20 set Construções na orla podem ter ampliado estragos da maré alta em Florianópolis, aponta oceanógrafo
A ação do homem nas orlas de praias podem ter ampliado os estragos da maré alta e da ressaca que atingem diversas praias de Florianópolis. A avaliação é do diretor do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), João Luiz Baptista de Carvalho. A situação de diversas praias no norte e no sul da Ilha é tão grave que na segunda-feira, 18, a prefeitura decretou situação de emergência.
De acordo com o oceanógrafo, a condição atual é causada por uma somatória de fatores: maré astronômica, que acontece todos os dias e é influenciada pela Lua, maré meteorológica, que é influenciada pela direção dos ventos, e a ação do homem e suas construções próximas às praias. Quando coincide a maré alta astronômica com a maré alta meteorológica, causada pelo vento Nordeste que “empurra” o mar em direção ao continente, o nível do mar fica mais alto que o normal. Somado a tudo isso há os efeitos do aquecimento global, que têm tornado esses eventos ainda mais extremos.
— Isso (maré alta) sempre aconteceu, o problema é que a ação do homem tem deixado as praias fragilizadas. A mudança climática tem causado eventos mais extremos, mas a gente não pode botar a culpa nisso. É fácil colocar a culpa no aquecimento global, porque é um “sujeito oculto” que tira a nossa responsabilidade — pondera Carvalho.
O oceanógrafo afirma que as construções próximas à orla, como é o caso das casas e do muro de contenção na praia da Armação, no Sul da Ilha, têm um “efeito muito negativo” na deriva litorânea. Essas intervenções humanas podem provocar um efeito dominó nas praias ao redor, alterando sistema natural de erosão e sedimentação das praias. Também é este o entendimento da Defesa Civil Municipal de Florianópolis.
— A urbanização da orla de praia, com certeza, é um dos componentes principais. Onde antes tinha faixa de areia, agora tem um muro. O concreto no lugar das dunas e restingas alteram toda a dinâmica litorânea — afirma o diretor da Defesa Civil de Florianópolis, Luiz Eduardo Machado.
Não há riscos para a Lagoa do Peri
Com o avanço do mar sobre a encosta do Morro das Pedras e do ponto conhecido como Caldeirão, pouco antes do início da praia da Armação, muitos moradores do Sul da Ilha começaram a se preocupar com uma possível salinização da Lagoa do Peri, o que prejudicaria o abastecimento de água potável em toda a região. No entanto, a Defesa Civil de Florianópolis descarta essa possibilidade.
— Não há risco nenhum de contaminação da Lagoa do Peri. A faixa mais suscetível do cordão litorâneo não é no Morro das Pedras. Se o mar romper aquilo ali, imagina o resto das praias… Então, no momento, não há qualquer risco de contaminação — enfatiza Machado.
Ainda de acordo com a Defesa Civil de Florianópolis, a previsão anterior de que a maré alta começasse a recuar nesta quarta-feira mudou. Agora, de acordo com o órgão, a tendência é de que a situação permaneça, pelo menos, até sexta-feira. O órgão afirmar estar monitorando a situação, especialmente da rodovia SC-406, que ontem teve o acostamento interditado.
— Fizemos a interdição do acostamento para evitar acidentes, porque muita gente estava parando ali para ver o mar. Apesar de não haver risco agora, mais cedo ou mais tarde será preciso fazer o recuo de pista, porque algum dia o mar vai atingir a rodovia. Já comunicamos o Deinfra sobre essa possibilidade e estamos monitorando a situação — afirma Machado.
(DC, 19/09/2017)