09 jan Temporada em Florianópolis: os problemas de todos os anos
Da Coluna de Carlos Damião (ND, 08/01/2018)
Quem circula pelas praias, neste auge da temporada, percebe inúmeras deficiências que, no caso de Florianópolis, são crônicas. A cidade padece de um mal antigo, do aproveitamento financeiro abusivo, por parte de alguns, durante o período de veraneio mais efervescente. Esses alguns querem lucrar o máximo possível num curto espaço de tempo, explorando turistas e moradores. Dá para constatar esse fenômeno na prática de preços extorsivos que, uma vez aceitos pelos consumidores, multiplicam o faturamento dos estabelecimentos. Claro que há exceções – e elas constituem quase a maioria –, entre proprietários de mercados, padarias, restaurantes, bares, hotéis e pousadas, para citar alguns tipos de negócios prósperos da temporada.
No Centro a questão dos preços não é muito diferente, mas, pela diversidade de opções, o comércio de alimentos, de modo geral, tem um comportamento mais competitivo e, portanto, menos explorador. Não é o caso dos combustíveis: em alguns postos da região e dos bairros próximos a gasolina aditivada chega a custar R$ 4,499 o litro. Ao pedir uma explicação ao frentista, o consumidor ouve a justificativa sincera e definitiva: “Enquanto a cidade estiver cheia de turistas o preço vai ser salgado mesmo”. O remédio é circular pelos postos do continente florianopolitano e dos municípios próximos.
Degradação urbana
O que chama muita atenção no Centro é a presença cada vez maior de moradores de rua, que ocupam diversos espaços, em especial sob marquises de alguns prédios conhecidos, como o Edifício das Diretorias (Rua Tenente Silveira), o Clube Doze de Agosto (Avenida Hercílio Luz) e o Procon (Rua Victor Meirelles). São dezenas de homens (poucas mulheres), todos os dias, dormindo e perambulando pelas ruas. Grande parte dessa população de rua é consumidora de crack.
Nas ruas Tenente Silveira e Deodoro, no entorno do Edifício das Diretorias, o caso já virou de saúde pública. As calçadas e canteiros se transformaram em latrinas. Logo cedo, por volta das 9h, é possível sentir o forte odor de urina e fezes. Mesmo problema que ocorre na área do Coreto Maestro Hélio Teixeira da Rosa, na Praça 15 de Novembro: o tronco de uma árvore é utilizado como banheiro, não só pelos moradores de rua, mas também por jogadores de dominó e carteado que se juntam na praça todos os dias. Segundo um trabalhador da Comcap, pela manhã o fedor é insuportável, quase obrigando os encarregados da limpeza pública a utilizar máscaras de proteção.
A limpeza na área central da cidade é um item a merecer reparos. Não que os funcionários da Comcap não se esmerem em varrer e recolher o lixo espalhado (e até as fezes depositadas nos canteiros da praça). O problema é o aspecto encardido mesmo, de calçadas, muros e paredes. A ação de vândalos inclui ainda as pichações aleatórias, que não têm nada a ver com arte urbana.
O Centro precisa de uma faxina completa, com hidrojato e outros recursos modernos de limpeza. Para isso, é indispensável a realização de um mutirão, envolvendo não apenas a Comcap, mas também servidores de outras áreas da prefeitura, com a colaboração voluntária de entidades da iniciativa privada e mesmo de empresas. O fato é que a região está muito feia e com aspecto degradado. Faxina necessária não por causa dos turistas, que já vão embora, mas por nós que circulamos todos os dias pelas ruas, calçadas e praças.
Falta de zelo
Apesar dos esforços da fiscalização municipal, ambulantes ilegais voltam a ocupar espaços públicos, tanto nas praias, quanto no Centro, vendendo tudo que é tipo de quinquilharia. Eles são muito organizados, rápidos e espertos. Sem falar nos músicos de ocasião: um violinista solitário no Largo São João Paulo 2º (Catedral), um guitarrista e um violonista no calçadão da Felipe Schmidt, uma dupla sertaneja na Conselheiro Mafra, um velho maluco desafinando músicas de Roberto Carlos… Tem de tudo.. E pedintes, pedintes e mais pedintes pelo centro inteiro. Em certos aspectos, a cidade parece um muquifo: as ruas dão a impressão de que ninguém se importa em zelar por ela.