Arquitetura social propõe espaços pensados para pessoas

Arquitetura social propõe espaços pensados para pessoas

Criar espaços ajustados à realidade humana, que promovam a interação entre a vida e a forma e que estimulem relações saudáveis entre pessoas e cidades: estes são os pilares da Arquitetura Social. A tendência arquitetônica tira dos projetos o foco em questões estéticas para desenvolver espaços responsáveis, comprometidos com a vida humana e que renovam a conexão com a realidade.

Tema da campanha do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU/SC), a Arquitetura Social é o foco das ações idealizadas para 2017. A entidade vê nos conceitos uma forma de trazer a profissão do arquiteto e urbanista para mais perto do cotidiano e de incentivar o surgimento de projetos que sigam essa linha no Estado.

– A arquitetura social pensa em espaços (edificados ou não) que proporcionam inclusão, acessibilidade, sustentabilidade, respeito aos usuários e universalização de uso e acessos – destaca Everson Martins, porta-voz e conselheiro do CAU/SC.

Seja em pequenos ambientes, seja em grandes cidades, a arquitetura considerando a escala humana vai muito além da estética ao ajudar a moldar a funcionalidade dos espaços, tornando-os extensões úteis e práticas da vida. O espaço urbano é qualificado e as cidades são feitas para serem vividas a partir da rua.

Pautada também pela convicção de que o meio é capaz de moldar o comportamento, a arquitetura social se propõe como uma forma de promover boas relações, de aumentar a qualidade de vida das pessoas e de explorar todo o potencial transformador da boa arquitetura e do urbanismo. Em Santa Catarina, dois projetos se destacam por estimular a interação das pessoas com a cidade e por permitir relações mais fluidas que resultam na melhoria da qualidade de vida e, por consequência, da felicidade.

Desenvolvido pelos arquitetos Evandro Andrade e César Floriano – que também é professor da UFSC – como parte de um projeto de extensão do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade, o edifício da AMOSC (Associação dos Moradores do Sertão do Córrego Grande) foi projetado para ocupar apenas 10% de um terreno com seis mil metros quadrados. Articulado no conceito de “edifício praça”, o pavilhão possui dois pavimentos: um deles é um salão multiuso para eventos da comunidade e o outro é um ambiente para oficinas, com salas de aula e biblioteca. O restante do terreno é aberto, destinado a atividades de cultura e lazer público.

– É um edifício que preza pela unidade com o espaço público ao seu redor. O que o diferencia dos demais é a qualidade da sua construção. Ele é todo feito em aço, madeira e concreto, o que facilita a manutenção. Além disso, é um prédio que desenha a paisagem e que ajudou a configurá-la em uma área que estava degradada, inserindo um equipamento de alta qualidade social no seu contexto – conta o arquiteto e professor César Floriano.

O prédio da AMOSC é um modelo de construção que conversa com o ambiente, é útil na sua região e se destaca por harmonizar com o espaço ao seu redor.

– O terreno que estava com pouco uso recebeu uma edificação que hoje é referência para todos, não só na comunidade, mas também na cidade como um todo. O prédio é exemplo de uma boa arquitetura: responsável e sustentável, usa luz e ventilação naturais, dialoga perfeitamente com seu entorno e tem na simplicidade sua grande força – destaca Everson Martins.

O prédio recebe oficinas para a comunidade, aulas de dança, festas e confraternizações e colabora para a vida social do local, valorizando o bairro e a qualidade de vida de seus moradores. Entre os destaques estão também um palco que se abre tanto para dentro quanto para fora, uma fonte de água na parte externa que valoriza o espaço, jardins, área verde, parquinho infantil e quadras esportivas.

Outro exemplo de uso positivo para uma área que estava esquecida, o parque da Beira-rio de Itajaí passou por um processo de revitalização. O projeto de reurbanização, assinado pelo arquiteto Fabian Zago, foi um investimento da prefeitura do município com o objetivo de oferecer mais um espaço de lazer na cidade, levando em conta as necessidades das pessoas e as implicações da revitalização no meio ambiente.

– A Beira-rio de Itajaí era um espaço que estava esquecido pelo poder público. Não existia um cuidado especial com ele. Porém, a demanda da sociedade somada ao desejo do poder público de mudança revitalizaram este trecho, trazendo um desenho contemporâneo e mobiliário urbano adequado – explica o conselheiro da CAU Everson Martins.

O projeto deu certo e, hoje, o parque linear é frequentado constante e intensamente pela comunidade. A consequência disso foi a valorização do local, que o tornou também um ponto adequado para novos empreendimentos se instalarem e melhorarem ainda mais a infraestrutura da região.

– Basta passear pela área num domingo e veremos a pessoas usufruindo de um ótimo projeto urbano em uma antiga área que estava esquecida e subutilizada, casais levando seus filhos para viver a cidade, passeando com animais de estimação, pessoas andando de bicicleta, correndo, caminhando – relata Martins.

A requalificação de espaços públicos tem uma extrema relevância na vida das pessoas. Espaços que atendam crianças, jovens, adultos e idosos geram uma mudança positiva no dia a dia e na saúde da comunidade. Ambos os locais, depois de revitalizados, se tornaram pontos de encontro, espaços de lazer e interação das famílias e até mesmo locais de experiências com o meio ambiente e natureza.

A recuperação de áreas degradadas coloca a arquitetura no centro da vida das pessoas. Um local renovado passa de insalubre a um espaço que promove o bem-estar e oportuniza uma melhoria expressiva na qualidade de vida. Além disso, o investimento em ações de arquitetura social estimula o comércio da região e gera novos pontos atrativos ao setor turístico.

Para cidades, planejadores, arquitetos e urbanistas, a arquitetura social se apresenta como uma oportunidade de criar espaços que valorizam qualquer área urbana e que contribuem para uma vida melhor. Por outro lado, também desafia profissionais a criarem espaços cada vez mais adequados para estimular boas relações entre as pessoas, mas que traz recompensas de muito valor.

(G1sc, 22/08/2017)

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