Três terminais de ônibus de Florianópolis custaram quase R$ 13 milhões e estão ociosos

Três terminais de ônibus de Florianópolis custaram quase R$ 13 milhões e estão ociosos

Em vez de receberem ônibus e passageiros, três terminais de Florianópolis desativados viraram destino de lixo, usuários de drogas e descaso. Os elefantes brancos se chamam Tisac (Saco dos Limões), Ticap (Capoeiras) e Jardim Atlântico. Eles foram pouco usados para o seu fim original e nunca mais serão utilizados como terminais: as secretarias de Mobilidade Urbana e do Continente têm planos diferentes para eles.

Inaugurados no final da gestão Angela Amin, em 2004, os três terminais foram desativados pelo sucessor Dário Berger. Ele chegou a dizer que não sabia o que fazer com as estruturas. O atual secretário de Mobilidade de Florianópolis, Marcelo Silva, diz que esses terminais estão localizados no contra-fluxo do sistema de transporte, em locais “totalmente inadequados”. Segundo Marcelo, eles não funcionam como integração no transporte público na Capital e Região Metropolitana.

A reportagem da Hora foi conferir a situação deles nesta semana e encontrou verdadeiros “terminais fantasmas”, que, somados, custaram R$ 12,7 milhões aos cofres públicos.

Tisac foi incendiado

Localizado a um quilômetro do Centro, o Terminação Integração do Saco dos Limões foi alvo de vandalismo na semana passada. O local foi saqueado e incendiado. As guaritas e os banheiros estão tomados pela fuligem. Os vidros estão quebrados, as portas arrancadas, há pichações pelas paredes e os painéis com os horários dos ônibus foram jogados no chão.

Do outro lado do terminal, na Avenida Prefeito Waldemar Vieira, fica uma igreja, frequentada por Domingos de Souza, de 56 anos. Ele conta que é comum usuários de drogas se encontrarem no Tisac.

— A gente olha aí pra frente e fica imaginando ele (o terminal) funcionando, ou como um ponto de comércio, um sacolão. E ele aí vazio assim. Por isso vira ponto de usuários. Foi uma ideia errada esse terminal aí. Hoje o Tisac serve apenas como estacionamento dos ônibus do consórcio Fênix e dos caminhões da Comcap.

Jardim Atlântico parou no tempo

Em 2014 começaram as obras para transformar o Terminal Jardim Atlântico no sonhado Mercado Público do Continente. No entanto, desde setembro do ano passado, os trabalhos pararam com 70% de conclusão a um custo de R$ 1,7 milhão. Os boxes estão lá sobre a plataforma, mas sem pintura, portas, janelas ou instalação elétrica. A vegetação já começa a tomar conta da pista, e o mofo, das paredes. Do lado de fora, o lixo impede a entrada de pessoas. Um córrego poluído que passa ao lado traz um cheiro bastante desagradável.

Dentro do terminal desativado moram dois casais que alegam estar ali a pedido da empresa que executava a obra. Eles não foram localizados pela reportagem, mas os cachorros deles estavam lá, e as roupas no varal. Atrás do terminal fica a deserta UPA do Continente, outra novela.

Ticap virou centro de ponto de lixo

Dos três terminais desativados, o de Capoeiras é o único que é utilizado, ainda que para outro fim. Funciona no local um ponto de descarte de lixo da Comcap. Em vez de ônibus, estão estacionados na pista contêineres com material reciclável, separados por metal, vidro, entulhos, eletrônicos, madeira, etc. No fundo, ficam pneus de carro. Ali as cooperativas de coletores selecionam o que podem reciclar, e o resto vai para o centro de resíduos do Itacorubi. Luiz Nardi, de 48 anos, é o gari da Comcap que trabalha durante a tarde no terminal:

— Antes isso aqui era usado por usuários de drogas. Estava cheio de fezes, sujeira. Agora a Comcap tomou o local e está fazendo um trabalho importante.

Apesar do trabalho desenvolvido ali, o prédio carece de manutenção. O telhado metálico está tomado de ferrugem, e do lado de fora há muito lixo espalhado.

Quais são os planos da prefeitura

O terreno onde está o Tisac pertence a União, e o prédio foi devolvido ao governo federal depois que a Companhia Operadora de Terminais de Integração (Cotisa) abandonou a administração. Conforme o secretário Marcelo Silva, a prefeitura solicitou de volta a estrutura para fazer ali um centro de tecnologia.

— Quem vem do sul da Ilha teria que saltar no Saco dos Limões e pegar outro ônibus para o centro da cidade. O posicionamento foi inadequado para um sistema inteligente. Imagina, você está a um quilômetro do centro e tem que descer em um outro terminal antes e pegar outro ônibus.

A ideia da prefeitura é criar ali uma incubadora de serviços, sediando startups catarinenses. Esse projeto está com a Secretaria de Turismo, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Capital.

Destino parecido deve ter o terminal de Capoeiras. Conforme o secretário do Continente, Edinho Lemos, o ecoponto da Comcap vai sair dali, e o Ticap irá se tornar o futuro polo tecnológico do Continente, uma parceria com o Governo do Estado.

— Já fizemos uma visita técnica, então a coisa está caminhando bem. Será um investimento entre R$ 8 e R$ 10 milhões para a incubadora de startups, sendo R$ 4 milhões por parte da prefeitura. O projeto é bem audacioso.

Quanto ao terminal do Jardim Atlântico,a prefeitura desistiu da ideia de Mercado Público. De acordo com Edinho Lemos, na gestão passada houve uma quebra de contrato unilateral por parte da prefeitura porque a empresa contratada abandonou a obra. Os oito permissionários dos boxes entraram no Pró-Cidadão pedindo o ressarcimento dos valores investidos. Edinho informa que vai funcionar naquele local um posto dos bombeiros e do Samu.

— Nesse mês, vamos fazer a assinatura da sessão da área. É um ponto estratégico, pois fica ao lado da futura UPA do Continente.

TISAC
Construção: 2003
Custo: R$ 912 mil
Desativado: 2005

JARDIM ATLÂNTICO
Construção: 2004
Custo: R$ 6,7 milhões
Desativado: 2005

TICAP
Construção: 2004
Custo: R$ 5 milhões
Desativado: 2005
(Fonte: Secretaria de Mobilidade Urbana)

(DC, 16/11/2017)