13 maio Ponte Hercílio Luz: uma senhora nonagenária
Desde os tempos do Desterro, nome trocado por Florianópolis em 1894, a capital de Santa Catarina vinha pedindo a construção de uma ponte que substituísse os batelões e baleeiras na travessia entre Ilha e Continente. Na década de 1860, o porto já dava ocupação, direta ou indiretamente, a 16% dos moradores, e pouco depois começaram as melhorias urbanas que alteraram o perfil da cidade. Com o século 20 vieram as obras de saneamento, o alargamento das ruas e a iluminação pública. Foi Hercílio Luz, engenheiro que já governara o Estado anteriormente, quem bancou a proposta de integrar definitivamente a Capital à “terra firme” por uma estrutura de ferro que ficou pronta em 1926 – e que completa 90 anos nesta sexta-feira, 13 de maio.
A ponte Hercílio Luz deve ser devolvida à cidade, em condições de receber veículos, no primeiro semestre de 2018, mas desde 1982 – mais de um terço de sua existência, portanto – ela é pouco mais que um objeto em tamanho gigante que pode ser visto de diferentes lugares pelos nativos e visitantes da Ilha. Há uma divisão entre os que defendem a recuperação da estrutura e aqueles que criticam o excesso de gastos – já foram R$ 200 milhões, e outros R$ 263 milhões estão previstos até o final dos trabalhos – para um retorno que consideram modesto, do ponto de vista da mobilidade urbana. Para o governo, no entanto, a única alternativa discutida é a reforma da ponte.
Essa longa e atribulada história teve início, na prática, em 1919, com o primeiro financiamento tomado pelo Estado, no valor de 20 contos de réis (em torno de US$ 5 milhões), para executar a obra e tocar outros projetos rodoviários. A estrutura foi erguida entre novembro de 1922 e maio de 1926 – ou seja, em menos de quatro anos. Na época, a cidade tinha 40 mil habitantes e corria o risco de perder a condição de capital para Lages, no Planalto Serrano. Com 821 metros de extensão, a ponte trazia a novidade de não ser sustentada por cabos, mas por barras de olhal de alta tensão – uma delas é que apresentou problemas e provocou o fechamento definitivo, em 1991.
Obra ousada de engenharia
O governador Hercílio Luz não viu a ponte que levou seu nome ser inaugurada, porque morreu em outubro de 1924. Uma miniatura de madeira foi usada para a entrega simbólica da obra, entre o bar Miramar e a praça 15 de novembro, alguns dias antes de sua morte. A história da montagem da estrutura está nos jornais da época e em livros sobre a ponte, e revela a ousadia dos engenheiros americanos Robinson e Steinman, que projetaram e comandaram a execução da obra, e dos profissionais que vieram dos Estados Unidos para erguer o gigante de ferro e aço.
A alta tecnologia utilizada, com os módulos da estrutura pênsil e as quatro barras de olhal, é vista por especialistas como a causa da resistência da ponte. Em 1967, uma estrutura similar sobre o rio Ohio, nos Estados Unidos, cedeu ao peso do tráfego pesado porque só tinha dois módulos de sustentação e um deles se rompeu. No caso de Hercílio Luz, restou uma dívida que equivalia ao custo de três pontes, porque o Estado assumiu o prejuízo da falência do banco que fez o financiamento pioneiro, em 1919. O débito com os americanos só foi saldado em 1978, ou seja, 52 anos após a inauguração da ponte. Um dia após a entrega, começou a cobrança de pedágio, com custo diferenciado para veículos, bois e pedestres.
(Leia na íntegra em Notícias do Dia Online, 13/05/2016)