10 maio Abandono do trapiche de Coqueiros, em Florianópolis, causa insegurança a moradores da região
Os manezinhos mais antigos da Capital lembram-se bem. Coqueiros, conta o empresário Dalton Malucelli Júnior, 56 — morador do Continente há mais de 40 anos — era a Copacabana catarinense. Na década de 70, a região era point da galera mais descolada, até porque ir para o norte da Ilha, sem a via asfaltada, era um verdadeiro desafio.
— A vida de Floripa acontecia aqui — resume Dalton.
Na praia da Saudade, no mesmo bairro, o trapiche que um dia levou moradores e turistas para ao restaurante Arrastão, muito popular na década de 70, está completamente deteriorado. Em frente, aponta Dalton, está o trampolim para os banhistas caírem na água, “coisa única na região” e que hoje, assim como o trapiche, está abandonado e sem possibilidade de uso. Também não há placas avisando aos banhistas para não usarem a estrutura.
— A região continental de Florianópolis está num processo de queda, de cada vez mais esquecimento por parte do poder público. E o trapiche é um exemplo — avalia o empresário.
O espaço, situado no final da Rua Vereador José do Vale Pereira, está interditado desde 2014, após uma recomendação do Ministério Público. O presidente da associação de moradores Pró-Coqueiros, Rodrigo Alves Ferreira, acredita que o abandono, no entanto, ocorre há mais de quatro anos.
Na época, até foram colocadas placas de metal e tapumes para as pessoas não passarem para o trapiche. Atualmente, parte delas foi retirada e alguns moradores de rua e usuários de drogas se arriscam para irem até o local. O empresário Alexandre Soares, 35, que frequenta o bairro há 12 anos, afirma que não se trata somente de pessoas em situação de vulnerabilidade.
— O trapiche é usado como espaço para consumo de drogas por pessoas de todas as idades e classes sociais. Todo mundo vai ali porque sabe que não acontece nada — avisa.
Ele sugere, como medida emergencial, a instalação de uma câmera de monitoramento para inibir ao menos o consumo de droga, enquanto uma obra não for realizada. A falta de segurança motivou a direção do Colégio Visão, que fica ao lado, a pedir apoio da Secretaria Municipal de Segurança para mais rondas na região.
Segundo a secretária e responsável pela Guarda Municipal, Maryanne Mattos, rondas no trapiche passarão a ser mais frequentes já a partir de hoje. Disse ainda para a população denunciar ao 153 qualquer situação criminal.
Nova estrutura
A associação Pró-Coqueiros tenta dialogar com a prefeitura há anos para dar uma finalidade ao trapiche da praia da Saudade. Para o presidente Rodrigo Ferreira, reformar a estrutura e não “levá-la a lugar nenhum” talvez não resolva o problema. Mesmo revitalizado, o trapiche poderia ser mantido como espaço para consumo de drogas.
Uma possibilidade que agrada os moradores, complementou o presidente, é uma parceria público-privada para que algum restaurante ou outro comércio assuma o espaço e o transforme novamente em ponto turístico. Um concurso para uma obra arquitetônica é sugestão da associação.
— Depois que o restaurante Arrastão foi fechado, até fizeram uma pracinha no fim do trapiche, Mas foi justo o período que mais jogaram esgoto no mar e por causa do mau-cheiro, ninguém ia para o local. A reforma precisaria vir acompanhada de uma revitalização total da região — avalia o presidente.
De acordo com o secretário municipal do Continente, Edinho Lemos, há uma recomendação, ainda de 2014, feita pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e pela Defesa Civil do município para a demolição do trapiche.
— Estamos viabilizando uma proposta para apresentar ao prefeito de uma possível reforma através de uma PPP (parceria público-privada), para a revitalização do espaço. Caso aprovado, o projeto será acompanhado e tocado junto ao Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) — explicou o secretário.
Edinho espera apresentar a ideia em 30 dias. Um projeto de 2014, contou, previa uma obra de revitalização no valor de R$ 1,5 milhão. Novos estudos estão sendo feitos para avaliar orçamentos e todas as necessidades da região.
(Diário Catarinense, 10/05/2017)