Explosão de moradores leva esgoto a praia no sul de Florianópolis

Explosão de moradores leva esgoto a praia no sul de Florianópolis

A praia do Campeche tem mar gelado, ondas grandes e correnteza forte. Mesmo assim, nos últimos anos se tornou uma das mais procuradas por turistas e por quem quer viver em Florianópolis.

Até os anos 2000, a praia com dunas rústicas e várias ruas sem asfalto era o destino de quem buscava sossego e contato com a natureza.

Agora, tem atraído condomínios com apartamentos de quatro quartos a R$ 2,1 milhões, o que só se via em áreas como Jurerê Internacional.

O crescimento acelerado, porém, aumentou o volume de esgoto, refletindo na qualidade da água, historicamente a mais limpa da cidade.

Localizada no sul da ilha, a 25 km do centro, a praia do Campeche não tem rede de esgoto nenhum bairro dessa área da cidade tem.

Os moradores são orientados a construir fossas. Condomínios devem instalar sistemas compactos de tratamento de esgoto.

O problema é que há vazamentos, e o esgoto chega à praia via rios ou em enxurradas após as chuvas.

Nesta temporada, moradores e turistas já gravaram vídeos que mostram esgoto correndo em direção ao mar.

Na área central da praia, análises da Fatma (Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina) indicam que a balneabilidade do local se mantém estável há décadas.

Em 1997, todos os 22 testes aprovaram o local para banho. O mesmo ocorreu nos 27 exames de 2007 e nos 27 de 2017, períodos consultados aleatoriamente pela Folha.

Mas na ala esquerda da praia, onde está o maior foco do crescimento imobiliário, a poluição impressiona.

Em 2011, no primeiro ano de análises no local, 12 dos 24 testes consideraram a área imprópria para banho. No ano passado, foram 14 rejeições em 27 testes.

De acordo com a fundação ambiental, a área é considerada própria para banho quando ao menos quatro, entre cinco coletas consecutivas, derem negativo a uma bactéria presente em fezes de animais e humanos.

Estamos vivendo um choque de realidade. O Campeche era um paraíso que se tornou infernal [por causa do esgoto], diz Maria Lucia das Chagas, do Movimento SOS Campeche Praia Limpa.

A entidade estima que a população no Campeche saltou de 9.000 habitantes em 2008 para 40 mil.

A poluição no mar, na opinião da Associação de Moradores, se deve ao crescimento imobiliário e populacional.

Permitiram um crescimento incompatível. O norte e o leste da ilha já estão saturados. O sul está sendo ocupado sem planejamento, afirma Alencar Vigano, presidente da Associação de Moradores do Campeche.

PREFEITURA

Lucas Arruda, superintendente de Habitação e Saneamento da Secretaria de Infraestrutura de Florianópolis, diz que a prefeitura está atenta aos impactos ambientais do crescimento urbano na praia do Campeche.

A prefeitura criou limite de dois pisos às novas construções, tem fiscalizado o esgoto das casas e dos condomínios e atua para criar rede e estação de tratamento de esgoto, afirma a administração.

A estação ficará pronta em 2019, segundo a Casan (Companhia Catarinense de Água e Saneamento). De início, atenderá 25 mil pessoas. Depois, com a ampliação do sistema, poderá atender até 90 mil pessoas.

(Folha de São Paulo, 04/02/2018)