01 fev O legado cultural e social de Seu Getúlio para comunidade do Campeche
O céu amanheceu “choroso” pelas bandas do Campeche. As ondas pareciam caladas e o mar calmo anunciava o luto. Glória, a canoa centenária, ficou confinada no rancho. E o saudoso sax nunca mais soará pelas mãos de seu mestre. No fim da manhã, no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas), depois de dez dias de angústia, os médicos confirmaram a notícia que ninguém queria receber: Getúlio Manoel Inácio, 66 anos, não suportou o câncer no esôfago e morreu.
Militar da reserva da Aeronáutica, pescador nato, músico, entusiasta cultural e exemplo de líder comunitário, seu Getúlio, como era carinhosamente tratado, deixou um vazio nesta quarta-feira (31). Douglas Ricardo Rabelo, 32, chorava sozinho ao lado do rancho. “Eu devo muito da minha vida ao seu Getúlio. Eu cheguei aqui morando em uma barraca, comia sobra dos restaurantes, e se hoje estou aqui muito se deve a esse homem”, contou o jovem gaúcho que vive no Campeche.
Notícia ruim corre rápido. Os mais chegados se apressaram em largar tudo e correr para a Capela São Sebastião, aonde o corpo chegou por volta das 16h para velório noite adentro. “Ainda semana passada falei com ele, me pediu uns peixes”, disse Laurentino Benedito Neves, o Xinho, 55, mestre da canoa Saragaço, da Barra da Lagoa.
Getúlio, seguramente, era um dos principais representantes da pesca artesanal de Santa Catarina. Engajado, brigou muito pela valorização da cultura local e pela sua comunidade. Foi o fundador da Associação dos Pescadores Artesanais do Campeche e mentor da Missa Campal, realizada todos os anos, desde 2004, na abertura da safra da tainha. “O tio Getúlio era uma pessoa incrível. Homem forte, esteve de pé até o final. Ele deixa um legado para toda a comunidade e vamos honrar seu nome, continuar essa luta”, contou o sobrinho Pedro Aparício Inácio, atualmente presidente da associação fundada pelo tio.
O enterro está marcado para as 10h, no cemitério São Sebastião, no Campeche. Antes deve ser realizada uma missa de corpo presente.
(Veja Matéria completa em ND, 31/01/2018)