15 abr Ciclistas falam sobre o medo de pedalar em Florianópolis
Na madrugada de 24 de janeiro, a auxiliar de cozinha Simoni Bridi, de 28 anos, voltava para casa com sua bicicleta após mais uma jornada de trabalho, quando sua vida foi interrompida por um motorista que a atropelou no acostamento da SC-401, em Canasvieiras, no Norte da Ilha, e fugiu na sequência. Mãe de dois filhos, Simoni passou a fazer parte de uma estatística trágica e crescente na Grande Florianópolis: a da morte de ciclistas.
Em 2015, outros três morreram apenas nas rodovias estaduais de Florianópolis, e três nas rodovias federais que cortam a Região Metropolitana. Os números alarmantes trazem à tona um problema latente que continua sem espaço entre as prioridades do poder público, que é a falta de infraestrutura viária para todos os cidadãos, não apenas para os que possuem carro.
Por ser um meio de transporte democrático, a bicicleta emerge como uma ferramenta de locomoção cada vez mais utilizada, com perfis de usuários que vão do atleta às pessoas que a utilizam para seus afazeres diários. O crescimento ocorre porque, além das dificuldades de se comprar e manter um automóvel, o transporte público na Região Metropolitana de Florianópolis não aparece como uma alternativa atrativa, tanto pela falta de opções de horários, integrações e trajetos, quanto pela superlotação e valor alto da passagem.
Nesse cenário, todos os dias milhares de pessoas se aventuram por vias projetadas apenas para carros, em que falta até mesmo o básico da infraestrutura urbana: calçadas. “Somos uma das piores cidades do planeta no quesito mobilidade urbana. Lembrando que mobilidade urbana não são mais ou menos congestionamentos, mas o cidadão poder se deslocar 24 horas e sete dias da semana sem ter que ser proprietário de um carro”, aponta o biólogo Daniel de Araújo Costa, ciclista e integrante da Bicicletada Floripa, Viaciclo, entre outros grupos de pedal na Grande Florianópolis.
Segundo o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), um levantamento de 2015 aponta que as rotas cicloviárias de Florianópolis somam 58,75 km – a área territorial da capital catarinense tem mais de 600 km². Outro detalhe é que os escassos espaços para ciclistas são desconectados em sua maioria, sendo necessário transitar nas vias junto aos carros. Nesse contexto, surgem outros problemas ainda mais agravantes, que é a falta de respeito dos motoristas e a impunidade em relação aos crimes de trânsito.
Os embates para as ciclovias
Ruas estreitas e dificuldade nas desapropriações estão entre os principais argumentos apontados pelos órgãos competentes para a criação de novas ciclovias. “Ocupações historicamente irregulares do solo de Florianópolis levaram a vias com dimensões muito restritas, o que resulta em uma falta de espaço para atendimento satisfatório dos modos de transporte. Outro fator é a existência de rodovias estaduais e federais cortando o município, que não competem à prefeitura municipal, o que acarreta numa dificuldade de gestão destes espaços”, justificou Vanessa Pereira, superintendente do Ipuf.
Diretor de Obras do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), Adalberto de Souza também cita a falta de espaço. “Falta largura, o que se faz necessário várias desapropriações, sendo que a SC-401, em toda sua extensão, virou área comercial, com elevado valor de desapropriações”, disse o engenheiro. A rodovia em questão é considerada uma das vias mais perigosas para se pedalar em Florianópolis, com ciclofaixa precária e que desobedece as normas básicas, além de possuir diversas interrupções abruptas.
Leia na íntegra em Notícias do Dia Online, 15/04/2016.