16 dez Casan e Fatma garantem que saneamento básico evoluiu e prometem um cenário melhor
A mancha do saneamento na última temporada de verão forçou os órgãos envolvidos no tema em Santa Catarina a se mobilizarem. Depois de o esgoto invadir praias no litoral catarinense e o assunto ganhar repercussão em outros países, a Companhia de Água e Saneamento (Casan), a Fundação de Meio Ambiente do Estado (Fatma) e prefeituras dizem ter agido para evitar uma repetição das cenas lamentáveis do começo de 2016.
No último programa da série de Olho no Verão, saneamento e balneabilidade foram os pontos centrais. O presidente da Fatma, Alexandre Waltrick, e o técnico da Gerência de Meio Ambiente da Casan, Alexandre Trevisan, mostraram-se otimistas para a próxima temporada. Ambos disseram que iniciativas foram tomadas e que não esperam pelos mesmos problemas de saneamento em 2016/2017.
— Acredito que esse ano será muito melhor do que o ano passado, não tenho dúvida — garantiu Waltrick.
Para Trevisan, as ações feitas em Canasvieiras, onde a água do Rio do Braz transbordou e deixou a maioria dos pontos da praia impróprios para banho no começo de janeiro deste ano, vão surtir efeito.
— O foco é escolher e identificar pontos emblemáticos como foi o ponto do Rio do Braz. Para recuperar a nossa autoestima é importante que este ponto seja melhor do que no ano passado.
Entre as medidas tomadas pelo órgãos estão os testes de fumaça, que verificaram onde há ligações irregulares na rede de esgoto. Além disso, Trevisan destaca a ampliação da capacidade de tratamento e transporte dos efluentes. Em dezembro, passará a funcionar a ampliação da estação de tratamento de esgoto de Canasveiras. Também na região Norte, a Casan promete iniciar no começo de 2017 a obra de implantação da estação dos Ingleses.
— O que a gente percebe é uma forte relação entre o processo de urbanização e as questões que envolvem a balneabilidade das praias. Locais que mantém áreas de restinga e preservação sofrem menos pressão urbana — explicou o técnico.
Sobre as condições de praias, nos primeiros dias de janeiro deste ano, 36% dos pontos analisados pela Fatma estavam impróprios para banho. Nos primeiros levantamentos feitos nos últimos dias, o índice caiu para 20%. No entanto, isso ocorre pela pequena presença de pessoas nas praias e nas residências. Waltrick espera que nesta temporada, diante das ações dos órgãos envolvidos, as condições melhorem e não ocorram aumentos consideráveis como no último verão.
Entrevista
Alexandre Waltrick, presidente da Fatma
Há 40 anos a Fatma faz esse levantamento da balneabilidade. Qual é a efetividade, como funciona a comunicação entre os órgãos envolvidos?
Primeiro, a Fatma é o segundo que mais faz coletas, perdemos apenas para o Rio de Janeiro. A efetividade é informar o turista, dar a opção. O turista que vem para o nosso Estado pode conhecer várias praias, a gente dá essa opção. Segundo ponto, que talvez seja o principal, é a saúde pública. A divulgação serve para dizer para a pessoa não tomar banho naquela água porque ela não está boa naquele dia. Temos que tomar cuidados para que não haja as doenças recorrentes no verão. E o terceiro ponto é que com esses números os órgãos púbicos usem nossos números para tratar de pontos específicos onde deve fazer melhorias. A Fatma cumpre um papel social de publicidade, não fazemos as obras, como gosto sempre de frisar.
Os relatórios divulgados neste mês são positivos. Porém, viemos de um período sem pessoas nas praias e movimento nas residências. Na temporada passada, quando os pontos deveriam estar próprios, tivemos um cenário negativo. Porque isso acontece?
