21 ago Florianópolis, cidade que preserva sutilezas urbanas
Da Coluna de Carlos Damião (Notícias do Dia, 20/08/2017)
Apesar do ritmo de crescimento desenfreado, registrado em especial nos últimos 20 anos, Florianópolis é uma cidade que ainda preserva sutilezas urbanas muito interessantes. O Centro Histórico é um exemplo disso, com suas edificações centenárias, a Praça 15, as igrejas de São Francisco da Penitência, Nossa Senhora do Parto e Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a Catedral Metropolitana, o Mercado Público, a Alfândega, o Palácio Cruz e Sousa, entre outras referências importantes. Os poetas e artistas costumam dizer que nesses cenários resiste um pouco da aldeia que já fomos.
Avançando um pouco, em direção ao Sul da Ilha – pela estrada velha, como dizem os antigos – ainda é possível se surpreender com detalhes de uma cidade tranquila, que aparentemente parou no tempo, por causa de seu perfil urbano menos conturbado e mais tradicional. A menos de dois quilômetros da Praça 15 encontramos um bairro histórico – embora sem patrimônio significativo – cujo nome representa um mistério para os novos moradores e para o público mais jovem. José Mendes é a denominação do lugar, desde o século 18, lembrando a figura de José Mendes dos Reis, um português que era simplesmente o dono de tudo, inclusive da ilha das Vinhas, que fica de frente para a praia. Diz a história que a ilha, de 10 mil metros quadrados, recebeu esse nome porque o dono mantinha ali seus parreirais.
Lugar histórico
Caminho para o Sul da Ilha até a implantação do túnel Antonieta de Barros e da Via Expressa Sul, o bairro José Mendes é pequeno: espalha-se por ruas perpendiculares à principal, José Maria da Luz, entre os bairros da Prainha e do Saco dos Limões. Com cerca de 5 mil habitantes, sua ocupação começou no século 18, quando chegaram à Ilha de Santa Catarina e arredores os imigrantes açorianos que deram início à colonização. Ao longo do século 19 tornou-se uma opção de moradia para famílias de renda mais baixa, em geral ligadas ao comércio e à pesca, atividade que persiste, de forma artesanal.
Mas o José Mendes já teve importância econômica mais destacada, com a instalação, na década de 1960, da fábrica da Coca-Cola, que era administrada por uma empresa chamada Catarinense de Refrigerantes. Desativada há mais de 30 anos, a fábrica passou ao controle de uma empresa do Rio Grande do Sul, que produz a linha de bebidas da Coca no município de Antônio Carlos.
Destaca-se no bairro, ainda, uma edificação que lembra os áureos tempos dos clubes florianopolitanos. Chamado de Penhasco, o prédio tem formato arredondado e oferece aos visitantes uma das vistas mais fascinantes da cidade, talvez a contemplação panorâmica mais bela do pôr do sol. Fica no alto de um ponto da cidade que os mais antigos conhecem como a Curva (ou Volta) do Madalona, logo após o Veleiros da Ilha.
Pequenas praias
Ainda no bairro há um castelinho histórico, das estações elevatórias de esgoto construídas no início do século 20, localizado na Curva do Amadeu, onde começa o bairro seguinte, do Saco dos Limões.
Curiosamente, no passado as pequenas praias do bairro, como a do Curtume (ou Praia do José Mendes) eram frequentadas por banhistas. A poluição da baía Sul, no entanto, tornou o banho de mar proibitivo. O que persiste é a presença de barcos de pesca, abrigados em ranchos ao longo das praias.