A formação de redes na valorização de resíduos sólidos

A formação de redes na valorização de resíduos sólidos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2012 pouco foi implantada no Brasil. Apenas 990 dos 5.500 municípios têm coleta seletiva e em áreas limitadas. Muitos separam o lixo em casa e o caminhão mistura tudo. Onde tem a coleta seletiva, 40% não são aproveitados por serem considerados sem valor comercial, sendo destinados a aterros.

Na busca de solução alternativa para os resíduos sem valor comercial, empresários fazem parcerias com grupos de geração de renda para sua reutilização artesanal. São iniciativas louváveis que devem ser incentivadas, mas representam pouco impacto quando implantadas isoladamente, não fazendo frente à proporção do problema. Sem melhor solução, o rejeito dessas iniciativas também termina em aterros. Ou seja, cumprem seu papel junto aos grupos apoiados, mas de fato não resolvem o resíduo. Por isso, é relevante a formação de redes de reutilização/reciclagem que articulem geradores, empreendedores e grupos de geração de renda.

Essas redes permitem que os resíduos dos geradores (não necessariamente um, podem ser vários) encontrem soluções de sobrevida em produtos de reutilização executados por grupos de geração de renda com orientação de profissionais, como designers e assistentes sociais. E as aparas desta produção, aliado ao que não foi aproveitado, sejam direcionas para a reciclagem em empreendimento integrante da rede colaborativa.

A Startup Ciclo Reverso propõe o licenciamento e a transferência de tecnologia para valorização de resíduos sólidos considerados sem valor comercial. Após processado o resíduo ele é ressignificado e retorna ao processo produtivo, seja como matéria prima para indústria ou transformado em novos produtos.

Esse ciclo articulado em rede colaborativa soluciona o problema na mesma proporção em que é gerado, e representa ganhos ambientais e econômicos. Também causa impacto social positivo e intencional, permitindo o trabalho de pessoas em situação de vulnerabilidade social e/ou com opção pela intervenção junto aos resíduos criando produtos para o crescente mercado fair-trade.

A equipe técnica da Ciclo Reverso acompanha o Projeto Ecosouvenir em sua trajetória de 10 anos na reutilização de banners na cidade de Viamão, no RS. A formação da rede permite hoje que cerca de 2 toneladas/mês do resíduo sejam 100% aproveitados, gerando trabalho e renda em todas as etapas e sendo referência de articulação e solução. Após coletados nas empresas parceiras (neste caso várias empresas com o mesmo resíduo) os banners são repassados a dois grupos, uma associação e uma comunidade terapêutica para triagem e beneficiamento dos componentes.

As lonas aptas são repassadas a mais dois grupos comunitários para corte e costura de sacolas (cerca de 500 por mês). O que sobra é transformado em pequenos vasos assinados por alunos do Curso de Design da Unisinos, parceira neste projeto. Os vasos, assim como as sacolas, retornam às empresas geradoras como brindes, evidenciando a ação socioambiental desses com o diferencial impensável se a opção lá atrás tivesse sido pelo aterro. Essa é uma das ações que faz da Ciclo Reverso um Negócio de Impacto Social, reconhecido pelo Sebrae e, presente na formação de redes com parceiros como o SICREDI, CREA-RS, SENGE, SINERGY, UNISINOS, SESC-RS, THYSSEN KRUP e outras empresas que não se restringem a cumprir a lei quando se trata de resíduo, mas valorizam resíduo valorizando vidas.

(Dino, 23/10/2017)