05 fev Edificação histórica no Centro precisa de cuidados
Da Coluna de Carlos Damião (ND, 03/02/2018)
“Florianópolis é a terra do já teve”. O bordão é antigo, de mais de 40 anos, mas é fato que a cidade já teve porto, Base Aérea (a que existe hoje é só um destacamento), foi a sede do 5º Distrito Naval, teve o Miramar, o mar chegando à região central, praias sem poluição, entre tantas outras lembranças. Já teve também um Museu do Saneamento, inaugurado em 1985, pela Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), contendo ferramentas, equipamentos, plantas, mapas, fotos e outras relíquias. Sua sede era o castelinho da antiga Estação de Elevação Mecânica, na esquina da Rua Antônio Luz com a Praça Fernando Machado.
Durante muito tempo o pequeno prédio “fez par” com o Miramar, demolido pelo governo do Estado durante a implantação do Aterro da Baía Sul (1972-1975). O castelinho, junto com o Forte Santa Bárbara, o prédio da Alfândega e o Mercado Público, é um dos remanescentes importantes da antiga área marinha do Centro.
O nome ainda está lá, em uma vistosa placa com os dizeres:
“Museu do Saneamento – Estação elevatória de esgotos (estação de elevação mecânica e antigo mictório público) construída em 1916, como parte do sistema de esgotos sanitários de Florianópolis, pela firma Brando & Cia. Obra dos governos Vidal José de Oliveira Ramos e Felipe Schmidt. Foi restaurada e instalado o Museu em 1985, pela Casan, no governo Esperidião Amin-Victor Fontana”.
O mais impressionante é que o museu consta dos guias turísticos de Florianópolis como atração a ser visitada, além de estar devidamente localizado no Google Maps, mapa digital de fácil acesso para qualquer usuário da internet.
Remendos para proteção
Há dúvidas sobre quanto tempo o Museu do Saneamento chegou a funcionar de fato, é provável que apenas nos primeiros dez anos. Passados 32 anos da reforma total do castelinho, o que resta são portas remendadas com pedaços de tábuas, para evitar a invasão por parte de moradores de rua e camelôs. Há alguns anos os ambulantes arrombavam as portas para utilizar o espaço interno como depósito de mercadorias, em especial cigarros, DVDs, CDs e óculos contrabandeados do Paraguai.
A decadência da edificação acompanhou a depreciação geral do setor Leste da Praça 15 de Novembro, depois que o Terminal Cidade de Florianópolis perdeu as principais linhas urbanas para o Ticen (Terminal Integrado Central), localizado a 500 metros. Toda a movimentação humana migrou para a região do Ticen, desvalorizando o comércio situado nas ruas Antônio Luz, João Pinto, Tiradentes e Victor Meirelles.
Sistema integrado
O castelinho onde foi instalado o Museu do Saneamento integrou um sistema pioneiro de tratamento de esgotos em Florianópolis, implantado nos governos de Vidal Ramos (1910-1914) e Felipe Schmidt (1914-1918). Outros dois castelinhos da época foram restaurados e ficam na Praça dos Namorados, em frente ao Largo São Sebastião, e na Praça Celso Ramos. Estão em ótimo estado de conservação.
Casan esclarece
Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Casan informou que a empresa depende de autorizações oficiais para recuperar a estrutura degradada do castelinho central. A nota, na íntegra:
“No ano passado a Casan realizou um levantamento de campo que demonstrou que, em função de vazamentos e infiltrações, o castelinho depende de uma reforma estrutural.
Como se trata de construção histórica, a Casan realizou uma consulta ao Ipuf e à Fundação Catarinense de Cultura, para desenvolvimento de um projeto de recuperação pela Gerência de Projetos da Companhia.
Porém, até mesmo em limpezas emergenciais e colocação de tapumes para segurança, que a Casan tem providenciado periodicamente, há necessidade de que todo cuidado seja tomado, para que não ocorram descaracterizações da fachada.
No Centro de Florianópolis são constantes as ações de vandalismo, o uso de espaços públicos como dormitório e mictório, e uma nova limpeza será providenciada no local, assim como a troca de tapumes.
A Casan reconhece a importância dos castelinhos para Florianópolis e está tomando providências para que o projeto de recuperação siga todas as exigências decorrentes da recuperação de construções históricas”.