06 nov Referências urbanas de Florianópolis que não se perdem
Da Coluna de Carlos Damião (ND, 05/11/2017)
No balcão de uma loja da Rua Conselheiro Mafra, a jovem estudante, recém-chegada a Florianópolis, pergunta para a atendente se tem um determinado produto para artesanato. “Estamos em falta”, responde a moça. “Mas isso tu vais achar lá na Galeria Jaqueline”. A estudante faz um gesto de dúvida com as mãos e pergunta: “Onde fica essa galeria?”. A balconista aponta para a esquerda e responde “é logo ali, segue reto toda vida” e a garota sai caminhando no rumo certo.
A Galeria Jaqueline é uma referência importante do centro de Florianópolis desde a década de 1960: foi uma das primeiras galerias comerciais da cidade, uma passagem entre as ruas Conselheiro Mafra e Felipe Schmidt, com pelo menos duas dezenas de lojas.
O caso da estudante é ilustrativo da questão das referências, da geografia urbana de Florianópolis. Quantos, entre jovens e novos moradores, já não ouviram a indicação de que o IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) fica quase em frente à “Rodoviária Velha”? Ou que o Beiramar Shopping fica a 200 metros do Banco Redondo (Praça Etelvina Luz)? Ou que a loja tal está localizada nas proximidades do Senadinho? Ou ainda que determinado evento será realizado no Trapiche da Beira-Mar (Praça de Portugal)?
Origens estranhas (e nem tanto)
A “Rodoviária Velha” foi desativada há 36 anos, quando ocorreu a inauguração do Terminal Rodoviário Rita Maria, mas continua sendo conhecida assim, apesar de sediar inúmeras atividades comerciais em suas três faces – avenidas Hercílio Luz e Mauro Ramos e travessa Doutor Zulmar de Lins Neves.
O Banco Redondo é uma das indicações urbanas mais emblemáticas da capital catarinense. É muito provável que essa pequena pracinha remonte à década de 1960, não se sabe ao certo quem foi o responsável pela sua implantação. Mas não surgiu para ser o Banco Redondo, era apenas um banco redondo cercando uma árvore, como é até hoje.
O Trapiche da Beira-Mar é exatamente o que o nome diz e fica na extensão de uma das praças implantadas na avenida. O Koxixo’s é outro caso interessante, porque o bolsão de estacionamento acabou incorporando o nome do quiosque construído na década de 1980, um ponto de encontro social, esportivo, político e cultural importante da cidade, recentemente atingido por um incêndio.
Curva do Madalona (ou Curva do Penhasco), no bairro José Mendes; Pinicão da Casan, a estação de tratamento de esgoto no Aterro da Baía Sul; Praça dos Bombeiros (Getúlio Vargas); Praça do Hippo, o Largo Benjamin Constant, também chamada de Pracinha do Avião; Palácio do Governo (Palácio Cruz e Sousa); Marmitão (prédio do Fórum), Praça do Hemosc (D. Pedro 1º) são denominações que se popularizaram e persistem no cotidiano.
Nomes que ficaram na memória
Há nomes que se perderam no tempo, mas os mais velhos ainda lembram, por exemplo, da Rua da Leiteria, hoje Armínio Tavares, em frente ao Colégio Catarinense, sentido Avenida Gama d’Eça. Igualmente, o Morro da Antena, ao lado do Morro do Céu; o Campo do Manejo, área do Instituto Estadual de Educação; o Largo 13 de Maio, bairro da Prainha, o Morro do Hoepcke, hoje Rua Hoepcke; o Morro do Bode, ao Sul do Morro do Mocotó, na Mauro Ramos; o Morro do Stodieck, atual Rua Alan Kardec, na Agronômica; Arataca, na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz; Chácara do Espanha, a atual Rua Lacerda Coutinho.
Na parte continental, há a célebre Praia do Cagão, que dispensa explicações, entre o Balneário e o Jardim Atlântico; o Bairro de Fátima, na região da igreja de Fátima; o Morro do Geraldo e a Vila São João (Capoeiras); o Praia Clube (Clube 12 de Coqueiros), entre tantas outras referências, umas mais populares, outras mais restritas a pequenas comunidades, mas todas fundamentais para localizar os moradores – sejam nativos, sejam adotados.