O correto não seria ter índices bons em todos os períodos?São vários fatores. Ano passado tivemos período de chuvas na temporada de verão, principalmente na verão do ano. E isso afeta. Choveu demais, nossas estações não são dimensionadas para receber água de chuva. E dá essa variação sim. Lógico que com a temporada o fluxo de pessoas, vai haver um aumento normal no descarte de efluentes e por, consequência, alguns problemas vão surgir. Mas o que a gente percebe é que o poder público vem o fazendo o que precisa ser feito. E aqui a gente fala como licenciador, que é um dos papéis da Fatma. No Estado todo foram vários empreendimentos licenciados. A gente tem certeza que isso vai diminuir. Não podemos esquecer que vamos resolver o problema de balneabilidade. Esse é um problema histórico que vai ser resolvido em dois, três anos.
Em relação ao problema do Rio do Braz, em Canasvieiras, a Fatma atuou os envolvidos?
Temos as autuações normais que a própria prefeitura e Casan tem que responder. Existe um procedimento administrativo. O final em um órgão ambiental nunca tem como intenção dar a multa. Ela não vai resolver. Ela é uma forma de dizer que foi feito errado e que o envolvido será punido. Mas a multa serve como indicativo de que o problema será resolvido. Os procedimentos tramitam, existem o rigorismo jurídico que é inerente aos processos regimentais no país.
Mais um verão como o passado não pode manchar, literalmente, ainda mais a nossa imagem?
Pode, e para isso que a gente trabalha para que não aconteça. Mas volto a insistir, balneabilidade, mesmo que o resultado seja negativo, é positivo do ponto de vista de saber que existe o problema e tem que ser resolvido. O poder público fez as suas ações, a Casan tomou suas providências. A gente não acredita que vai ter o que foi o ano passado.
Alexandre Trevisan, técnico da Gerência de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Casan
Sobre o Rio do Braz, em Canasvieiras, como a Casan agiu durante o ano e o que espera para esta temporada?
A questão do Rio do Braz sensibilizou o nosso corpo técnico porque colocou todo nosso trabalho focalizado em um só lugar. É importante a gente dar resposta específica nesse local para mostrar que a gente também atua em outros lugares e também consegue resultados específicos. Agora os problemas de balneabilidade identificados no Rio do Braz tem muito pouco a ver com a operação da Casan na região. Eles são mais reflexo da infraestrutura urbana total que não é adequada. Em especial, naquela região, do sistema de drenagem. O sistema lá se confunde muito com o sistema de esgoto. Então o sistema de esgoto fica totalmente cheio em épocas de chuva e o sistema de drenagem fica contaminado em épocas de estiagem. Foi feito um planejamento para fazer uma varredura para cessar essas interligações, e essa redução de carga se espera nesse ano.
A gente pode garantir que não haverá o mesmo problema do ano passado, que as pessoas poderão frequentar Canasvieiras?
A gente tem que ter uma perspectiva de melhoria e hoje ela é real. Esse ano com certeza será melhor que o ano passado. Precisamos ter essa perspectiva de longo prazo. Agora isso não é só infraestrutura pública. É associado também ao processo de urbanização e apropriação das pessoas daquele espaço. Todo mundo que mora ali precisa usar os equipamentos públicos de forma correta. O único sistema público que se propõe a dar algum tipo de melhoria ambiental na condição das praias de Canasvieiras é o sistema de esgotamento sanitário. É o único que existe lá e a gente precisa usar ele da forma correta.
Quais foram as mudanças em Canasvieiras?
Basicamente foi uma ampliação de toda a capacidade de transporte e tratamento do sistema, admitindo-se já uma condição instalada que precisa ser consertada ao longo tempo. O nosso sistema lá admite lá água de chuva. Fizemos uma avaliação e redimensionamos parte desse sistema para que em situações de chuva intensa a gente consiga fazer com que não extravase para a beira da praia, vá para a estação de tratamento e volte para o meio ambiente numa condição muito melhor do que é bruto.
Com investimentos feitos em Canasvieiras desde o começo do ano, o risco de ocorrer o mesmo que o ano passado diminuiu?
Na minha avaliação, diminuiu muito. Foram focadas na relação entre o sistema de esgotamento sanitário e balneabilidade, no caso de Canasvieiras. Não só da Casan, aí temos que chamar os parceiros como a prefeitura, a Fatma, a Floram, a Secretaria de Obras do município, as polícias rodoviárias e a Guarda Municipal. Teve toda uma sensibilização do problema.
(DC, 15/12/2016)