05 out De Eike Batista à desistência de reeleição: a novela até a abertura do Jardim Botânico de Florianópolis
A inauguração do Jardim Botânico de Florianópolis, no último dia 24, voltou a ser mencionada pelo prefeito Cesar Souza Junior (PSD) como um compromisso de gestão que não teria se concretizado caso ele estivesse em campanha.
Em julho, o prefeito já havia destacado que a cessão da área do parque para a Comcap talvez só tivesse sido possível por ter desistido da candidatura à reeleição. Do contrário, falou o prefeito, haveria muita pressão eleitoral. Ele anunciou a desistência em junho e, no mês seguinte, finalmente foi firmado o termo de cessão de uso para que a área da Epagri passasse a ser gerenciada pela Comcap.
Mas os capítulos anteriores à abertura do Jardim Botânico formam uma novela de longa data, inclusive com a participação de Cesar Souza Junior ainda na condição de deputado e secretário municipal. As intenções de transformar o espaço em um parque ganharam força há cerca de duas décadas, quando o lixão que existia no local já estava desativado.
Propostas concretas, no entanto, só passaram a ser discutidas com ênfase a partir de 2007. Na época deputado estadual, Cesar Souza Junior liderou uma mobilização para que a área fosse preservada. Por força de uma lei apresentada pelo então deputado, o terreno no bairro Itacorubi não foi vendido e teve como destinação exclusiva a criação da área ambiental.
Em 2009, entra em cena Eike Batista
Os anos seguintes foram marcados por projetos grandiosos para aquele mesmo espaço. Em 2009, entrava em cena o (hoje ex) bilionário Eike Batista. Ele anunciou o plano de aplicar R$ 20 milhões no projeto do Jardim Botânico. A verba entraria como compensação pela instalação do estaleiro OSX em Biguaçu.
Eram previstas três estações: manguezal do Itacorubi, Cidade das Abelhas e Sapiens Parque. Como se sabe, a intenção de construção do estaleiro não vingou. Os milhões de Eike para o Jardim Botânico também ficaram só na intenção. Em 2011, a promessa de investimento milionário já era tratada como lenda. Só em 2014, com planos mais modestos, foi assinada a ordem de serviço para a execução de parte das obras pelo Estado.
Em 2015, o prefeito Cesar Souza Junior conseguiu a garantia de que o Estado repassaria a gestão do espaço para o município. O termo foi firmado no último mês de julho e a Comcap assumiu a gestão.
Presidente da Comcap destaca participação da iniciativa privada
O presidente da Comcap, Marius Bragnati, prefere não especular se a realidade do Jardim Botânico seria outra caso o prefeito Cesar Souza Junior estivesse em campanha. Procurado pela reportagem, o presidente destacou que o município tinha o cuidado de não investir na área porque o terreno ainda está vinculado a uma ação trabalhista. Assim, a gestão municipal poderia ser penalizada pelo Tribunal de Contas se a área fosse vendida para pagar ações trabalhistas.
A solução, aponta Bragnati, veio com a transferência de equipes de trabalho.
—A prefeitura tinha interesse, mas existia a restrição. O que nós pensamos? Em transferir para ali nosso pessoal da área de educação ambiental, algo que não precisa de investimento. Simplesmente uma transferência de local de trabalho. Diante dessa manifestação, o prefeito assinou com o presidente da Epagri o termo de cooperação que possibilitou iniciar os trabalhos — afirma.
Ainda segundo o presidente da Comcap, doações de madeira, grama, material esportivo e outras intervenções da iniciativa privada foram fundamentais para finalmente abrir as portas do Jardim Botânico.
LINHA DO TEMPO
Dezembro de 2007
É lançada a pedra fundamental do Jardim Botânico de Florianópolis. Meses antes, o então deputado Cesar Souza Junior apresentou um projeto, aprovado pela Assembleia Legislativa, garantindo a manutenção da área no Itacorubi como pública.
Setembro de 2009
O então bilionário Eike Batista anunciou que pretendia aplicar R$ 20 milhões no Jardim Botânico de Florianópolis como parte de um projeto grandioso.
Maio de 2010
A primeira versão do projeto para o Jardim Botânico de Florianópolis é apresentada. O trabalho foi desenvolvido por quatro escritórios de arquitetura e um de meio ambiente contratados pela empresa EBX, do empresário Eike Batista, num investimento de cerca de R$ 500 mil.
Outubro de 2011
Dez meses depois de ter desistido de instalar um estaleiro da empresa OSX em Biguaçu, o Grupo EBX, do bilionário Eike Batista, limitava- se a dizer que estudava a possibilidade de investir no Jardim Botânico.
Março de 2014
É assinada a ordem de serviço para a execução de parte da obra pelo Governo do Estado, mas o projeto é mais modesto.
Março de 2015
Ainda sem previsão de inauguração, o prefeito Cesar Souza Junior anuncia que vai pedir ao governo do Estado a cessão, ao município, da área onde deve ser implantado o Jardim Botânico de Florianópolis.
Abril de 2015
A prefeitura recebe aceno positivo de que poderá gerenciar a área no Itacorubi. A intenção era inaugurar parte da estrutura ainda em 2015.
Agosto de 2015
Aberto processo para a construção da cerca que divide o terreno da área de treinamento da Epagri e demolição de um galpão.
Abril de 2016
Mais um processo de licitação é aberto, desta vez para contemplar o projeto do portal de entrada ao terreno, projeto paisagístico, iluminação e reforma de uma casa.
Junho de 2016
Epagri, prefeitura e Comcap encaminham o termo de cessão de uso do espaço com promessa de abertura da área em 90 dias, com uma infraestrutura mínima.
Julho de 2016
É assinada a cessão da área da a Epagri para a Comcap.
24 de setembro de 2016
Após a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) assumir a gestão do Jardim Botânico e realizar as modificações necessárias para a abertura, o espaço é inaugurado.
(DC, 04/10/2016)