Local que era usado como depósito de lixo vira horta no Norte de Florianópolis

Local que era usado como depósito de lixo vira horta no Norte de Florianópolis

Um grupo de artistas lançou um olhar novo para o entulho abandonado no trecho sem asfalto da Servidão Fermino Severino Sagaz, no bairro Ingleses, no Norte de Florianópolis. Cansados de conviver com o despejo irregular de lixo e restos de construção, resolveram por conta própria unir esforços para iniciar a revitalização do local com uma horta, o Canteiro Sagaz.

A prática, de atitude em favor ao meio ambiente, combina conhecimentos da permacultura com métodos da jardinagem de guerrilha, e integra a série de reportagens SC+.

A iniciativa partiu do coletivo itinerante Observatório Móvel, que envolve pessoas interessadas em pensar o uso do espaço público e a ação direta na cidade por meio da intervenção artística. O grupo é formado por Bruna Maresch, de 30 anos, Juliano Ventura, 28, Nara Milioli, 57, Rodrigo Brum, 29, além de outros colaboradores, que participam como voluntários.

“Utilizamos espaços ociosos para a resselvagização do entorno, proporcionando condições para a diversidade de culturas e a restauração de habitats. Essa experiência de cultivo propõe a recuperação do solo e a transformação do local que até então se mantinha como depósito de lixo e de entulho”, afirma Juliano.

O pequeno espaço, que fica ao lado do Núcleo de Educação Infantil Ingleses, começou a ser modificado em janeiro de 2016, quando o grupo delimitou a área com tela de galinheiro e estacas. Antes de iniciar o plantio, parte do material abandonado e restos de construção foram separadas e reutilizadas. Depois, o canteiro recebeu terra, podas de jardins, resíduos orgânicos domésticos, mudas, e, sementes, que foram consumidas pelos próprios vizinhos.

“Com poucos recursos financeiros e em pouco tempo, o muro da creche se transformou em uma fonte de temperos, ervas medicinais e alimentos, além de ser um espaço agradável para a socialização da comunidade. O cuidado do canteiro aponta para possibilidades diversas de convivência entre o solo, as plantas, a fauna e moradores”, explica.

Segundo Juliano, a resposta de revitalização reflete na ampliação da horta, que dispõe de diversas hortaliças, legumes e verduras, bem como no envolvimento da vizinhança por meio de conversas e informativos impressos. No entanto, a iniciativa também encontra resistências.

“Alguns vizinhos se interessam e plantam mudas e levam materiais orgânicos para a compostagem. Mas, precisamos lidar com problemas como a falta de saneamento evidenciada pela fossa de um dos prédios que frequentemente escorre pela rua. Isso é um dos exemplos que acaba dificultando o engajamento das pessoas com o lugar onde vivem ou por onde transitam. Além disso, ocorre reclamação de que o canteiro atrapalha porque ocupa o espaço dos carros”, explica.

 Mesmo assim, o projeto caminha a passos singelos, buscando restabelecer uma ligação física de natureza entre o ambiente urbano, assim como proposta de transformação do espaço em um ponto de encontro e de trocas de vivências.

“Acreditamos que as adversidades são também o que impulsiona a continuidade e a própria existência do canteiro, já que o projeto surgiu como dispositivo para criar outra possibilidade de uso e de relação com a nossa rua”, conclui. Da experiência do projeto, foi criado o livro Manual de Guerreio, que reúne práticas desenvolvidas e também dicas do uso dos alimentos cultivados no local.

Serviço:
Canteiro Sagaz
Início das atividades: janeiro de 2016
Sede: Florianópolis
Contato: observatoriomovel@gmail.com
Informações no site

 (G1, 12/07/2017)