores de velocidade, os chamados radares fotográficos, ainda divide opiniões. Se uma ala ainda acredita que tudo isso não passe de uma medida da “indústria da multa” para aumentar a arrecadação do município ou do Estado, há quem acredite que esta seja a primeira medida para diminuir o número de acidentes e mortes nas rodovias, em especial na SC-401.

— Além do desleixo com a infraestrutura da rodovia, tem muita imprudência dos motoristas. Acho que seria fantástico instalar radares, até porque nós brasileiros só prestamos atenção quando a coisa pega no bolso — avalia o vendedor Edson Rodrigues, de 60 anos, que mora no Itacorubi e trabalha com vendas no Norte da Ilha.

— A rodovia não é segura, principalmente por causa dos buracos e da irregularidade do asfalto. Acho que falta sinalização. O redutor de velocidade não é o ideal, mas poderia ajudar dependendo do lugar onde fosse instalado — rebate o autônomo Eduardo Furtado, de 37 anos, que mora no Monte Verde e costuma ir diariamente para os Ingleses.

— Os problemas começam pelos buracos, a péssima pavimentação e o abuso dos motoristas. É preciso melhorar a iluminação e a sinalização. Além disso, sou a favor de controlador de velocidade, principalmente antes das curvas — complementa o frentista Charles Rodrigues Ramos, de 29 anos, que faz de moto o trajeto São José-Santo Antonio de Lisboa diariamente.

Recapeamento do asfalto

O que pode ser que avance em 2018 é o recapeamento de boa parte da SC-401. Por enquanto, as poucas intervenções no asfalto da rodovia acontecem nas operações tapa-buracos depois de fortes chuvas. Com projeto em andamento, a expectativa é de que até o final do ano os 12 quilômetros de asfalto entre o cemitério do Itacorubi e a ponte do rio Ratones possam ser totalmente refeitos.

— Temos um limite de crédito no BNDES, que era do Fundam 2 (Fundo de Apoio aos Municípios) e estão transformando essa operação em um programa de investimento na infraestrutura estadual. Uma das prioridades do governo é a SC-401. Técnicos do BNDES vistoriaram o local e avançamos no enquadramento da obra. Depois disso, poderemos fazer a contratação do financiamento, mas ainda não temos prazo — afirma o presidente do Deinfra.

Transporte público de qualidade

O recorde de dias consecutivos sem mortes na rodovia SC-401 é de 210 dias. Atualmente, são apenas 23 dias consecutivos sem vítimas fatais. Se uma das principais causas apontadas para o elevado número de acidentes e mortes é a imprudência no volante, é fácil apontar uma possível solução: a melhoria do transporte público. A Grande Florianópolis até conta com o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (Plamus), mas, até agora, pouca coisa saiu efetivamente do papel.

— As cidades têm que começar a se projetar no futuro, porque vai chegar um momento em que não será possível (circular com carro particular). Florianópolis tem famílias com cinco carros… Todos esses veículos poderiam ser trocados por um metrô de superfície, que é muito mais tranquilo e polui menos que os carros. Chicago (nos EUA), por exemplo, é assim. Se eu tivesse um transporte público de qualidade, porque eu sairia de carro? — questiona o comandante da PMRV Fábio Martins.

Números da SC-401

2017
Acidentes com vítimas: 220 (33,6%)
Acidentes sem vítimas: 435 (66,4%)
Total de acidentes: 655 (1,79/dia)
Veículos envolvidos: 1.272
Número de feridos: 259 (0,71/dia)
Número de mortos: 10 (0,027/dia)

2018 (entre 1 de janeiro e 5 de junho)
Acidentes com vítimas: 91 (33,2%)
Acidentes sem vítimas: 183 (66,8%)
Total de acidentes: 274 (1,76/dia)
Veículos envolvidos: 501
Número de feridos: 106 (0,68/dia)
Número de mortos: 3 (0,019/dia)

(Hora de Santa Catarina, 19/06/2018)

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