Florianópolis: o que falta para atrair capital de risco internacional

Florianópolis: o que falta para atrair capital de risco internacional

A capital catarinense tem se destacado no cenário nacional pela maturidade de seu ecossistema de inovação e tecnologia: startups têm cada vez mais acesso a capital de risco, seja por meio de investidores anjo, fundos de venture capital ou mesmo iniciativas como aceleradoras e programas de corporate venture. Casos recentes de startups locais vendidas para grandes empresas (Chaordic, em 2015 e Axado, no ano passado) e aportes vultosos (com os US$ 45 milhões captados pela Neoway neste ano e os US$ 16,2 mi pela Resultados Digitais) evidenciam como iniciativas catarinenses tem se tornado atrativas aos donos do capital.

Mas, ainda que em ascensão, o mercado local continua longe do radar de investidores estrangeiros.

Entre as razões está o desconhecimento, lá fora, do ambiente de inovação regional e, especialmente, as incertezas com relação ao cenário político e econômico do Brasil. Foi o que comentaram alguns investidores internacionais (especialmente dos EUA, Austrália e Nova Zelândia) que estiveram em Florianópolis no início de agosto, em missão do fundo neozelandês Seraph, uma rede global de investidores individuais e family offices que busca oportunidades em diversos continentes. O grupo veio conhecer projetos nas áreas de robótica, inteligência artificial, criptografia e biologia sintética desenvolvidos pelos alunos da nona turma da incubadora de educação em tecnologia Exosphere, que opera na sede da Softplan, uma das empresas pioneiras do setor de TI local, no Sapiens Parque.

No último dia da missão, um grupo de investidores anjo e gestores de venture capital de Florianópolis se encontrou com a comitiva internacional para aproximação e troca de experiências sobre o mercado local de inovação e tecnologia. De ambos os lados, uma certeza: o potencial da região surpreende, mas vai levar tempo, relacionamento e confiança (especialmente em função dos problemas políticos e econômicos do Brasil) para captar o dinheiro que está indo neste momento a outros mercados emergentes, especialmente o sudeste asiático.

“Hoje, o mercado de Santa Catarina está concluindo um ciclo inicial com relação ao capital de risco”, avalia Rodrigo Ventura, da Bzplan

“Onde eu moro, o que ouvimos falar sobre o Brasil é o sobe e desce que a economia vem enfrentando nos últimos anos. Eu particularmente quero aprender mais sobre o mercado brasileiro, criar relacionamento com anjos e fundos de investimento, até para entender questões como a legislação local. Por outro lado, é muito inspirador saber o que está acontecendo aqui – nunca tinha ouvido falar de Florianópolis, gostei muito do ambiente e acredito no potencial de cidades de menor porte para desenvolver empresas inovadoras”, resumiu James Evenson, diretor da Crown Private Limited, empresa que reúne investidores anjo em Portland (EUA) e parceiro da Seraph há três anos – no grupo, já participou de aportes em empresas de tecnologia na China, Mianmar e Casaquistão.

Brandon Zemp, um jovem investidor de Nevada (EUA) interessado em áreas como finanças e tecnologia para saúde, entrou na Seraph no início do ano para conhecer oportunidades de negócios em outros países. “É minha primeira vez no Brasil, mas é incrível ver como o ambiente econômico muda de acordo com cada região. É bom estar aqui pessoalmente e ver o que está acontecendo, de fato me impressionou pela forma como as empresas atuam de maneira conjunta e vêm evoluindo. Mas dentro daquilo que imagino como futuro investimento, o Brasil está longe de onde estou interessado, neste momento”, afirmou.

Parcerias e espaço para crescer

Na visão de Alexandre Ouriques, empreendedor e membro da Rede de Investidores Anjo de Santa Catarina, “apesar de ter muita coisa acontecendo na região, ainda estamos num estágio incipiente”. A RIA, formada pela Anjos do Brasil e a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia, foi criada no início de 2016 e reune 35 associados. ”Nosso grupo de anjos é bem diversificado. Em outros locais, se tem uma startup de agronegócios atrás de dinheiro, eles vão diretamente atrás dos investidores especializados naquela área. Aqui não, ainda está tudo misturado, por isso acredito que tem muito espaço para crescer”, explica.

“Hoje, o mercado de Santa Catarina está concluindo um ciclo inicial com relação ao capital de risco”, avalia Rodrigo Ventura, sócio da gestora de venture capital Bzplan, com fundos ativos na região desde 2011. Uma das startups de seu portfólio, a Axado, desenvolveu uma plataforma para gestão de fretes no e-commerce e, ao ser comprada pelo Mercado Livre por R$ 26 milhões em 2016, gerou um retorno de mais de 400% aos investidores. Foi um dos grandes cases de exit no mercado de venture capital brasileiro.

Em sua avaliação, a bola está agora com os investidores locais, que precisam manter este canal de relacionamento e acioná-los para construir teses de captação internacional. “Eles não virão aqui prospectar e escolher empresas, mas podem estar mais abertos. Se forem colocar recursos aqui, precisarão de parceiros locais, investidores e gestores para definir e acompanhar as empresas nesse ecossistema”, opina.

(SCinova, 08/2017