05 mar “As cidades brasileiras foram completamente desestruturadas”, afirma Erminia Maricato
Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 02/03/2018)
Professora da USP e uma das maiores especialistas em desenvolvimento urbano no Brasil, a professora Ermínia Maricato profere aula magna nesta segunda-feira (5), em Florianópolis,, em evento que marca os 40 anos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. Na terça (6), lança o Manifesto BR Cidades, do qual é uma das coordenadoras nacionais. Ermínia foi secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo entre 1989 e 1992 e secretária executiva e ministra interina do Ministério das Cidades entre 2003 e 2005, no governo Lula. Antes de cumprir a agenda na Capital catarinense, a professora conversou por telefone com a coluna.
ENTREVISTA/ERMINIA MARICATO, especialista em desenvolvimento urbano
O que considera mais importante discutir sobre o futuro das cidades?
No período pós-ditadura, tivemos movimentos sociais fortes e um círculo virtuoso. Mas depois as cidades brasileiras foram completamente desestruturadas. A população pobre não tem atenção nem do Estado nem do mercado, e acaba ocupando áreas de preservação ambiental por falta de alternativas. Tivemos uma expansão horizontal das cidades, que desestruturou a possibilidade de construção de cidades sustentáveis. A população carente foi deslocada para fora da malha urbana. Além disso, o transporte coletivo é absolutamente precário no Brasil. Os últimos anos foram muito ruins para nossas cidades. Perdemos o protagonismo dos governos municipais.
Em que sentido?
Na década de 1980, fiz parte do governo Luiza Erundina e ficamos famosos no mundo por causa das políticas públicas implantadas. Tem também o corredor de ônibus de Curitiba, que repercutiu. O Estatuto das Cidades virou modelo para o mundo. Temos, portanto, uma legislação que é modelo e que fala, por exemplo, da função social da propriedade. Mas costumo dizer que o Judiciário desconhece essa legislação urbana avançada, que coloca, entre outras coisas, o pedestre e o ciclista como prioridade.